Vulcano Ultra Trail 2014 (VUT)
A subida do km vertical me matou, mais de duas horas de inclinação feroz e constante encarando o vulcão de frente para somar 8km à prova, já não era início nem tampouco o final, faltavam 12km ainda. O Lago todos los Santos junto com outros vulcões e montanhas nevadas me rodeavam, mas era preciso parar para olhar, pois a descida foi tão violenta para as pernas trêmulas que não permitia desatenção ou contemplação, só agilidade e força. Os 35km me tomaram mais de 5hs e depois disso, sem que houvéssemos combinado, todos diziam – foi dura, mas linda.
A prova de 35km começou as 9hs, saímos de Puerto Varas às 6:45 de ônibus para chegar ao Parque Nacional Vicente Pérez Rosales, o mais antigo do Chile, uma hora depois. Como já tinha quase tudo pronto pude ver passar a turma que já corria as provas de 80 e 64km, iniciadas às 3 e às 6 da manhã respectivamente, passavam a passos lentos bordeando o lago, que mais parecia praia de areia fina e escura, na verdade eram pedras vulcânicas que um dia desceram do vulcão Osorno 2600m acima.
Comecei forte, pois sabia que alguns trechos eram mais difíceis e seria difícil ultrapassar os mais lentos, a câmera estava no bolso da mochila, pretendia usá-la em pontos relevantes de beleza ou dificuldade, tracei na cabeça que seria uma prova de 23km, ponto de retorno da subida, a partir dai seria só descida e sabia que suportaria mesmo cansado, por isso forcei o ritmo para uma prova curta, aos poucos fui percebendo que a todo instante tinha que tirar a máquina para mostrar o que acontecia e por onde eu passava, flores, bosques, trilhas estreitas, descidas, subidas, tudo e mais um pouco, terreno de difícil progressão, no km 5 e 6 subia por um rio seco chamado de quebrada jurásica, com grandes pedras e desníveis que exigiam o uso das mãos como apoio, o ritmo caiu bastante e de repente via o lago e as montanhas, outra vez tiro a câmera e começo a mostrar, fazia mais calor do que imaginei, mas ainda tinha que subir o km vertical na segunda metade da prova e esperava por mais frio, continuei correndo no meu limite, mas a corrida, na sua parte “mais fácil” se mostrava um verdadeiro desafio de trail running, com todo tipo de percurso, só faltou chover ou nevar para complicar mais.
Era a minha vez de bordear o lago e ser observado pela turma que faria 15km e largaria em poucos minutos, passei pelo ponto de abastecimento, carreguei de água, comi uns frutos secos e parti para a parte mais difícil, sem aspas. Já cansado, mais pesado pela água na mochila, correndo na areia e na subida, a impressão era de não sair do lugar, aos poucos o terreno foi mudando e a inclinação aumentando, em certo trecho subia em pedras enormes e por sorte, nesse dia, secas e aderentes. O topo do vulcão aparecia entre as nuvens e bem antes delas, mas ainda assim bem pequenos, outros corredores, a câmera saiu do bolso várias vezes, podia ver o lago e as montanhas cada vez mais do alto, corredores pequeninos lá no alto e corredores pequeninos lá embaixo, com quase 4hs de prova, sendo duas delas só para subir 8km e alcançar os 1170m.
Cheguei ao ponto de retorno, checaram meu número e comecei a descer, pensei que poderia fazer boas imagens da descida com o vulcão ao fundo e o lago a frente, mas me surpreendeu o grau de dificuldade do terreno, com pedras soltas e uma inclinação que nunca havia corrido antes, em determinado trecho descia forte e percebi que não conseguia frear e minha velocidade aumentava cada vez mais a ponto de não saber o que fazer nos próximos passos, até que um ponto de elevação apareceu e consegui parar, fiquei mais ligado e com a adrenalina a mil, queria mais, queria chegar nos corredores a frente, saber que eu podia descer bem apesar do cansaço, segui firme, as pedras entrando no tênis e eu lembrando das polainas que ficaram em casa,
passei o tapete, tomei água, comi frutos secos, parei, tirei as pedras, a partir daí eram mais 5km planos, cada vez mais perto da entrada do parque e por onde pessoas passam, já não era mais as trilhas recém marcadas pelos corredores, voltava a parecer areia da praia que segurava, mas a mente fazia o corpo correr até o fim.
Cheguei deslumbrado com o que 7 amigos conseguiram organizar após voltarem de uma prova legal que haviam corrido, numa conversa de bar tiveram a ideia de organizar uma prova no quintal de casa e assim nasceu a VUT, e com apenas 2 aninhos atingiram o número estabelecido pelo parque de mil corredores e foi uma das melhores e mais difíceis provas de trail running que já fiz, já levando em conta, organização, cidade sede, percurso e visual. Foi uma corrida de corredores para corredores,como eles gostam de enfatizar. O único pesar é que os organizadores combinaram entre eles de não correr, só trabalharam, não sei nem se conseguiram comer o ceviche de salmão com palta que era oferecido aos corredores na chegada por um dos patrocinadores, a cerveja artesanal ou o cachorro quente… fui para massagem com os fisioterapeutas, fiquei 10min com as pernas no lago, assisti a chegada emocionada de muitos, peguei o ônibus e voltei pro hotel.
Para 2015 eles pretendem criar um percurso de 100km que circunda o vulcão, para dar 3 pontos na UTMB e mais duas distâncias que deem 1 e 2 pontos, além dos 15km como desafio aos debutantes nas trilhas. Ressalto que dos mil, 14 países estavam representados, mais de 30% eram mulheres e 66 eram brasileiros.
Como chegar: De Santiago, um voo ao sul de 1h15 até Puerto Montt, depois meia hora de carro até Puerto Varas, cidade de 40mil habitantes com muitos hotéis bons, boa comida, variedade de passeios turísticos com paisagens e natureza.
O que usei:
- Tênis: The North Face Ultra Trail;
- Meias: 2 pares de poliamida Quechua e Nike;
- Calça legging: Adidas running;
- Camiseta térmica nike e 1ª pele Columbia;
- Mochila: Diosaz 10 Quechua. Dentro dela corta vento Montagne, 1ª pele Ansilta e luvas Quechua;
- Óculos de sol: Briko;
- Relógio: Polar V800;
- Câmera: GoPro Hero 2.
Assista ao vídeo da prova.
Até a próxima.
Enzo Amato
6 ideias sobre “Vulcano Ultra Trail 2014 (VUT)”
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Meu caro amigo, ja faz algum tempo que não te vejo nas provas de ruas que ando fazendo. Eu tive a oportunidade de fazer minha primeira corrida de aventura em Passa Quatro neste dia 06/09/2015, curti muito e dai fui para a internet pesquisar provas e lugares onde poderia fazer novas provas, tamanho foi minha satisfação e alegria em conhecer esta modalidade, foi quando encontrei seu Blog, fiquei muito feliz e maravilhado em ver seus videos, lugares maravilhosos e lindos, desafios nem se fala, aproveito para parabeniza-lo pelas conquistas. Um grande abraço.
José Carlos, obrigado pela consideração e espero que algumas provas tenham servido para te fazer escolher um destino legal para correr e passear.
Espero vê-lo em breve, abraço.
Lendo o seu texto me empolguei demaaaais com essa prova. Quero ver o video logo. Depois de minha primeira maratona em torres del paine, estou aqui me decidindo qual a proxima maratona fazer em 2015, estou entre k42 Bombinhas, Mountain do Costão do santinho, Mountain do deserto de Atacama, mas agora pirei nessa, faria 35km aí. Qual dessas provas você acha a mais encantadora para fazer ( no conjunto visual, oraganização e desafio)?
Nossa Alessandra, você citou várias provas legais, bem organizadas e bonitas, fiz todas elas e poderia dizer que uma das diferenças esteja no custo de cada uma, já que Atacama e Puerto Varas estão a mais de 4mil km de BH enquanto as outras no sul do país, em SC. Todas são desafiadoras, umas mais molhadas, outras secas, umas com mata atlântica, outras com vegetação de frio, ou sem vegetação como o Atacama.
Se você busca a mais difícil delas, é sem dúvida a VUT, mesmo tendo 35km e as outras 42, mas tente ir com uns dias de folga para aproveitar alguns passeios e a comida.
Treine pra valer e deixo a difícil decisão com você.
Beijo.
Valeu Enzo! Acho que vai ser 35km nessa mesmo. Já vou anotar no calendário de 2015
quero ver o vídeo logo . Bjs
Boa pedida Alessandra, o vídeo fica pronto em janeiro e depois de assistir você vai bater o martelo sem dúvida, rs.
Beijo.