El Cruce, para ajudar quem vai.

Tive o prazer de correr em 2010, no simpósio do dia anterior descobri que tinha sido o primeiro ano que a chuva se tornaria obstáculo, e ela causou a desistência de muitas duplas naquele ano.

O único segredo do El Cruce é ser persistente e não ter frescura, partindo do pressuposto que o/a atleta já seja resistente na corrida, tenha os equipamentos e alimentação de reserva. A prova é bem organizada, mas as vezes a natureza testa os limites até da organização resultando em perrengues para os atletas, mas nunca se esqueça desse mantra, ser persistente e não ter frescura.

Fiz os 3 dias com 1 par de tênis bem molhado, pelo percurso e pela chuva constante largar com um par seco não duraria 1km. Levei fralda de pano para limpar o corpo no lago, mas no lago ou rio NÃO pode usar sabão, sabonete ou xampu porque contamina a água (você escolheu correr na natureza, a culpa não é dela) só água vai limpar. Lenços umedecidos porque a água está fria? Ok, mas descarte em local adequado! Alguns atletas nem sequer tomam banho durante os 3 dias de prova. Lembre, ser persistente e não ter frescura!

Tenha o equipamento correto, não precisa ser o mais caro, mas o certo. Camadas para o frio durante a corrida e um bom agasalho para o acampamento. Aprenda a viver com pouco, tudo vai ter que entrar na caixa que eles dão, se você precisar de mais espaço é porque ainda não acertou.

Magno e eu, de boné branco.
Chegada do 2º dia.

Cuidado com os pés durante a corrida, vaselina, hipoglos, esparadrapo ou o que quer que costume usar, entre etapas procure deixar ao ar livre e limpos.

A prova é muito cheia e em alguns pontos de afunilamento o congestionamento é pra valer, como pontes, travessias de barco, rios e o que quer que eles tenham preparado para este ano, pois o trajeto sempre muda.

No primeiro dia todos estão ótimos e correndo a toda velocidade, já no segundo e terceiro é que se separam os homens dos meninos, ou as mulheres das meninas, portanto seja cauteloso no primeiro dia, nos outros o início é de muita dor, mas depois passa ou você se  acostuma. Lembre persistência e sem frescura!

Bastão é muito útil a partir do segundo dia, mesmo que você não esteja acostumado qualquer um consegue usá-lo como muleta quando a dor nos joelhos ou o cansaço estiverem te matando. Usar como os profissionais exige prática, como cajado não.

Coma e beba logo após as etapas, quanto antes fizer melhor é a recuperação, alguns vão levar os pós mágicos, mas eu não abriria mão do churrasco que eles servem, é espetacular. Não preciso dizer que durante as etapas também é preciso comer e beber.

Leve comida reserva na mochila, a etapa pode durar um pouco mais do que o previsto, mas você garante a energia.

Tenha todos os equipamentos obrigatórios, sua segurança está em jogo. Ninguém tira os freios da bicicleta para ela ficar mais leve… Tem ciosas que simplesmente não valem a pena!

  • Curiosidade: O nome da prova é El Cruce e não mais Cruce de los Andes como já foi no passado. Tiveram que mudar, pois esse já era o nome de outra prova de corrida na Argentina, um revezamento de 500km que vai de San Juan a La Serena e vice e versa cruzando a fronteira a mais de 4mil metros de altitude.
Clique para ler como foi minha prova com detalhes logísticos inclusive.

Espero que seja uma linda prova como sempre é. Você pode se deslumbrar ou se apavorar com o visual e com a força da natureza, se adapte e lembre que a persistência não vai te deixar pelo caminho.

Comemore muito sua chegada, é merecido!

Enzo Amato


Corrida em etapas X Corrida de um dia

As corridas em etapas estão cada vez mais na mira dos corredores, talvez pelo desafio, ou simplesmente por ser diferente, sendo assim existem algumas características importantes a serem consideradas se compararmos as corridas convencionais de um dia, com as corridas realizadas em dias consecutivos. Não me refiro a provas extremas como a Jungle Marathon ou a Des Sables, escrevo para atletas amadores que querem experimentar algo diferente, treinando aproximadamente o mesmo volume que treinariam para uma maratona, com suas devidas particularidades, como é o caso do El Cruce, desafio do pateta, a 4 refúgios entre outras. Esse tipo de prova requer um corredor resistente e com boa bagagem anterior para saber lidar com as dificuldades e saber até que ponto elas são toleráveis ou não.

  1. A primeira diferença obviamente é não terminar uma etapa perto do seu limite físico, isso pode fazer com que o dia seguinte seja uma tortura com muita dor muscular por todo o percurso,. É certo que mesmo dosando o ritmo a dor muscular vai aparecer no início do trajeto, mas com o aquecimento ela deve desaparecer.
  2. Ter cuidado com os pés usando tênis adequado às condições que vai encontrar, em trilhas com pedras o solado tem que ser mais firme para não acordar no dia seguinte com dor na sola do pé, cuidar dos pontos sensíveis do pé com vaselina ou esparadrapo e usar meias de poliamida (no meu caso uso as de poliamida com outra mais grossa por cima). Nas de trilha dá pra encarar tudo com o mesmo par de tênis, mesmo molhado, numa de asfalto dá pra se dar ao luxo de trocar entre as etapas, pois não existe tanto o problema de logística em carregar a bagagem.
  3. Usar bastões de trekking, no caso das provas trilheiras, para aliviar o peso nas pernas e nas costas, no primeiro dia eles só vão atrapalhar, mas a partir do 2º viram artigo de primeira necessidade. As corridas de asfalto não costumam permitir o uso dos bastões, mas essas são sempre mais planas e isso faz com que os bastões não sejam tão imprescindíveis como nas trilhas.
  4. É muito importante que ao terminar cada etapa o atleta cuide da hidratação e alimentação imediatamente, e monitore as quantidades necessárias até a próxima largada.

Acredito que os principais detalhes sejam esses, outros podem entrar na lista de acordo com o tipo de terreno, clima, local, logística etc… mas seguramente com o andamento dos treinos específicos você notará algo mais que é importante pra você.

Se lembrou de algo que eu tenha deixado passar, por favor compartilhe com outros corredores e deixe um comentário abaixo. Valeu e bons treinos!

Enzo Amato


Corridas em trilha

Há muito tempo fui fisgado pelo diferente mundo das corridas em trilha, são provas únicas onde apenas um ponto em comum as definem, o contato com a natureza. No início dos anos 2000 participei da maratona trilheira em Ribeirão Pires, cidade do grande ABC, era uma prova de 42km, que depois passou para 35, 26km até virar meia maratona, com 21km, deixando a prova mais abrangente para novos corredores. Não sei se a prova ainda existe, mas lembro bem da sensação de interação com a natureza e de que tudo era bem diferente das provas de asfalto que eu conhecia, como ritmo variável, sons, cansaço, umidade, lama… tudo era diferente do que eu entendia como corrida. De um tempo pra cá muitas provas de trilha surgiram, ou passaram a ser mais divulgadas pelos meios, as organizações estão cada vez mais especializadas em oferecer boas experiências, mesmo que isso seja sinônimo de dificultar cada vez mais os percursos, mas enfim.

Deixo algumas provas que já fiz dentro da minha curta experiência nessa vertente da corrida que só cresce.

El Cruce. Da Argentina ao Chile em 3 dias, totalizando 100km com trechos demarcados para cada dia. Você só precisa estar treinado, a organização é perfeita e o preço alto da inscrição vale cada centavo. Já inclui alimentação e barraca. Fiz em 2010 e o percurso muda a cada ano.

Ultra Maratón de los Andes no Chile. Parte do circuito Endurance Challenge, tem 10, 21, 50 e 80km. Em 2010 fiz a maior distância que larga do subúrbio de Santiago e logo entra na trilha, a organização muito boa, preço justo e facilidade nos voos etc…

Mountain Do Costão do Santinho. Era revezamento e passou a ser individual em 2013, com 8, 22 e 42km, percurso variado, ora rápido ora travado, destaque para a organização que pensa em tudo.

Mountain Do Atacama. Organização surpreendente, mesmo longe de casa os caras mandam bem demais e a experiência de correr no deserto do Atacama, seja você iniciante ou não, é demais, outro mundo. 6, 23 ou 42km. Em 2013 foi a segunda edição da prova que atinge o limite de inscritos bem cedo.

Desafio Praias e Trilhas. Foi minha primeira prova realmente longa, em 2005 eu e cerca de 100 corredores fizemos 84km em dois dias atravessando Florianópolis do sul até o norte da ilha sempre por praias ou trilhas, visual incrível. Atualmente a prova é realizada a cada 2 anos e conta pontos para a Ultra Trail du Mont Blanc.

K42 Bombinhas – SC – 17 de agosto 2013. 12 e 42km Considerada a mais bela e desafiadora maratona brasileira.

Patagonian International Marathon – Puerto Natales – Chile – em setembro. 10, 21, 42 e 63km. Um dos lugares mais bonitos do mundo, corrida dentro do parque nacional Torres del Paine com paisagens de tirar o fôlego.

Endurance Challenge Argentina – Bariloche – Argentina, em novembro. 10, 21, 50 e 80km.

Assita outros vídeos feitos em 2013.

Enzo Amato


El Cruce Columbia

Ter participado do El Cruce Columbia 2010 foi uma das melhores e mais bonitas experiências em provas de corrida que já tive, e não podia deixar de registrar e recomendar!

A prova é para pessoas resistentes, cujo corpo já esteja adaptado a corridas longas. São 3 dias de prova, com percursos definidos, que totalizam aproximadamente 100km. A cada ano a organização modifica o percurso e isso faz com que ela sempre seja uma novidade.

Contêiner de cada dupla no chão e local da entrega de kits. O charme da montanha vai de brinde.

Em 2010 a cidade sede era Bariloche, no dia anterior pegamos o kit e passamos por todas as mesas de checagem, distribuição de brindes etc… Com tudo na mão era hora de  voltar para o hotel e separar o que ia no contêiner da dupla, que seria usado nos 3 dias de corrida, e o que ficaria nos esperando no hotel até que retornássemos a Bariloche. O equipamento e roupas do primeiro dia fica com você, claro.

Itens como toalha, roupas de corrida para o 2º e 3º dias, roupas de frio para depois da corrida e as noites na barraca. Garfo, faca e prato estavam no kit da prova, incluí no contêiner suplementos e géis para os 3 dias… Aquele foi o primeiro ano que choveu e fez frio, mas uma calça de moletom, uma segunda pele e uma jaqueta são suficientes, papete para arejar os pés, gorro e luvas também me ajudariam muito após cada etapa. Entregamos o contêiner no caminhão, que por sua vez, levaria-o para o 1º acampamento, e assim em cada etapa até nosso regresso. Ouvimos as orientações dos organizadores, tiramos dúvidas e esperamos pelo jantar de massas e a corrida no dia seguinte.

Começamos o primeiro dia de corrida com vários ônibus levando os atletas para o ponto de largada, corri na categoria duplas com o Magno, que tem várias corridas de aventura nas costas, iniciamos em ritmos diferentes, ele mais afoito para ultrapassar outras duplas e eu mais tranquilo sabendo que correr 3 dias consecutivos seria duro. Logo consegui convencê-lo de ir mais devagar e rapidamente a euforia da largada passou e começamos a curtir a prova, nós dois levávamos uma câmera de foto no bolso rápido da mochila e não perdíamos oportunidades de nos auto-filmar e comentar o que sentíamos, por onde estávamos passando e tentar mostrar o esplendor do visual selvagem da patagônia argentina.

Barracas dos atletas, tenda de comidas à direita e visual

Naquele ano o 1º dia foi de 30km e levamos pouco mais de 4h para completá-lo, estávamos muito bem, mas ainda tínhamos que montar nossa barraca, atualmente a organização monta todas as barracas, que eles mesmos fornecem, e isso sem dúvida facilitou muito a vida dos corredores, que tem mais tempo para interagir e não precisam mais montar ao terminar de correr, e nem acordar cedo para desmontar antes de começar a próxima etapa. O acampamento daquele dia era a casa de campo, de alguém muito rico, as 200 barracas ficaram num gramado cercado de montanhas e um rio de água cristalina, a tenda de comidas era bem servida e o churrasco argentino nem se fala, minha dieta aquele dia contrariou os bons costumes de atleta e serviu mais de 400 pessoas famintas.

Churrasco para corredor

Uma daquelas montanhas era o percurso do próximo dia que, após uma longa noite de chuva, amanheceu chovendo, começamos o dia molhados e enfrentando lama e garoa, metade do percurso de 23km era de subida forte e a outra metade descida. Ao completar a etapa os contêineres não haviam chegado ao 2º acampamento porque os caminhões não conseguiam passar pelas estradas de terra, enquanto nós atletas esperávamos ansiosos e com frio, ao lado de uma fogueira, por nosso material, só um caminhão conseguiu chegar, e depois de muito tempo. Montamos nosso acampamento só no fim da tarde e logo fui tomar um banho da gato no rio. Enquanto esperávamos não faltou comida na tenda e os churrasqueiros nos preparavam a carne na chuva. A organização fez o possível e montou um outro acampamento improvisado levando alguns atletas até lá junto dos seus contêineres.

Mesmo tentando de tudo, nesse dia muitos atletas resolveram abandonar a prova, cansaço acumulado aliado à essa situação, onde a mãe natureza nos colocou a prova, deixou alguns corredores desanimados e exaustos mentalmente. Acordamos no terceiro dia, desmontamos tudo e nos juntamos com os outros corredores no acampamento improvisado há 3 km de onde dormimos, de lá começamos a 3ª etapa de 33km basicamente plano, se comparado ao dia anterior. Mais algumas horas de prova dura, trilhas, fazendas, paisagens e as placas avisando que nos aproximávamos da fronteira com o Chile e que a mais bela prova que havia feito chegava ao fim. Completamos cansados e emocionados de tanto correr, mas não de apreciar as paisagens de uma prova inesquecível.

Chegada do 2º dia

Curiosidades:

Usei o mesmo par de tênis nos 3 dias, já começava o dia com eles molhados, e mesmo que os trocasse, sempre havia um rio para cruzar, por isso de qualquer forma, ter cuidado com os pés é fundamental.

Banho, só se for de rio, e com água bem fria. De forma alguma use sabonete ou xampú, para não contaminar a água. É banho de gato mesmo, use uma fralda de pano para se esfregar, ou esqueça o rio e use lenços umedecidos na barraca (apenas alguns atletas tomam banho)

Comida era a vontade, refrigerante, isotônico, água, salada, carne de vaca, frango, linguiça e empanadas. Nunca comi tanto e tão bem numa corrida.

Leve seus equipamentos de corrida em trilha, sem novidades!

Lanterna de cabeça, de led, com pilhas novas.

Os bastões de trekking são indispensáveis em provas desse tipo, quando fui levei um só e me ajudou muito, pensei que os dois pudessem me atrapalhar por não estar acostumado, mas acho que teria me adaptado da mesma forma. No 1º dia você talvez não note diferença ao usá-lo, mas daí pra frente eles aliviam muito a carga nos joelhos e nas costas. Sugiro que utilize desde o início. Isolante térmico, além do saco de dormir é essencial. O tamanho da minha mochila era de 20L com a bolsa de hidratação de 2L, mas uma mochila de 10 ou 15L teria resolvido e seria mais leve. Ela só será usada para o corta vento, os equipamentos obrigatórios, a água, garrafinhas e barrinhas. Além do reservatório, é importante ter uma garrafinha ou caramanhola para ter mais fácil acesso, já que em várias oportunidades você passará por rios, de água potável, e a garrafinha é muito mais fácil, rápida e prática para encher. Vale perguntar aos organizadores no dia anterior se tem rios no percurso.

O gel eu tinha 3 sachês numa garrafinha pequena, aquelas de 50 ou 100ml, para não carregar lixo e nem perdê-lo na trilha, assim ele fica mais fácil de tomar sem precisar desviar sua atenção da trilha para rasgar sachês. Acredite, é perigoso torcer o pé numa bobeada dessa! Tinha algumas barrinhas também, basicamente de carboidratos, porque proteína você vai comer bastante após cada etapa no churrasco.

Para a “Recuperação” pós etapa, alguns atletas entravam no rio, que era água de degelo, imagine a temperatura, e ficavam com a água até acima dos joelhos por alguns minutos, eu não fiz isso e me sentia muito bem, apesar de cansado.

Vá num ritmo confortável no 1º dia, pois ao iniciar a 2ª e 3ª etapas você estará com dor muscular, mas logo ela passa e a corrida volta ao normal. Se existir alguma lesão você terá que lidar com ela como for possível. Com dor muscular não se faz alongamento!! Começar a correr bem devagar é o melhor aquecimento.

No acampamento pude recarregar meu relógio, conversar com corredores de outros países, basicamente América do sul e alguns europeus.

Mesmo com o acontecido no segundo dia, considero a organização ótima. Quando corremos na natureza, somos parte dela, e naquele ano ela quis nos testar um pouco mais, e a organização fez o possível para nos atender, era visível o esforço e dedicação deles. Um dia quero voltar!!!

Enzo Amato.