Mejor marca personal con sólo 2 días de entrenamiento por semana!
Por José Eduardo O. Coimbra
Após o Ironman passo por um período de férias de vários meses. Dedico-me quase que exclusivamente à família, tento compensar as ausências dos grandes períodos de treinamento e preparação para essa prova. Além disso, sinto que preciso de uma longa recuperação física e, principalmente, emocional.
É claro, não fico paradão 100%. Treino com os amigos, acompanho uns e outros em suas jornadas, faço algumas coisas diferentes das quais tenho saudades (Ah, mas também deixo de fazer as coisas das quais não tenho saudades, por exemplo, natação).
Mas, como ninguém é de ferro, uma provinha ou outra pra manter a motivação está valendo. Nesse ano pensei, pensei, pensei e resolvi fazer a Maratona de Buenos Aires. “Pertinho” de casa, um final de semana romântico com a minha esposa, beleza, dá pra encarar!
Para tanto, estabeleci algumas condições de contorno:
- Nenhum compromisso obcecado com planilha;
- Não priorizar um treino em detrimento de um compromisso social, principalmente familiar;
- Treinos de corrida focados em qualidade e descanso;
- Apenas dois treinos de corrida por semana ( outros dois de bike c/ musculação );
- Os treinos longos sempre acima de 25km (são deles que eu gosto e que me dão grande prazer);
- Foco no resultado, objetivo com recorde pessoal: 3h 30min.
A princípio parece que há uma grande contradição aí: obter um recorde pessoal arrojado (o anterior era 3h50min) treinando apenas duas vezes por semana e sem priorização dos tais treinamentos?
Resolvi tentar e elaborei um plano de treinamento dividido em duas partes. Uma para os treinos longos e a outra para os de velocidade – período total de 10 semanas. Resumidamente fiz o seguinte: para os longos, sempre que aumentava a quilometragem o primeiro treino era feito a uma velocidade bem abaixo da desejada na prova, o treino seguinte da mesma quilometragem era realizado em um ritmo o mais próximo possível do da prova (limitado a 78% da FcMáx) até o treino de quilometragem máxima (35km). A partir daí todos os longões seriam feitos em ritmo de prova (5min/km ou a 78% da FCMáx).
O detalhamento (entre parênteses os valores reais):
Treinos longos aos domingo:
- 25km ( 5:40min/km );
- 28km ( 6min/km )
- 28km ( 5:40min/km );
- 30km ( 6min/km );
- 30km ( 5:20min/km );
- 33km ( 6min/km ) Na altitude de Poços de Caldas- MG;
- 35km ( 6min/km ) Em São Caetano com meu amigo Witney;
- 33km ( 5:08min/km );
- 30km ( 5:03min/km );
- 20km ( 6:10min/km )
- Maratona de Buenos Aires
Pode parecer um exagero, mas de tudo o que faço no esporte, o que me dá mais prazer são os treinos longos de corrida. Faço sem peso na consciência e ponto. Se tiver que pagar um preço alto por isso… assumo!
Treinos de velocidade nas quartas-feiras:
OBS: Dei o nome de Matriz Progressiva – coisa de Engenheiro rs rs rs rs (em esteira, com variação de inclinação e velocidade). Até a semana 6 a matriz foi progressiva no volume e na inclinação da esteira, após, progressiva na velocidade (com diminuição na inclinação e no volume).
- 5x1000m
- 6x1000m
- 3x2000m
- 4x2000m
- 2x3000m
- 3x3000m
- 4x2000m
- 4x2000m
- 3x2000m
- 4x500m
- Maratona de Buenos Aires
A semana 7 foi a única que fiz um terceiro dia de treino, numa sexta-feira, treino de ritmo: 2km de aquecimento, 8km a 4:12min/km e 2km de desaquecimento. Como se fosse um vestibular (rs), queria medir meu desempenho até a data, o comportamento da minha frequência cardíaca, o acúmulo de lactato, etc.
Prontinho! Tudo feito do jeitinho que foi descrito acima. Ganhei muita confiança nas últimas semanas. Fiz os dois últimos longões em ritmo de prova e a frequência cardíaca permaneceu abaixo daquela estipulada, pensei comigo: “CARACA, TÁ DANDO CERTO, MINHA ESTRATÉGIA ESTÁ FUNCIONANDO, MINHA PERFORMANCE MELHOROU LENTA E PROGRESSIVAMENTE, MARAVILHA, TÔ NA PROVA!!!!!” Minha única dúvida estava por conta da temperatura local ambiente no dia “D”. No calor meu “radiador” ferve e eu perco muita performance.
Guarulhos, 04:30h da manhã:
– “Mis hermanos de Buenos Aires … estoy llegando !!!!!

Pronto para queimar o asfalto
As 10:40h eu estava entrando no hotel. Deixamos as bagagens, encontrei meu amigo Witney e esposa e fomos conhecer a cidade. Andamos, ida e volta até a arena de retirada do kit, uns 5km.

Sergio e Witney, literalmente se achando!
Witney e Sergio usando “GPS” (os braços já estão ficando curtos, rs rs rs)
Paramos no meio do caminho, lá pelas 16h num rodízio de massas. Vale a observação: um boi não come macarrão mas se o fizesse teria comido bem menos do que nós rs rs rs.

Almoço com as estrelas – rodízio de massas, aqui a maratona era outra!
A cidade realmente é linda, seus monumentos e sua arquitetura são espetaculares. O ponto negativo se deve à relativa inoperância do estado em conservar tudo aquilo… dá dó do nível de deterioração daquele patrimônio todo, você fica dividido entre a maravilha e a indignação, os sentimentos se misturam constantemente, não há como dissociar um do outro. Algo muito parecido com o que acontece aqui, porém o prejuízo cultural é maior lá, com certeza.
Acordei 03h45min, fiz a barba – como de praxe – preparei minha alimentação e saímos.
Aí tivemos o momento mais tenso do dia… ônibus, taxi ou trem? Optamos por sair mais cedo e pegar um ônibus, a princípio mais garantido, pois havia o risco dos taxistas sumirem as 06h da manhã tamanha a demanda.
Fomos então à busca do famosíssimo coletivo 152. Garoa forte, frio, queixo batendo, lá vem o 152. Entramos e nos sentimos em casa…
– Estamos na prova!
Nesse momento o Sergião ( nosso “GPS” analógico ) teve a gloriosa iniciativa de trocar algumas palavras em bom português com o motorista, este nos informou que estávamos no sentido errado, queríamos ir para “Santana” e estávamos indo para o “Jabaquara”.
– Que merda!!!!!! Desce, desce, desce!!!!!
Perguntei:
– Sergião, vc tem certeza? Não é um trote do Portenho?
Descemos do coletivo e atravessamos a praça, 06:15 da matina e já havíamos perdido preciosos minutos.
-Cadê o 152 sentido “Santana”?
Deus ajudou e logo veio o majestoso 152, novamente. Que maravilha, voltamos para a prova! Era portunhol para tudo quanto era lado para garantir que o sentido da viagem, desta feita, estava correto. O motorista já estava com os miúdos cheios de tanto que o Sergião perguntava se estávamos certo, quanto tempo faltava, etc, etc, etc.
Após 20 minutos de viagem nenhum maratonista avistado na rua ou entrando no nosso coletivo… Hummm.
– Kct, estamos na roça, se esse motorista não tiver entendendo o Sergião, não voltamos mais, nem de taxi!
Já eram 6:50h e nada de chegar ( largada as 7:30h ). Foi quando um passageiro, Colombiano, Paraguaio, Guarani, ou coisa que o valha, viu meu número no peito e perguntou:
– Maratón?
Pronto! Gelei! Fui logo olhando para os pés da fera “indígena” pra saber se ele tinha algum viés de atleta, no caso maratonista… Decepção, ele calçava um “Rainha” Classic todo arregaçado e sem cadarço.
– Aaaaaaiiii meu Deus!!!!!! Pensei…
Ele disse:
– Es por aquí, y puede ir directamente por este camino!
E agora… em quem acreditar, no motorista que falou que ainda faltava uns 10 minutos de viagem, ou no Guarani que disse que era ali?
O ônibus parou, olhamos uns para os outros e… “Minha mãe mandou bater nesse daqui, mas como eu sou teimoso vou acreditar no… Guarani!”
Descemos!!!!!
Andamos, andamos, andamos, 07:05h e absolutamente nenhum sinal de maratona, nenhuma rua fechada, nenhum atleta na rua, ninguém brigando por vaga para estacionar, nenhum flanelinha, nada de som com locutor frenético, nada, nada, nada!
Bateu aquela culpa… confiamos no Guarani!!!!! E o motorista do ônibus está nos procurando até agora:
– Dónde están los tres brasileños que me demonizan hasta ahora?
Apertamos o passo e chegamos numa avenida bem movimentada, perguntamos para um porteiro de prédio onde era a tal maratona, ele:
-Maratón?????
O pior não foi a cara de interrogação, mas sim o olhar dele bem lentamente para os dois sentidos da avenida também procurando a tal maratona.
-Minha nossa Senhora!!!! Exclamei.
Não é possível, será que eu cheguei até aqui e vou “morrer” na praia?
Foi então que Deus ajudou de novo. Apareceu do nada um rapaz, ligeiramente barrigudo, alto, com um shorts comprido quase na altura dos joelhos mas, acreditem, usando um tênis bom, de marca, pensei: será?
Nessa hora (do desespero) foram os três pra cima dele:
– Maratón? Maratón?, Maratón? Maratón? (agora todo mundo já falava espanhol, nem que fosse uma única palavra: MARATÓN ). Estão rindo? A necessidade é a mãe da criatividade, mais um pouquinho e eu já estava falando japonês.
O tal Eduardo, meu xará, jornalista do Clarin, estava indo para a sua primeira maratona, também atrasado graças a Deus:
– Síganme! Conozco un atajo!
Maravilha! Estou na prova pela terceira, ou quarta vez, sei lá. Esse cara deve ter caído do céu, não é possível.
Pra encurtar essa história, depois de dois motoristas de ônibus, um dono de banca de jornal, um porteiro, um jornalista e um inesquecível Guarani, as 07h e 28min chegamos no “trem” de largada. Ufa! Mas com um problemão: minha bexiga estava cheia e eu já havia decidido que o tal lastro seria carregado até onde fosse possível. E o foi até o final da prova, não sei como…
Aquecido eu já estava, perdi o Witney e o Sergião que foram procurar um guarda-volumes. Pensei:
– Como será “guarda-volumes” em espanhol??? Essa parte eu perdi! rs rs rs
A MARATONA
Já saí feliz, estava ali e o resto era comigo. Não dependia mais do meu “amigo” Guarani. Ritmo encaixado e a estratégia definida sendo colocada em prática. Meu planejamento era fazer uma boa meia maratona, sentindo a prova e as reações do meu corpo. E assim foi, fechei a meia em 1h44min, tranquilo, com minha frequência cardíaca estabilizada e a alimentação indo muito bem obrigado.
A prova é muito bonita, gostosa, e possível de ser curtida. Passamos por vários pontos turísticos: Centro Velho, Casa Rosada, La Bombonera, Puerto Madero e outros. Muita gente nas ruas incentivando os atletas e muitos atletas brasileiros. A organização da prova foi excelente, os postos de hidratação bem distribuídos, os voluntários muito simpáticos e tudo funcionando direitinho.
Minha confiança foi aumentando bastante na segunda metade da prova. Passando pelo km 30 pintou aquela certeza de que meu recorde pessoal viria e possivelmente conforme eu idealizei: 3h30min.
Em provas de endurance esse momento é muito importante para mim. É nele que eu consigo sentir a razão sublime do esporte na minha vida. Há uma conjunção entre felicidade, amor, saúde, amigos, família e Deus, não consigo explicar, é uma sensação que só o esporte pode me dar. Não penso em dor, em cansaço, mas sim na minha capacidade de realizar aquilo. A emoção ali é maior do que aquela da linha de chegada, é a emoção grandiosa da vitória sem que eu ainda tenha chegado a ela. Quanto ao choro… vou pular essa parte!

O final se aproxima, km 38 e estou quase um minuto adiantado. Pace mantido, vantagem também mantida. Linha derradeira à vista… fim de mais um desafio. Maratona de Buenos Aires cravada rigorosamente conforme planejado, tempo oficial: 3h:29min:02s (4:57min/km).
Fiquei muito feliz, não só pelo resultado, mas pela comprovação de que o protocolo que estabeleci nas dez semanas que antecederam a prova deu certo. Fiz exatamente o que treinei para fazer e hoje eu sou capaz de afirmar que é possível realizar uma maratona bem feita com apenas dois treinos de corrida por semana, mas, não posso deixar de considerar que a maturidade atlética de cada indivíduo tem um peso muito importante.

Fim de prova!!!!
Finalmente, tenho que agradecer a uma pessoa muito bacana (deixa-me ativar aqui a tecla Caps Lock ): MEU COACH E AMIGO ENZO!!!! Ele não elaborou meus treinamentos, não acompanhou minha planilha, não treinou do meu lado como das outras vezes, mas esteve bastante presente com os seus infindáveis ensinamentos transmitidos nos últimos 3 anos de preparação conjunta para as provas de Ironman. Ele me ensinou a respeitar o meu corpo, a valorizar o descanso, a treinar com qualidade e sabedoria, a controlar as emoções e a dignificar nosso esporte. Se eu acertei o alvo foi porque ele me ajudou na mira. Valeu Professor!!!!!!!!!!
Não posso deixar de agradecer, também, ao meu Amor, à minha bailarina, à minha corredora de média distância… à minha ESPOSA ANGELA. Eu não sou fácil! Testo a paciência dela todos os dias, mas mesmo assim ela me acompanha e me tolera. Beijos AMOR!!!!!
Como estamos falando em mira, tenho que ser honesto ( tecla Caps Lock de novo ) , pelo sim, pelo não, tenho que agradecer a colaboração do nosso amigo GUARANI. Valeu! Acertamos o alvo (a largada) em dois minutos, nooooossa!!!!!!
– Muchas gracias señor Guaraní Porteño! Hasta la próxima!!!!!
José Eduardo O. Coimbra