TriRex 2013

Crônica por Edu Coimbra.

Vou ou não vou?

Assim começou a minha prova. Com uma tremenda dúvida. Tinha acabado de chegar do ½ Iron de Caiobá, meio cansadão e até abri mão do treino de Campos do Jordão com o Enzo e equipe.

O tempo foi passando e na segunda-feira antes da prova decidi fazer a inscrição. Qual modalidade? Triathlon? Duathlon? Nunca fiz um Duathlon, até estou com uma boa bagagem de Caiobá, descansei certinho e treinei forte na última semana.

Decidido! Duathlon! Raciocinei: se eu tirar o que não presta (natação) deve sobrar o que presta… Tô na prova? Não, não estou na prova! Inscrições encerradas no site oficial, o ativo.com fora do ar e  Webrun também com inscrições encerradas. “Caramba… quem mandou cochilar!”

Mandei um e-mail para a organização da prova solicitando um “boizinho” para o atrasadinho. Prontamente veio a resposta: “Atrasadinhos também são bem vindos, faça a transferência bancária no banco tal, conta corrente tal e preencha a ficha de inscrição”.

Opa! Agora eu estou na prova!

Tudo pronto, praticamente não dormi da sexta para o sábado pois meu filho Lucca tinha uma festa de 15 anos que terminou as 4 da matina e eu tinha que estar em Brotas as 08:30h para o passeio com as crianças, na tal Tirolesa do Voo do Tarzan com trilhas e banho de cachoeira (o combinado era que o sábado seria das crianças).

Região de natureza exuberante… pés encharcados, pernas cansadas, fome, sede, dores nas costas…  tudo muito adequado  para quem vai participar de uma prova na manhã do dia seguinte.

Fim do passeio, de volta na cidade, almoço, corpo dolorido, cansaço, sono, mas… tivemos que buscar o kit da prova a 35 km de Brotas e depois voltar mais 40km até a pousada. É do jogo!

Já na pousada um último pecado, e dentro da geladeira da Dna Helena. Perguntei:

– Aquela Coca Cola, de garrafa, está bem gelada?

O filho da Dna Helena responde:

– Está sim… pode sentar que levo para o senhor!!!

Que sonho, a danada estava quase congelando.

Banho, jantar de massas, sono dos anjos.

Domingo, 5h da manhã, todos de pé para os preparativos. Barba feita, café da Dna Helena e partimos para o Broa Golf Resort  local da prova.  Bike montada na transição, aquecimento e as 07:30h a largada.

No duathlon tivemos 5km de corrida, 40 Km de Bike finalizando com 10km de corrida. O triathlon abriu com 1900m de natação e o restante igual ao duathlon.  As largadas são simultâneas. Antes da prova fiz um cálculo simples: se eu corresse os 5km iniciais para uma média de 4:15/km chegaria na transição para a bike junto com os primeiros atletas do triathlon, que normalmente nadam a distância de 1900m para 21 ou 22 minutos.

Na veia! Cheguei com quase 22min, em terceiro no duathlon e os primeiros do triathlon já estavam saindo da água quando peguei a magrela, cerca de 1,5min atrás de mim.

Ainda dentro do hotel passei pelo segundo do duathlon e,  na rodovia, antes do final do primeiro km, ultrapassei o líder assumindo essa posição. Beleza, meu pedal é forte e vou tentar me sustentar até onde der (pois sabia que o pessoal do triathlon viria babando para cima).

Nesse momento aconteceu um fato muito interessante e que me motivou bastante: o motociclista da organização da prova estava posicionado à minha frente, conduzindo o primeiro colocado geral (que era eu) pelo percurso do ciclismo. Passou pela minha cabeça uma série de imagens de todos aqueles filmes que já vi, de todos os líderes assistidos pelos batedores de moto, das Voltas, Giros e Tours do ciclismo, dos Irons, das Maratonas, etc, etc, etc. Caraca, guardando as devidas proporções, obviamente, mas aquilo estava acontecendo comigo.

Na primeira perna dos 10km, após o retorno, pude perceber a real distância entre mim e os atletas mais próximos que eram do Triathlon e que estavam a mais ou menos 1,5 min atrás.

Como se não bastasse, eu ainda recebia “injeções” de ânimo: toda vez que uma outra moto da organização, ou da arbitragem da prova, emparelhava ou cruzava com o motoqueiro que me assistia este gritava: “ Estou com o líder!!! Estou com o líder!!!” Eu não me aguentava, dava risadas: kkkk, “Esse cara sou Eu!”

Primeira volta de 20km concluída, retorno feito e motivado eu continuei gostando da “brincadeira”, a distância se manteve e veio o pacto da pedra: é o seguinte… dificilmente essa situação acontecerá comigo novamente, sou o líder geral das duas categorias, peguei a bike com 5km de corrida nas pernas, os caras estão mais inteiros, mas, se eu fizer o retorno dos 30km em primeiro ninguém mais vai me pegar, não vou largar essa moto até a transição.

Dito e feito! Coloquei a faca nos dentes, fiz força, entrei no Resort em primeiro e entreguei a bike na frente. Maravilha! Estava muito feliz!

Saí para correr os 10km e logo no final do primeiro km senti um princípio de cãibra nas duas pernas, reduzi um pouco meu ritmo, tentei relaxar e os dois primeiros atletas do triathlon me passaram. Me concentrei nas passadas, as dores foram passando e o ritmo voltando. A meta agora era vencer a prova geral do Duathlon.

Faltando aproximadamente 2km meu brother Marcio (quis o destino que nossos primeiros pódios acontecessem no mesmo dia)  me passou, muito forte, veloz e ainda buscando sua melhor posição no Triathlon.

CAMPEÃO GERAL DO DUATHLON TRIREX 2013, COM 02:08’28”

Comecei a olhar para traz, preocupado com o meu cansaço e com os adversários. Forcei muito na Bike. Não sabia se aquele que vinha a alguns metros atrás era ou não da minha categoria… Apertei o ritmo espremendo minhas últimas energias e, faltando 500m, tudo isso desapareceu, não olhei mais para traz e já estava com a certeza da vitória: SINTO MUITO, MAS ESSA É MINHA!!!!

 Foi muito bacana e confesso que é muito difícil compartilhar essas emoções com outras pessoas, principalmente com aquelas que não me conhecem ou que não são do meio esportivo. Procuro tomar o cuidado de não transmitir uma ideia imodesta, apesar de saber que corro esse risco na medida em que estou falando de mim mesmo.

Minha motivação está em documentar minha história esportiva, compartilhando, incentivando e promovendo essa prática seja ela qual for. Mostrar que uma vitória não tem um tamanho relativo quando comparado a algo maior, ou que está associada a um lugar no pódio, mas sim que tenha uma dimensão íntima para cada atleta ponderada pela dedicação versus realidade versus resultado final.

Pensando dessa forma as vitórias (ou derrotas) são referências individuais (só suas) pelo simples fato de só você saber das verdadeiras circunstâncias da jornada que te fizeram chegar lá. Você não será um campeão para ninguém antes de sê-lo para si mesmo.

Estou muito feliz por ter vencido principalmente pelas tais circunstâncias que só eu sei quais são. Por isso me sinto um verdadeiro Campeão!

Dedico aos meus Pais, Irmãos, Esposa e Filhos

José Eduardo Osias Coimbra