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Ultra Trail Torres del Paine, minha corrida!
67km de muito vento gelado.
A impressão mais marcante foi essa, o vento, nem os 5000 metros de desnível acumulado ou as 11hs que levei para concluir o percurso impressionaram tanto quanto o vento, que por algumas vezes quase me jogou no chão. A paisagem com montanhas nevadas de 3mil metros e picos escarpados me deixavam em transe em alguns momentos, mas ora uma rajada mais forte me pegava desprevenido ora era anunciada pelo barulho das árvores que balançavam freneticamente e me deixavam alerta outra vez.
A primeira edição da Ultra Trail Torres del Paine limitou em 100 pessoas distribuídas nas 3 distâncias, 109, 67 e 42km e eu estava entre os 34 atletas que largaram nos 67km em frente ao hotel Rio Serrano assim que o dia clareou as 7:30. Os primeiros kms ainda em estrada de cascalho me colocaram a par da realidade, uma lebre correndo pra todos os lados e mais adiante um condor voando baixo, sabia que em breve estaria nas trilhas do parque fazendo parte da natureza e era isso o que eu queria.
Cheguei a marca de 10km e só peguei uma banana no posto de abastecimento, ainda não precisava reabastecer a mochila, a trilha era em campo aberto e o vento muito gelado, meus batimentos estavam no limite que eu queria, mas por aquele frio eu não esperava, arriscava abrir um pouco o zíper do corta vento para que o suor evaporasse, mas tinha que administrar o abre e fecha para não ficar com mais frio ainda. Cheguei ao refúgio no km 26 que era um dos pontos de abastecimento com quase 3h de prova, peguei um café e uma barra de chocolate, pois os torrones que tinha levado pareciam pedras por causa do frio, havia largado com -3°C e àquela altura não estava muito mais que isso, a máxima do dia era de 7°C, saí do refúgio e comecei a subir um vale com mais vento encanado vindo de frente, levei mais de 1h só para esses 5km, mas o ponto de retorno me mostrou mais da natureza selvagem, estava no mirador Grey, de lá podia ver o glaciar Grey do alto, uma enorme massa de gelo com vários kms de extensão, fiz pose pra foto e fiquei admirado ao ver um fotógrafo e outros 2 caras marcando os atletas, a mercê do vento e do frio, tentava imaginar que roupa eles precisavam vestir para conseguir ficar ali por horas. Desci fácil, com vento a favor e cheguei novamente ao refúgio, desta vez km 36, me ofereceram macarrão, e para quem estava comendo torrone duro aquilo parecia um banquete, peguei meu prato sem molho, mais barras de chocolate e água, pois sabia que dali em diante só encontraria água nos rios. A trilha me guiava a circundar a montanha, vez ou outra encontrava com turistas fazendo trekking e só via as marcações do próprio parque e nenhuma da prova, como foi dito, isso chegou a atrapalhar alguns atletas, a edição inaugural serve de teste, passei por mais alguns refúgios, mas estes eram só para emergências, estava bem abastecido e podia me virar com o que carregava comigo, apesar de não poder entrar no país com o que costumo comer em provas, que é damasco seco, amêndoa e castanha do Pará, me virei com os torrones/pedra e chocolates. Quando me acercava mais da montanha uma leve chuva começava a cair, isso por causa do microclima das montanhas que muda com muita frequência.
Num momento da prova consegui tirar o corta vento e as luvas porque o sol aparecia com mais regularidade, enchi meu reservatório de água quando passei por um rio já por volta do km 50 com quase 8hs de prova, quando um dos joelhos começou a incomodar bastante e me fez reduzir o ritmo. Alguns corredores que estavam comigo no início da corrida se aproximaram e a chegada deles me motivou a acompanhá-los mesmo com muita dor, se estivesse sozinho certamente estaria caminhando e foi assim até chegar ao ponto mais difícil, uma subida íngreme de quase 400m verticais, nesse momento comecei a me sentir estranho, não sabia se estava com frio ou calor e a 3ª colocada feminino que estava comigo, abriu uma distância considerável, parei por um momento e resolvi vestir o corta vento novamente, comi e me hidratei, imagino que se demorasse mais para reagir teria tido uma hipotermia, não quis pagar pra ver, logo estava correndo novamente em direção ao ponto mais alto do percurso km 62, depois daquilo era só descida e quase todo meu peso na perna esquerda para aliviar a outra, completei os 67km em 11h08 depois de ter curtido toda minha prova e lidado com todas as dificuldades que apareceram, foi pra isso que eu fui. Adorei!
Essa prova exige que você tenha experiência em provas de trilha e leve todo o equipamento que achar necessário, pois a falta dele pode custar caro.
O que usei:
- Tênis: Asics Gel Fuji Racer 3
- Camiseta térmica manga curta: Nike
- Manguito: OG
- 2 bandanas, uma no pescoço e outra na cabeça
- Calça Legging: Adidas running
- Luvas: Quechua
- Óculos de sol: Briko
- Câmera: GoPro Hero 2
- Bastão de trekking: Boomerang
- Mochila: Quechua Diosaz Raid 10
- Corta vento: Montagne
- Relógio: Polar RS100
Leia o que achei da UTTP e da PIM, suas diferenças e pontos a corrigir. Clique aqui. Se esteve lá deixe sua opinião.
Em breve o vídeo com mais detalhes sobre a prova.
Enzo Amato