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Fiambalá Desert Trail – Argentina
Fiambalá Desert Trail, vou subir mais um degrau nas ultras e para isso escolhi uma prova diferente e desafiadora, não só pela distância, mas pelo terreno, clima e altitude.
Existem 5 grandes corridas em deserto no mundo, em sua maioria nos grandes desertos africanos: Sahara Race (Egito), Marathon des Sables (Marrocos), 100 milhas (Namíbia), 100km Sahara (Tunísia) e Desert Race (Omã).
Fiambalá será a maior proposta acontecendo na América, dia 07 de junho 2014, na casa dos vizinhos argentinos, e uma das melhores corridas de deserto do mundo, pela beleza de suas dunas e montanhas, por suas paisagens imponentes e por ser em altitude.
Quando se pensa em deserto, o que vem na cabeça é calor e areia, porém a corrida será no inverno e a mais de 1600 m.s.n.m. por isso é muito provável que as largadas dos 80 e 50km aconteçam com temperaturas perto de zero, ou até negativas, podendo chegar até 29º a medida que vá passando o dia.
No percurso a areia será o principal obstáculo e não somente a distância ou o desnível.
3 opções de percurso:
80k: 66km areia + 10km terra + 4km asfalto
50k: 40km areia + 6km terra + 4km asfalto
27k: 23km areia + 4km asfalto
Em breve mais novidades.
Enzo Amato
Fui ao Rally Dakar!
Sempre passo as festas de fim de ano com a família da Paula, que é daqui da Argentina, mais exatamente em San Juan, cidade de 500mil habitantes com paisagem árida e temperaturas extremas no verão e inverno, foi esse o local da chegada da 3ª etapa do Rally Dakar 2012.
Pegamos o carro e 15km depois estávamos nos arredores do autódromo, com mais de 40° e umidade bem baixa, lá onde todo o circo do rally passaria a noite, (pilotos nos hotéis da cidade) o público só podia ficar nos arredores enquanto os carros, motos, caminhões, quadriciclos e carros de apoio chegavam para entrar no autódromo. Muita gente simples prestigiando o evento, fazendo churrasco e montando acampamento para ver o pessoal passar.
Pude fotografar a moto 89 de Denisio do Nascimento e o carro da equipe brasileira Petrobras Lubrax entre uma centena de fotos que consegui fazer.
Foi uma pena que depois que a organização resolveu não realizar o rally na Africa, o Brasil não conseguiu sediar esta competição, que este ano, trouxe pilotos e equipes de 50 países e 1800 jornalistas de todo o mundo.
Outro ponto interessante que pude perceber, é que vários canais de TV falam por bastante tempo sobre o evento, que certamente movimenta a economia no país. No Brasil provavelmente uma emissora pagaria pelos direitos de transmissão e nos mostrariam uma nota durante um dos noticiários. Como acontece com o Rally dos sertões. Um esporte disputado em etapas tem que mostrar detalhes a cada dia, caso contrário não tem a menor graça.
Este ano o Dakar passará por 3 países, a maior parte na Argentina, depois Chile, terminando no Peru.

As motos tem 450cc, pesam cerca de 140kg, são enormes, confortáveis e deixam o piloto praticamente em pé.
Para 2013 ouvi dizer que não será maioritariamente na Argentina, quem sabe o Brasil consegue atrair esse grande show e continuar mostrando as muitas caras do país para o mundo, pois nem todos os turistas gostam de carnaval e multidões, alguns se encantam por se sujar de terra, passar calor e rodar pelo país sozinhos em seus veículos. Cada louco com sua mania! Só quem pratica algum esporte consegue entender a paixão e loucura do outro. Não importa o esporte que você pratique, a paixão por ele é o que faz cada esportista entender o outro e não se importar com o preço que pagam por concretizá-lo.
Compartilho mais algumas fotos com vocês.
A montanha tem vida!
A montanha tem vida e escolhe quem a sobe. É uma das muitas coisas que pude aprender nesses 3 dias que estive fazendo trekking a 80km da cidade de Mendoza, na Argentina, na região montanhosa chamada de Cordón del Plata.
Comprei 3 dias de passeio guiado com acomodação em refúgio, um albergue com quartos compartidos, chuveiro quente, café e jantar, um luxo pra quem está no meio da montanha. A maioria dos turistas faz passeio de um dia, sem precisar dormir, saem de Mendoza a 700m e em 1h30 chegam ao refúgio a 2600m, nesse caso fazem uma caminhada de mais ou menos 5 horas até chegar a 3300m. No caminho fazemos algumas paradas para tomar água, e no topo da montanha escolhida comemos nosso lanche (almoço). No caminho para chegar aos 3300m já é possível sentir a altitude, a respiração e a digestão fica mais lenta, uma das recomendações era não comer até se empanturrar, outra recomendação, muito importante, era tomar cerca de 4 litros de água por dia. Os guias me alertaram que isso era muito importante para nenhum inconveniente me surpreender na altitude e me obrigar a descer, como dor de cabeça, enjoo, tontura, vômito… Ao imaginar tomar 4 litros num lugar frio, cheguei a pensar que não conseguiria, mas de alguma forma a desidratação é mais rápida e feroz na altitude. Tomei muita água sem sentir que era demais, realmente não sabia nada sobre altitude e se estivesse sem guia poderia me complicar. Segui as recomendações e me sentia muito bem. Meu itinerário era me aclimatar a altitude, subindo montanhas de 3300m durante o dia e dormindo mais abaixo a 2600m para no último dia subir o Cerro San Bernardo a 4200m, que muitos consideram ser a iniciação ao montanhismo.

Subida ao Cerro Arenales, a neblina não deixou ver muito, mas deu pra sentir que é preciso respeitar a montanha. O frio e a chuva podem te pegar a qualquer momento.
Fazia 35° em Mendoza, parecia uma loucura eu ter na mochila várias roupas de frio e chuva, já que raramente chove por aqui, mas aprendi que a montanha tem seu próprio micro clima, enquanto em São Paulo dizemos que você pode passar pelas 4 estações do ano em um dia, na montanha isso pode ocorrer em apenas uma hora, e foi o que aconteceu no meu primeiro dia, vestia calça, camiseta e uma blusa, na minha mochila de trilha levava protetor solar, boné, outra blusa, um corta vento impermeável e o lanche de marcha oferecido por eles. Começamos a caminhar e logo tirei o agasalho ficando só de camiseta, estava suando, a caminhada era morro acima o tempo todo e o guia nos dava um ritmo bem confortável, apesar de uma das 5 pessoas do grupo ficar um pouco mais para trás o tempo todo, quanto mais caminhávamos mais perto chegávamos do local coberto por uma neblina espessa, e de repente entramos na neblina, uma pausa para tomar água e vestir novamente a blusa, em outros poucos minutos uma chuva fina começou a cair, baixando mais a sensação térmica, parei mais uma vez para vestir meu corta vento porque nesse momento a chuva apertou de vez. As pessoas que iam para o passeio de um dia chegavam bem despreparadas para o trekking, sem as roupas necessárias, nesse dia um sueco fazia parte do grupo, e usava tênis de corrida, short e camiseta de algodão, ficou todo molhado e mesmo assim não parecia ter frio, durante as horas de subida nos contou que uma de suas brincadeiras de adolescente era sair da sauna descalço e correr por 5 minutos sobre a neve com seus amigos, pra ver quem era mais corajoso, ou mais idiota, como ele mesmo disse, nada diferente de qualquer adolescente.
Nesse primeiro dia chegamos ao cume do Cerro Arenales, com 3500m, já sem chuva, mas molhados, e alguns com muito frio, apesar do Luciano, nosso guia, nos contar o que havia nos arredores, não conseguíamos ver mais além do que 50m. Comemos nossos lanches, batemos algumas fotos e não mais do que 15 minutos depois começamos a descer, apesar de serem pedras soltas, não escorregávamos e a descida foi tranquila, ao retornar ao refúgio, por volta das 17 horas, o grupo voltou para Mendoza e eu fiquei ali, minha mochila grande com todas as roupas me esperava lá, tomei um banho quente, me agasalhei e fiquei até as 21 horas, horário que escurece no verão, contemplando a natureza e o silêncio, algo impossível em São Paulo, só se podia escutar a água descendo a montanha pelo pequeno riacho, o mesmo riacho que enchia minha garrafinha d’água e me mantinha hidratado. Logo depois jantei um belo prato de spaghetti e um pedaço de rocambole com doce de leite para sobremesa, na montanha o cardápio não é muito variado, mas depois de uma caminhada estava delicioso. Comecei um livro novo e o sono não tardou em chegar, dormi das 23 até as 8:30.
Minha primeira pergunta do dia foi, na altitude se dorme mais do que o normal? A Sole, guia do segundo dia, que também trabalhava no refúgio durante a temporada me disse que normalmente sim, mas que depende do organismo de cada um. Tomei o café da manhã, bem parecido com o nosso, pão, manteiga e café com leite.

Aridez comun, nossa guia Sole comandando o grupo do dia, a direita o Cerro Lomas Blancas e ao centro, encoberto pelas nuvens, o San Bernardo que não pude chegar este ano.
Pouco depois das 9 estava pronto para meu segundo dia de trekking, mas era muito cedo, peguei meu livro, me sentei ao sol e ali fiquei por um bom tempo, a van chegou com o novo grupo e lá pelas 11:30 começamos nossa caminhada, dessa vez seguimos o tempo todo ao lado do riacho, a recomendação era ir ao “banheiro” longe dele para não contaminá-lo.

A sensação vale muito mais que o que se pode ver na foto, 3235m não é tão alto, mas a recompensa do visualvale mais.
Chegamos ao ponto chamado Las Veguitas a 3235m, local onde escaladores acampam para se aclimatar e subir a outros cerros mais altos, dessa vez o tempo ajudou, pudemos comer com calma e apreciar a vista, o ritmo ainda era tão rápido quanto o ritmo do mais lento do grupo e enquanto descíamos uma chuva de granizo nos fazia de alvos, o que é muito comum nessa época do ano, faltando meia hora para chegar ao destino, tivemos que nos abrigar num outro refúgio privado, de um senhor que tocava seu violão e nos fez entrar, parece existir um código na montanha onde um ajuda o outro, não importa o que aconteça. Ficamos por um tempo e assim que a chuva passou voltamos para nosso refúgio, outra vez o grupo foi embora e eu fiquei lá curtindo o sossego. Dolce far niente! Antes do jantar fui surpreendido pela notícia de que não poderia subir até o cume do Cerro San Bernardo por questões climáticas, realmente vi nos dois dias que o clima não estava ajudando, as montanhas mais baixas estavam sempre encobertas por mal tempo e uma das minhas primeiras regras que estipulei antes de começar minha viagem era, fazer tudo o que os guias me mandassem fazer. Perguntei qual seria nossa outra opção e me disseram que chegar ao cume do Lomas Blancas a 3850m seria a alternativa, aceitei prontamente.
Jantei batatas e frango ao forno, na Argentina os pedaços de carne são generosos e realmente senti a digestão mais lenta após o jantar, não dormi feito uma pedra como na noite anterior, mas mesmo assim acordei bem disposto para fazer o trekking, que desta vez seríamos só o guia e eu. Para minha surpresa era uma guia, chamada Yessi, uma chilena casga grossa que corria provas longas de aventura, lá no início desse esporte em 99, quando o mundial ainda se chamava Eco Challenge.
Disse que apesar de fazer o que ela achasse melhor, queria um pouco de desafio físico para esse dia, já que nos outros dois tive que seguir no ritmo do grupo, ela me sugeriu que subíssemos sem muitos desvios e dessa forma ela praticamente traçou uma linha reta e subimos, no caminho enchi a Yessi de perguntas sobre o curso de guias de montanha, é um curso de quase 3 anos com muito aprendizado técnico e prático, onde menos de 30% consegue concluir.
A prova final do segundo ano foi subir um cerro de 4500m duas vezes sem parar e não podendo fazer em mais de 7 horas, que não é nada fácil, dos 70 que começaram ela foi uma das 10 primeiras. Além de me explicar tudo com muitos detalhes pude perceber nos 3 dias que os guias eram diferenciados. São praticamente super atletas preparados para qualquer emergência, isso dava uma sensação de tranquilidade durante as caminhadas, me deixando livre apenas para bater fotos e apreciar a paisagem, mas por mais que eu filmasse, ou fotografasse, o que meus olhos podiam ver ficará apenas na minha memória, não dá para colocar numa foto o prazer de estar lá. Subimos dos 2600m até 3850m em 2h30 num ritmo muito bom, apesar da neblina nos últimos 100m aproveitei todo o trajeto, a volta foi mais tranquila, de vez em quando parava para fazer uma foto ou simplesmente parar de olhar o chão e olhar para frente.

A pessoa que alcança o cume deixa uma prova para que a próxima pessoa desça e comprove que subiu. Como não levei nada para deixar em troca, só bati uma foto.
Completamos esse dia em 5h30, estava muito contente por não ter sentido nenhum sintoma da altitude e não estar esgotado, tinha gás para subir mais e encerrei o terceiro dia de trekking com gostinho de quero mais, decidido a encarar um cerro acima dos 4000m. O próximo verão promete!!
Foram realmente 3 dias mágicos que não vou me esquecer. Recomendo a qualquer pessoa que faça caminhadas regularmente, e caso tenha alguma pergunta ou planeje fazer o mesmo, é só me escrever.
Abraço. Enzo Amato.
Fotos do trekking no Cordón del Plata na Argentina.
Foram tantas fotos que optei por anexar mais algumas.

No 1º dia a neblina o encobria, lhes apresento o Cerro Arenales, reparem na cruz no topo e a paisagem que o Luciano nos relatava naquele dia.

Os cachorros Luna (preto) e Lobo (branco) que nos acompanharam por toda a subida, simplesmente pelo prazer da companhia.
Condores também marcam presença, mas em voo é muito difícil fotografar por um amador com uma máquina de amador.
Em locais onde a neblina é constante e visualizar o caminho é quase impossível, é comum encontrarmos as pircas, pequenas pedras colocadas uma em cima da outra que indicam que você está na trilha correta para o cume. Os suíços chamam de homem de pedra e a constroem com o formato de um homem. Cabeça, tórax (2), cintura e as pernas.
Espero que tenha gostado, um abraço, Enzo Amato.
Trekking na Argentina para fechar 2011.
Desde que conheci a Paula, em 2007 e fui pela primeira vez para onde ela morava, em San Juan, na Argentina, descobri que Mendoza é a porta de entrada para o Aconcágua, a maior montanha das Américas e que o preço de uma expedição é muito menor do que ir para o Everest. Sempre me interessei por histórias de grandes escaladores no Everest, mas nunca foi um sonho por dois motivos, o primeiro é que não considero as pessoas que querem chegar ao topo do mundo através de excursões grandes atletas hábeis e conhecedores do que estão fazendo, simplesmente são pessoas que tem muito dinheiro e o desejo de ter o título de chegar ao cume. O segundo é que para subir o Everest pode sair mais de 60mil dólares.
Porém este ano resolvi colocar em prática o desejo de fazer um trekking em altitude com intenção de apreciar paisagens, a natureza, e claro, uma pequena dose de esforço físico. Poderia ir ao Aconcágua logo de cara, seria só pagar uma das inúmeras agências em Mendoza, fazer tudo o que eles me orientassem e dizer que cheguei ao cume ou ao menos tentei, mas o Aconcágua me ofereceria sensações que só escaladores experientes poderiam me explicar e necessitaria de muita força mental para suportar 20 dias na montanha com temperaturas e ambientes inóspitos, sem contar com a reação do meu organismo a altitude, afinal são 6962m. Da mesma forma que oriento meus clientes a não pular etapas no triathlon, a vencer cada distância, comemorar cada uma delas, adquirir experiência física e mental, pois sei da importância que isso tem, para só depois encarar um Ironman, resolvi fazer o mesmo com relação a altitude, perguntei sobre os diferentes destinos disponíveis e encontrei um de 5 dias, passando por 4 cumes chamados Cordón del Plata, entre 3300 e 3900m para depois subirmos ao Cerro San Bernardo a 4500m num percurso para se apreciar a natureza, bater muitas fotos, respirar ar puro, perceber como o corpo reage a altitude e saber se esse esporte é o que espero dele.
Portanto se você lembrar de mim entre a semana do Natal e ano novo, estarei pelas montanhas, nos Andes, perto do Aconcágua curtindo a natureza. Por mais que as pessoas por aí digam que 2011 já acabou, ainda dá tempo de fazer algo diferente e descobrir que a vida é uma só. Seja lá em que fase você esteja da sua, sempre dá tempo para aproveitá-la.
Assim que voltar deixarei algumas fotos e minhas impressões sobre algo que nunca fiz. E quem sabe volto com o sonho concreto de subir o Aconcágua um dia.
Enzo Amato
Momentos indescritíveis.
O feriado de finados não podia ter sido mais vivo.
Comecei o dia com um treino de 30km de corrida, tudo bem, almocei rápido e segui com a Paula para a mostra internacional de cinema de São Paulo, foi nosso 3º filme da mostra, esse sobre a contaminação que as mineiras causam na província onde a Paula nasceu, uma rede de pessoas corrompidas que detonam as riquezas naturais do país, colocam em risco a água para a população da província, que nem sequer recebe algo em troca por toda essa exploração. Revolta e provoca indignação por sermos tão maleáveis, aqui no Brasil a construção da usina de Belo Monte é outro exemplo parecido, um bom trecho do rio será desviado ceifando a forma de sustento de várias comunidades além de causar desequilíbrio populacional, mais desemprego a longo prazo, e pasmem, a energia produzida não será utilizada pela região.
O dia terminaria com uma palestra do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso na Sala São Paulo. Como tenho uma namorada que manda bem sobre política ela ganhou os ingressos respondendo a uma pergunta pelo Facebook. Íamos conhecer a Sala São Paulo e ouvir o FHC falar, estávamos animados por isso. Por volta de 300 pessoas, a grande maioria acima dos 50 e 60 anos. O nome do evento era “Fronteiras do pensamento” ele falaria, a partir do seu ponto de vista, um pouco sobre as mudanças pelas quais o Brasil vem passando num mundo globalizado. Logo no início mostrou seu humor afinado, apenas entrou e foi aplaudido por mais de 1 minuto e sua primeira frase foi ”tenho medo quando me aplaudem no início porque não sei o que será no final” falou de alguns livros que escreveu há mais de 30 anos, que naquela época eram relevantes, mas que lidos agora não descreveriam a realidade. Engraçado como podemos traçar um paralelo, por exemplo, na minha área de atuação faço rotinas diferentes das que fazia há apenas 5 anos atrás, outras até diferentes das que fazia há 6 meses atrás, e talvez daqui alguns anos com mais conhecimento e aprendizado me arrependa das que esteja fazendo agora, por outro lado vejo pessoas aplicando rotinas de mais de 40 anos, é impressionante como todas as áreas tem muito a evoluir e sempre se transformam, basta estarmos abertos e dispostos a enxergar ao nosso redor e admitir que em determinado momento da história era isso que era possível, mas que sempre podemos repensar. Aprendi muito sobre o passado do país, do futuro otimista que ele enxerga, democracia, mas chama a atenção a fluência com que ele fala, emendando as informações, não se esquecendo do ponto principal, falou por volta de 50min olhando nos olhos das pessoas, sem precisar ou ter um papel para ler. Me lembro que durante seu mandato sempre dava atenção às suas entrevistas, nesse dia pude ouvi-lo por quase uma hora, depois ainda foi entrevistado por mais meia hora falando um pouco sobre os bastidores do poder, do lado pessoal durante o mandato etc…
Terminada a palestra uma pequena aglomeração se formou no momento em que ele desceu as escadas, enquanto todos saíam em direção ao estacionamento ele foi para o outro lado, nessa hora sugeri à Paula que fôssemos atrás para tentar uma foto com ele.
Sem seguranças, sem policiais, apenas com poucas pessoas por perto, e supostamente esperando por um táxi, a Paula lhe perguntou diretamente se podiam fazer uma foto juntos, logo de cara ele percebeu que ela era Argentina, depois foi minha vez, aperto de mão, sorriso no rosto, foto batida e uma sensação indescritível que poucas pessoas poderiam proporcionar. Saímos felizes e admirados, por ter ouvido, e por posar ao lado de uma pessoa que fez diferença na história do país.
Maratón de Buenos Aires 2011.
Mejor marca personal con sólo 2 días de entrenamiento por semana!
Por José Eduardo O. Coimbra
Após o Ironman passo por um período de férias de vários meses. Dedico-me quase que exclusivamente à família, tento compensar as ausências dos grandes períodos de treinamento e preparação para essa prova. Além disso, sinto que preciso de uma longa recuperação física e, principalmente, emocional.
É claro, não fico paradão 100%. Treino com os amigos, acompanho uns e outros em suas jornadas, faço algumas coisas diferentes das quais tenho saudades (Ah, mas também deixo de fazer as coisas das quais não tenho saudades, por exemplo, natação).
Mas, como ninguém é de ferro, uma provinha ou outra pra manter a motivação está valendo. Nesse ano pensei, pensei, pensei e resolvi fazer a Maratona de Buenos Aires. “Pertinho” de casa, um final de semana romântico com a minha esposa, beleza, dá pra encarar!
Para tanto, estabeleci algumas condições de contorno:
- Nenhum compromisso obcecado com planilha;
- Não priorizar um treino em detrimento de um compromisso social, principalmente familiar;
- Treinos de corrida focados em qualidade e descanso;
- Apenas dois treinos de corrida por semana ( outros dois de bike c/ musculação );
- Os treinos longos sempre acima de 25km (são deles que eu gosto e que me dão grande prazer);
- Foco no resultado, objetivo com recorde pessoal: 3h 30min.
A princípio parece que há uma grande contradição aí: obter um recorde pessoal arrojado (o anterior era 3h50min) treinando apenas duas vezes por semana e sem priorização dos tais treinamentos?
Resolvi tentar e elaborei um plano de treinamento dividido em duas partes. Uma para os treinos longos e a outra para os de velocidade – período total de 10 semanas. Resumidamente fiz o seguinte: para os longos, sempre que aumentava a quilometragem o primeiro treino era feito a uma velocidade bem abaixo da desejada na prova, o treino seguinte da mesma quilometragem era realizado em um ritmo o mais próximo possível do da prova (limitado a 78% da FcMáx) até o treino de quilometragem máxima (35km). A partir daí todos os longões seriam feitos em ritmo de prova (5min/km ou a 78% da FCMáx).
O detalhamento (entre parênteses os valores reais):
Treinos longos aos domingo:
- 25km ( 5:40min/km );
- 28km ( 6min/km )
- 28km ( 5:40min/km );
- 30km ( 6min/km );
- 30km ( 5:20min/km );
- 33km ( 6min/km ) Na altitude de Poços de Caldas- MG;
- 35km ( 6min/km ) Em São Caetano com meu amigo Witney;
- 33km ( 5:08min/km );
- 30km ( 5:03min/km );
- 20km ( 6:10min/km )
- Maratona de Buenos Aires
Pode parecer um exagero, mas de tudo o que faço no esporte, o que me dá mais prazer são os treinos longos de corrida. Faço sem peso na consciência e ponto. Se tiver que pagar um preço alto por isso… assumo!
Treinos de velocidade nas quartas-feiras:
OBS: Dei o nome de Matriz Progressiva – coisa de Engenheiro rs rs rs rs (em esteira, com variação de inclinação e velocidade). Até a semana 6 a matriz foi progressiva no volume e na inclinação da esteira, após, progressiva na velocidade (com diminuição na inclinação e no volume).
- 5x1000m
- 6x1000m
- 3x2000m
- 4x2000m
- 2x3000m
- 3x3000m
- 4x2000m
- 4x2000m
- 3x2000m
- 4x500m
- Maratona de Buenos Aires
A semana 7 foi a única que fiz um terceiro dia de treino, numa sexta-feira, treino de ritmo: 2km de aquecimento, 8km a 4:12min/km e 2km de desaquecimento. Como se fosse um vestibular (rs), queria medir meu desempenho até a data, o comportamento da minha frequência cardíaca, o acúmulo de lactato, etc.
Prontinho! Tudo feito do jeitinho que foi descrito acima. Ganhei muita confiança nas últimas semanas. Fiz os dois últimos longões em ritmo de prova e a frequência cardíaca permaneceu abaixo daquela estipulada, pensei comigo: “CARACA, TÁ DANDO CERTO, MINHA ESTRATÉGIA ESTÁ FUNCIONANDO, MINHA PERFORMANCE MELHOROU LENTA E PROGRESSIVAMENTE, MARAVILHA, TÔ NA PROVA!!!!!” Minha única dúvida estava por conta da temperatura local ambiente no dia “D”. No calor meu “radiador” ferve e eu perco muita performance.
Guarulhos, 04:30h da manhã:
– “Mis hermanos de Buenos Aires … estoy llegando !!!!!
As 10:40h eu estava entrando no hotel. Deixamos as bagagens, encontrei meu amigo Witney e esposa e fomos conhecer a cidade. Andamos, ida e volta até a arena de retirada do kit, uns 5km.
Witney e Sergio usando “GPS” (os braços já estão ficando curtos, rs rs rs)
Paramos no meio do caminho, lá pelas 16h num rodízio de massas. Vale a observação: um boi não come macarrão mas se o fizesse teria comido bem menos do que nós rs rs rs.
A cidade realmente é linda, seus monumentos e sua arquitetura são espetaculares. O ponto negativo se deve à relativa inoperância do estado em conservar tudo aquilo… dá dó do nível de deterioração daquele patrimônio todo, você fica dividido entre a maravilha e a indignação, os sentimentos se misturam constantemente, não há como dissociar um do outro. Algo muito parecido com o que acontece aqui, porém o prejuízo cultural é maior lá, com certeza.
Acordei 03h45min, fiz a barba – como de praxe – preparei minha alimentação e saímos.
Aí tivemos o momento mais tenso do dia… ônibus, taxi ou trem? Optamos por sair mais cedo e pegar um ônibus, a princípio mais garantido, pois havia o risco dos taxistas sumirem as 06h da manhã tamanha a demanda.
Fomos então à busca do famosíssimo coletivo 152. Garoa forte, frio, queixo batendo, lá vem o 152. Entramos e nos sentimos em casa…
– Estamos na prova!
Nesse momento o Sergião ( nosso “GPS” analógico ) teve a gloriosa iniciativa de trocar algumas palavras em bom português com o motorista, este nos informou que estávamos no sentido errado, queríamos ir para “Santana” e estávamos indo para o “Jabaquara”.
– Que merda!!!!!! Desce, desce, desce!!!!!
Perguntei:
– Sergião, vc tem certeza? Não é um trote do Portenho?
Descemos do coletivo e atravessamos a praça, 06:15 da matina e já havíamos perdido preciosos minutos.
-Cadê o 152 sentido “Santana”?
Deus ajudou e logo veio o majestoso 152, novamente. Que maravilha, voltamos para a prova! Era portunhol para tudo quanto era lado para garantir que o sentido da viagem, desta feita, estava correto. O motorista já estava com os miúdos cheios de tanto que o Sergião perguntava se estávamos certo, quanto tempo faltava, etc, etc, etc.
Após 20 minutos de viagem nenhum maratonista avistado na rua ou entrando no nosso coletivo… Hummm.
– Kct, estamos na roça, se esse motorista não tiver entendendo o Sergião, não voltamos mais, nem de taxi!
Já eram 6:50h e nada de chegar ( largada as 7:30h ). Foi quando um passageiro, Colombiano, Paraguaio, Guarani, ou coisa que o valha, viu meu número no peito e perguntou:
– Maratón?
Pronto! Gelei! Fui logo olhando para os pés da fera “indígena” pra saber se ele tinha algum viés de atleta, no caso maratonista… Decepção, ele calçava um “Rainha” Classic todo arregaçado e sem cadarço.
– Aaaaaaiiii meu Deus!!!!!! Pensei…
Ele disse:
– Es por aquí, y puede ir directamente por este camino!
E agora… em quem acreditar, no motorista que falou que ainda faltava uns 10 minutos de viagem, ou no Guarani que disse que era ali?
O ônibus parou, olhamos uns para os outros e… “Minha mãe mandou bater nesse daqui, mas como eu sou teimoso vou acreditar no… Guarani!”
Descemos!!!!!
Andamos, andamos, andamos, 07:05h e absolutamente nenhum sinal de maratona, nenhuma rua fechada, nenhum atleta na rua, ninguém brigando por vaga para estacionar, nenhum flanelinha, nada de som com locutor frenético, nada, nada, nada!
Bateu aquela culpa… confiamos no Guarani!!!!! E o motorista do ônibus está nos procurando até agora:
– Dónde están los tres brasileños que me demonizan hasta ahora?
Apertamos o passo e chegamos numa avenida bem movimentada, perguntamos para um porteiro de prédio onde era a tal maratona, ele:
-Maratón?????
O pior não foi a cara de interrogação, mas sim o olhar dele bem lentamente para os dois sentidos da avenida também procurando a tal maratona.
-Minha nossa Senhora!!!! Exclamei.
Não é possível, será que eu cheguei até aqui e vou “morrer” na praia?
Foi então que Deus ajudou de novo. Apareceu do nada um rapaz, ligeiramente barrigudo, alto, com um shorts comprido quase na altura dos joelhos mas, acreditem, usando um tênis bom, de marca, pensei: será?
Nessa hora (do desespero) foram os três pra cima dele:
– Maratón? Maratón?, Maratón? Maratón? (agora todo mundo já falava espanhol, nem que fosse uma única palavra: MARATÓN ). Estão rindo? A necessidade é a mãe da criatividade, mais um pouquinho e eu já estava falando japonês.
O tal Eduardo, meu xará, jornalista do Clarin, estava indo para a sua primeira maratona, também atrasado graças a Deus:
– Síganme! Conozco un atajo!
Maravilha! Estou na prova pela terceira, ou quarta vez, sei lá. Esse cara deve ter caído do céu, não é possível.
Pra encurtar essa história, depois de dois motoristas de ônibus, um dono de banca de jornal, um porteiro, um jornalista e um inesquecível Guarani, as 07h e 28min chegamos no “trem” de largada. Ufa! Mas com um problemão: minha bexiga estava cheia e eu já havia decidido que o tal lastro seria carregado até onde fosse possível. E o foi até o final da prova, não sei como…
Aquecido eu já estava, perdi o Witney e o Sergião que foram procurar um guarda-volumes. Pensei:
– Como será “guarda-volumes” em espanhol??? Essa parte eu perdi! rs rs rs
A MARATONA
Já saí feliz, estava ali e o resto era comigo. Não dependia mais do meu “amigo” Guarani. Ritmo encaixado e a estratégia definida sendo colocada em prática. Meu planejamento era fazer uma boa meia maratona, sentindo a prova e as reações do meu corpo. E assim foi, fechei a meia em 1h44min, tranquilo, com minha frequência cardíaca estabilizada e a alimentação indo muito bem obrigado.
A prova é muito bonita, gostosa, e possível de ser curtida. Passamos por vários pontos turísticos: Centro Velho, Casa Rosada, La Bombonera, Puerto Madero e outros. Muita gente nas ruas incentivando os atletas e muitos atletas brasileiros. A organização da prova foi excelente, os postos de hidratação bem distribuídos, os voluntários muito simpáticos e tudo funcionando direitinho.
Minha confiança foi aumentando bastante na segunda metade da prova. Passando pelo km 30 pintou aquela certeza de que meu recorde pessoal viria e possivelmente conforme eu idealizei: 3h30min.
Em provas de endurance esse momento é muito importante para mim. É nele que eu consigo sentir a razão sublime do esporte na minha vida. Há uma conjunção entre felicidade, amor, saúde, amigos, família e Deus, não consigo explicar, é uma sensação que só o esporte pode me dar. Não penso em dor, em cansaço, mas sim na minha capacidade de realizar aquilo. A emoção ali é maior do que aquela da linha de chegada, é a emoção grandiosa da vitória sem que eu ainda tenha chegado a ela. Quanto ao choro… vou pular essa parte!
O final se aproxima, km 38 e estou quase um minuto adiantado. Pace mantido, vantagem também mantida. Linha derradeira à vista… fim de mais um desafio. Maratona de Buenos Aires cravada rigorosamente conforme planejado, tempo oficial: 3h:29min:02s (4:57min/km).
Fiquei muito feliz, não só pelo resultado, mas pela comprovação de que o protocolo que estabeleci nas dez semanas que antecederam a prova deu certo. Fiz exatamente o que treinei para fazer e hoje eu sou capaz de afirmar que é possível realizar uma maratona bem feita com apenas dois treinos de corrida por semana, mas, não posso deixar de considerar que a maturidade atlética de cada indivíduo tem um peso muito importante.
Finalmente, tenho que agradecer a uma pessoa muito bacana (deixa-me ativar aqui a tecla Caps Lock ): MEU COACH E AMIGO ENZO!!!! Ele não elaborou meus treinamentos, não acompanhou minha planilha, não treinou do meu lado como das outras vezes, mas esteve bastante presente com os seus infindáveis ensinamentos transmitidos nos últimos 3 anos de preparação conjunta para as provas de Ironman. Ele me ensinou a respeitar o meu corpo, a valorizar o descanso, a treinar com qualidade e sabedoria, a controlar as emoções e a dignificar nosso esporte. Se eu acertei o alvo foi porque ele me ajudou na mira. Valeu Professor!!!!!!!!!!
Não posso deixar de agradecer, também, ao meu Amor, à minha bailarina, à minha corredora de média distância… à minha ESPOSA ANGELA. Eu não sou fácil! Testo a paciência dela todos os dias, mas mesmo assim ela me acompanha e me tolera. Beijos AMOR!!!!!
Como estamos falando em mira, tenho que ser honesto ( tecla Caps Lock de novo ) , pelo sim, pelo não, tenho que agradecer a colaboração do nosso amigo GUARANI. Valeu! Acertamos o alvo (a largada) em dois minutos, nooooossa!!!!!!
– Muchas gracias señor Guaraní Porteño! Hasta la próxima!!!!!
José Eduardo O. Coimbra