Run Base Adidas.

Fui a um evento que a agência espalhe fez na nova Run Base da Adidas, que fica uma quadra antes do portão 1 da USP. Rua Engenheiro Teixeira Soares, 715.  O evento era para apresentar a linha Climachill e aproveitei para saber mais sobre o que é uma Run Base.

A Adidas tem somente outras 4 no mundo e São Paulo é a 5ª. É um espaço para qualquer corredor utilizar, conta com vestiário, armários, chuveiros e você pode até pegar um dos modelos top da marca, usar para treinar e depois devolver. Vale a pena passar lá e conferir!

Quem for na Maratona de SP, logo após o km 21 vai passar em frente a Run Base.

Enzo Amato.


Tênis The North Face Ultra Trail, novo, mas fora de combate.

E se?

Nunca me passou pela cabeça que numa corrida eu poderia ser forçado a desistir por causa de equipamento.

Já havia pensado nisso em várias provas de Ironman que fiz, e se a bike quebrar? Nas mesmas provas bastava eu calçar os tênis e logo pensava pronto, agora só depende de mim!

Sim, você consegue ver o outro lado!

Aconteceu na Ultra Fiord, minha primeira corrida de três dígitos, o percurso foi extremamente difícil, com muita lama e pedras. Quando ainda faltavam longos 60km percebi que meu tênis estava rasgado, e além do desgaste físico isso aumentou meu desgaste mental. Me perguntava, e se o tênis me deixar descalço e sem possibilidade de usá-lo?

E se eu tivesse que abandonar por causa do tênis?

Os pontos de abastecimento ficavam longe uns dos outros e seria um tremendo mal bocado acontecer isso. Fiquei p…, com esse pensamento por horas, mas continuei, finalmente o percurso aliviou quando faltavam 44km, o rasgo parou de aumentar e pude chegar.

Antes da largada estava muito confiante com o calçado pelo conforto que ele me daria na prova mais longa que fiz até hoje. Clique e leia o que achei dele assim que usei a primeira vez.

Seja de R$100, ou mil reais, nenhum tênis é feito para rasgar. Essa foi a 3ª prova dele, uma de 7 horas na primeira, outra de 5 horas e agora, depois de umas 14 horas percebi o rasgo, me faltavam 14 para terminar a prova, ou seja 26 horas de uso em provas de trilha, solado ainda novo e tênis no lixo. Pensamentos ruins por horas num local inóspito e socorro longe. Justo com um modelo batizado de Ultra Trail?!?!?!?

O cabedal precisa urgentemente de novos ajustes para que isso não ocorra mais. Pode influenciar um pouco no peso, mas vale a pena, o modelo é muito bom para que uma falha no cabedal o deixe com a imagem na lama, ou me desclassifique de uma prova importante.

Enzo Amato.


Testei a camiseta Adidas Climachill

Camiseta Adidas Climachill.

Ao se exercitar seu corpo esquenta e já faz tempo que as camisetas repelem o suor, consequentemente secam mais rápido, que por sua vez não te superaquecem. A tecnologia climachill colocou fios de titânio nas fibras, e superou tudo o que conhecíamos até hoje. Se tem alguém cético com relação a novidades do mundo fitness sou eu. Vivo no meio, sou professor e sei que os atrativos surgem como forma de aumentar vendas e não pela funcionalidade.

De marra lançaram a camiseta na cor preta propositalmente para provar seu ponto. Fui testá-la nos treinos de corrida e na musculação.

Pontos de alumínio na parte superior das costas.

Ela tem pequenos pontos de alumínio na parte superior das costas que dão a sensação de pingos de água gelada quando bate uma brisa, esses pontos também mantém a camiseta afastada do corpo e mais ventilada. Não sei dimensionar o quanto ela pode retardar o aumento da temperatura corporal, mas a Adidas conseguiu fazer um acessório contar pontos a favor do desempenho e isso pode fazer toda diferença nas provas. Também chama a atenção por ser muito leve.

O corte fica bem para academia deixando o corpo marcado no peitoral e até esconde se a barriga ainda não for tanquinho.

Gosto de números, e ficaria encantado se tivesse mais dados científicos para comprovar essa nova tecnologia climachill, mas por enquanto me contento em treinar forte com camiseta preta sem derreter. Na prática funciona!

Preço sugerido camiseta manga curta masculina R$149,90

Clique e conheça algumas peças da linha Climachill, inclusive para as mulheres.

Enzo Amato


Revisão do Puma Ignite

A Puma é a marca que mais consegue aliar corrida com um estilo casual, ele resolve na hora de correr e ainda vai bem com jeans.

Puma Ignite (abril 2015)

A primeira impressão é que é um pouco mais duro que seus concorrentes, mas nada que alguns quilômetros para amaciar a parte que os dedos estendem não resolvam. Se o seu uso abrange corrida, musculação e também passeios casuais os modelos da Puma sempre tem que ser levados em conta. Gostei mais do vermelho do que esse que o Bolt usa no vídeo.

Reparou no vídeo que ele aterriza com o pé inteiro?

Ter o drop de 12mm me faz chegar nos 10km com as panturrilhas mais cansadas, mas isso é pessoal pois acostumei com drop mais baixo e na verdade o que incomoda é a troca de um baixo para um alto e vice versa. Os tênis de corrida mais populares do mercado tem esse drop. Um detalhe interessante é que todo o solado tem contato com o solo, não deixaram o arco do pé elevado e mais contato significa mais aderência, além de dissipar melhor a força nos pontos de contato.

A parte interna não tem nenhuma costura ou “juntas” que possam facilitar uma bolha, o calcanhar é firme bem como toda a dianteira do cabedal, o que o torna menos arejado, em contrapartida vai ser difícil um corredor pesado deformar o calçado mantendo o visual por mais tempo.

A língua é feita de 2 texturas diferentes uma igual a do tênis, e outra mais fina que acabou manchando minha meia branca nos primeiros treinos, melhor usar uma meia escura. Apesar dos poucos quilômetros rodados ele vem agradando até agora.

Peso: A marca divulga 258gr o tamanho 40.

Preço sugerido R$499


Ultra Fiord 2015, mis largos 114km.

En plena noche oscura y profunda de luna menguante, solo en un bosque viendo nada más que el brillo de la luz de la linterna, con 16 horas de corrida en las piernas, hacía poco que había pasado por la mitad del recorrido y estaba en mi peor momento mental, descubrí que estuve dando vueltas por un tiempo y me parecía que eso me estaba pasando de nuevo, sin encontrar otro corredor ni el punto de apoyo siguiente la desesperación empezó a golpearme, la zapatilla estaba rajada y lo único que no quería era encontrar de nuevo el mismo punto que había pasado horas antes para que las ganas de abandonar no me ganaran por completo.

Nada de lo que hice hasta ahora se compara a la Ultra Fiord. Yo quería exigirme más, pasar de los 80 para los 100km, pero lejos eso se volvió el deafío deportivo más grande que ya enfrenté.

Amaneció el viernes y un poco menos de 50 corredores largamos, los primeros 5km fueron de pasto y tuve el gusto de acompañar a dos de las embajadoras de la corrida, las norteamericanas Britt Nic Dick y Krissy Moehl, quien ya venció en el Mont-Blanc, era un ritmo fuerte para mí, pero hasta que el barro no apareció pude estar atrás de ellas, rápidamente cruzamos un rio con agua hasta la cintura dictando lo que sería trivial en las próximas 28 horas, pies mojados.

El recorrido se puso lento y las dos continuaron, poca corrida y barro hasta las canillas, después de 3 horas me di cuenta que el frío podría complicarme, las manos estaban duras, sin fuerza y el cuerpo helado, como el comienzo fue más acelerado terminé sacándome el rompe viento, pero no me di cuenta que el frío me fue dominando de a poco, a tiempo de evitar una hipotermia me detuve para ponerme otro abrigo y el rompe viento y me sentí mejor.

Con más de 5 horas llegué al punto de control del km 29 al pié de la montaña, tomé sopa y disfruté algunos minutos mientras sacaba mi bolsa de comida para reabastecer la mochila ya que solo encontraría otro punto dentro de varias horas. Un glaciar monstruoso nos observaba de cerca y soltaba avalanchas con ruídos de truenos asustadores, paré en el lago para sacar una piedra que me molestaba más que todo el barro que cargaba hace horas.

Seguí firme montaña arriba sin sendero marcado, apenas siguiendo las marcas de la corrida, era una caminada lenta pero constante, pasé la neblina hasta poder ver el tamaño real de las montañas con hielo eterno que me rodeaban, esa vista hacía que el esfuerzo valiera la pena, sin tener que pensar mucho en la respuesta cuando me preguntan porqué corro, fueron más de 2 horas subiendo hasta llegar al glaciar, caminar en la nieve con zapatillas era muy resbaladizo y el bastón facilitó esta tarea, el esfuerzo parecía interminable, pero yo todavía lo disfrutaba, ya que era algo que nunca había hecho. Fueron 3 lentos kilometros más en la nieve con derecho a tratar de esquiar en la bajada, valía ir sentado también. 

Enzo y un lago azul hipnotizante

En la bajada encontré al segundo colocado de las 100 millas, mi tocayo Enzo Ferrari, seguimos juntos por un tiempo y cuando empezó a oscurecer él aceleró su paso y nos separamos. Pasé por el control del km 45 y encontré a la fuerte corredora argentina Sofi Cantilo que acababa de abandonar por lesión (llegaría al hotel 24hs después) corrí varias horas concentrado siguiendo las marcas, pero de repente veo dos linternas en la dirección contraria y me preguntan porqué estoy yendo en contra mano, me quedé atónito por algunos segundos tratando de entender como había estado yendo para el lado equivocado si estuve todo el tiempo siguiendo las marcas, 10 minutos después estabamos en el punto del km 58 eran 23.30 de la noche y descubro que Enzo había pasado por ahí una hora más temprano, esa noticia me desmoronó. Incluso más rápido no daría tiempo para que abriera una hora de diferencia y eso me hizo pensar por un buen rato en cuánto había estado esforzándome para ir hacia el lado equivocado. Pude volver mentalmente a la corrida por un tiempo, hasta corriendo más rápido que antes, pero de nuevo me vi solo en el sendero, crucé varias veces el mismo rio a veces subía otras bajaba, intenté estar atento a pequeños detalles como ese para estar seguro de que estaba yendo hacia el lado correcto, descubrí que mi zapatilla estaba rajada y la duda sobre el camino tomaba proporciones que escapaban de control, minutos parecían horas y pensaba en que haría si encontraba de nuevo el km 58 o si encontraba a Sofi en el 45. Incluso sabiendo que es normal perderse en corridas de montaña, en este momento, esto talvez sería determinante para que desistiera.

Finalmente veo a alguien que estaba yendo para el mismo lado que yo, menos mal, empiezo a seguirlo, lo único que quería en aquel momento era correr con alguien más, aunque tuviera que acelerar un poco el ritmo, era un venezolano que vive en Santiago llamado Alvaro, le pedí sin vergüenza que no me dejara para atrás porque mi mente no estaba jugando a mi favor, atrasando un poco su paso me esperó, los senderos llenos de barro nunca nos dejaron y a las 3 de la mañana llegamos al km 70 donde otra bolsa y otra cocina con comida me esperaba, comí un plato de pasta con carne, sopa, café y me quedé ahí una hora, había decidido que si me quedaba más tiempo ahí esperando correría menos de noche y más durante el dia iluminado, me faltaban 44km para completar los oficiales 114km de corrida, a partir de este punto era calle de tierra, le agradecí a Alvaro y me despedí diciéndole que me encontraría más adelante ya que yo continuaría lento, estaba cargado con comida, el próximo punto de control sería recién en el km 93. Cerca del km 72 la linterna apunta para 4 ojitos brillantes a un costado del camino, dos zorros, yo no sabía si atacaban humanos o no, seguí mi camino y uno de ellos también decidió seguirme, traté de espantarlo sin exito, corrí fuerte como si fuera el principio de la corrida y el zorro seguía atrás, me detuve y levanté los brazos, finalmente se fue y volví a correr como que ya había corrido 72km, bien lento. A esta altura podía correr despacio y caminar rápido, así seguí hasta que Alvaro me alcanzó de nuevo y en el puesto del km 93 nos separamos otra vez, él estaba más entero, me quedé unos 15 minutos en el puesto, tomé sopa, ya había amanecido y ya llebaba más de 24 horas de corrida.

Partí para los últimos 20km con dolores fuertes en los tobillos y sin capacidad de caminar rápido, por más que pensara en llegar rápido para avisar a la familia, no podía ir más rápido, eran líneas interminables de camino de tierra hasta alcanzar el asfalto que llebaba a Puerto Natales, esos últimos 6km, como un sprint final, pude volver a correr, la gente en los autos tocaba bocina y alentaban, eso ya era suficiente para emocionarme, no podía filmar y la voz me temblaba, el auto de la policía me escoltó el último km, me sentía como si fuera el primer colocado, la llegada fue tan emocionante como las últimas 28 horas, condensada de buenos y malos momentos, pero sin duda es algo que nunca voy a olvidar, pude completar no cualquier 114km, que ya era bastante, si no los 114km de la edición inaugural de la Ultra Fiord.

No era simplemente entrenar, llegar y correr, fue la coincidencia de cruzarme con las personas correctas durante el recorrido, de inspirarme en las que conocía, de superar el clima inospito, las adversidades y tener actitud. Solo 58% de los que largaron terminaron la corrida. Si sos adepto a mientras peor mejor, la Ultra Fiord va a quedar en tu corazón.

Enzo Amato


Yaboty Ultra Maraton e Fiambala Desert Trail

Duas das provas mais legais na Argentina tem inscrições disponíveis no MidiaSport.

Yaboty Ultra Marathon (maior corrida non stop de selva) 19/09/2015

Essa está na minha lista, paisagem de floresta perto da divisa entre Brasil e Argentina na província de Misiones, com 5 distâncias para avançados e iniciantes 12, 26, 42, 70 e 100km. Clique para inscrição.

Fiambala 2014
Foto: Paolo Avila

O mesmo organizador promove uma corrida em deserto, a Fiambala Desert Trail, 6/6/2015 a prova é toda por areia, num cenário maravilhoso com montanhas de mais de 6mil metros ao redor, algo realmente inóspito e diferente, fiz 80km em 2014 (clique e assista ao vídeo) e para 2015 parece que a logística ficou mais fácil para a torcida com largada e chegada no mesmo local. Província de Catamarca com 10, 35, 54 e 95km. Clique para inscrição.

Ambas tem inscrições disponíveis pelo MidiaSport.


Ultra Fiord 2015, meus longos 114km.

Em plena noite escura e profunda de lua minguante, sozinho num bosque enxergando nada mais que o feixe de luz da lanterna, com 16 horas de corrida nas pernas, havia passado há pouco pela metade do caminho e estava no meu pior momento mental, descobri que estive dando voltas por algum tempo e achava que o mesmo poderia estar passando novamente, sem encontrar outro corredor nem o próximo ponto de apoio o desespero começou a bater, o tênis estava rasgado e o único que não queria era encontrar o mesmo ponto que já havia passado horas antes para que a vontade de desistir não me ganhasse por completo. (hacé click para leer en español)

Nada do que fiz até hoje pode se comparar a Ultra Fiord. Eu só queria aumentar a barra, passar dos 80 para os 100km, mas isso se tornou de longe, o maior desafio esportivo que já enfrentei.

A Sexta feira clareou e pouco menos de 50 corredores largamos, os primeiros 5km foram de pasto e tive o prazer de acompanhar duas das embaixadoras da prova, as norte americanas Britt Nic Dick e Krissy Moehl, que já venceu no Mont-Blanc, era um ritmo forte pra mim, mas enquanto a lama não chegou consegui ficar na cola delas e logo de cara cruzamos um rio com água acima da cintura ditando o que seria trivial pelas próximas 28 horas, pés molhados.

O percurso passou a ficar travado e as duas seguiram, pouca corrida e lama até a canela, depois de 3 horas percebi que o frio poderia me complicar, as mãos estavam duras, sem força e o corpo gelado, como o início foi forte acabei tirando o corta vento, mas não percebi que o frio foi me dominando aos poucos, em tempo antes de uma hipotermia parei para vestir outra blusa e o corta vento e passei a  me sentir bem melhor.

Com mais de 5 horas cheguei ao ponto de controle no km 29 ao pé da montanha, tomei sopa e desfrutei alguns minutos enquanto pegava minha sacola de comidas para reabastecer a mochila já que só encontraria outro ponto dali várias horas. Uma geleira monstruosa nos observava de perto e soltava avalanches com ruídos de trovões assustadores, parei no lago para tirar uma pedra que incomodava mais que toda lama que carregava há horas.

Subida dura até vencer a serração.

 Segui firme e forte montanha acima sem trilha marcada, apenas seguindo as marcações da prova, era uma caminhada lenta, mas constante, passei a linha da neblina até poder ver o real tamanho das montanhas com gelo eterno que me rodeavam, toda aquela vista fazia o esforço valer a pena, sem precisar pensar muito na resposta quando perguntam porque corro, foram mais de 2 horas subindo até chegar ao glaciar, caminhar na neve de tênis era bem escorregadio e o bastão facilitou a tarefa, o esforço parecia interminável, mas eu ainda desfrutava, pois era algo que nunca tinha feito. Foram mais de 3 lentos quilômetros na neve com direito a tentar esquiar na descida, valia ir sentado também.

Enzo e um lago azul hipnotizante

Na descida encontrei o segundo colocado das 100 milhas, meu xará Enzo Ferrari, seguimos juntos por algum tempo e quando começou a escurecer ele apertou o passo e nos separamos. Passei no controle do km 45 e encontrei a forte corredora argentina Sofi Cantilo que acabará de abandonar por lesão (chegaria no hotel 24hs depois) corri várias horas concentrado seguindo as marcações, mas de repente vejo duas lanternas na direção contrária e me perguntam porque estou indo na contra mão, fico atônito por alguns segundos tentando entender como estava indo pro lado errado se fiquei o tempo todo seguindo as marcas, 10 minutos depois estávamos no ponto do km 58 era 23:30 da noite e descubro que Enzo havia passado por lá uma hora mais cedo, essa notícia me desmontou. Mesmo mais rápido não daria tempo dele abrir uma hora e isso me fez pensar por um bom tempo quanto estava me esforçando para ir pro lado errado. Consegui voltar mentalmente pra prova por um tempo, correndo até melhor do que antes, mas novamente me vi sozinho na trilha, cruzei várias vezes o mesmo rio e ora ele subia ora descia, tentei ficar esperto em pequenos detalhes como esse para ter certeza de que estava indo para o lado certo, descobri que meu tênis estava rasgado e a dúvida no caminho tomava proporções que fugiam do meu controle, minutos pareciam horas e ficava pensando no que faria se encontrasse o km 58 novamente ou se encontrasse a Sofi no 45. Mesmo sabendo que é até normal se perder em provas de trilha isso talvez fosse determinante para minha desistência naquele momento.

Finalmente vejo alguém e estava indo para o mesmo lado que eu, menos mal, passo a segui-lo, o único que queria naquele momento era correr com mais alguém, mesmo que tivesse que acelerar um pouco o ritmo, era um venezuelano que vive em Santiago chamado Alvaro, pedi a ele sem o menor pudor que não me deixasse pra trás porque minha mente não estava jogando a meu favor, ele mesmo retardando um pouco o passo me esperou, as trilhas lamacentas nunca nos deixaram, e as 3 da manhã chegamos ao km 70 onde outra sacola e outra cozinha com comida me esperava, comi um prato de macarrão com carne, sopa, café e fiquei lá por uma hora, havia decidido que se ficasse mais tempo lá parado correria menos a noite e mais com dia claro, me faltavam 44km para completar os oficiais 114km da prova, a partir dali era só estrada de terra, agradeci e me despedi do Alvaro dizendo que ele me encontraria logo adiante porque eu continuaria devagar, estava carregado com comida, o próximo ponto de controle seria só no km 93, mas ainda por volta do 72 a lanterna aponta para 4 olhinhos brilhantes ao lado da estrada, duas raposas, até aquele ponto não sabia se elas atacavam humanos ou não, segui meu caminho, mas uma delas também resolveu me seguir, tentei espantá-la sem sucesso, passei a correr forte como no início da prova e ela vindo atrás, parei e levantei os braços, relutante ela finalmente se foi e eu voltei a correr como se já tivesse feito 72km, bem devagar. Nessa altura conseguia correr devagar e caminhar rápido, segui assim até o Alvaro me alcançar novamente e no posto do km 93 nos separamos novamente, ele estava mais inteiro, fiquei uns 15 minutos na barraca, tomei sopa, já havia amanhecido e eu tinha completado mais de 24 horas de prova.

Parti para os últimos 20km já com fortes dores nos tornozelos e sem a capacidade de caminhar rápido, e por mais que pensasse em chegar logo para avisar a família não conseguia ir mais rápido, eram retas intermináveis de estrada de terra até alcançar o asfalto que levava a Puerto Natales, esses últimos 6km, como num sprint final, consegui voltar a correr, as pessoas nos carros buzinavam e acenavam e só isso era suficiente para me emocionar, não conseguia filmar a voz estava embargada, o carro da polícia me escoltou o último km, me sentia o primeiro colocado, a chegada foi tão emocionante quanto as últimas 28 horas, condensada de bons e maus momentos, mas sem dúvida é algo que nunca vou esquecer, consegui completar não qualquer 114km, que já seria muito, mas os 114km da edição inaugural da Ultra Fiord. 

Não era só treinar, chegar lá e correr, passou pela coincidência de cruzar as pessoas certas no percurso de me inspirar com as que conheci antes, de superar o clima inóspito as adversidades e ter atitude. Só 58% dos que largaram concluíram a prova. Se você é adepto do quanto pior melhor a Ultra Fiord vai ficar no seu coração.

Enzo Amato


1 semana para meus 100km, fase final de preparação.

4 meses passaram voando.

Nas últimas semanas os treinos mudam de cara, deixam de ser majoritariamente físicos e passam a ser mais mentais do que antes. O corpo vai ganhando intervalos maiores entre treinos que são cada vez mais reduzidos. Continuo fazendo com intensidade para manter a confiança de que estou bem fisicamente, pois a cabeça começa a te colocar em dúvida com tantos descansos, mas basta recordar de tudo o que foi feito até agora e dar uma acelerada que a autoconfiança tem que superar a dúvida e a ansiedade.

Nas últimas semanas é hora de separar os equipamentos, comprar as comidas, devorar o site da prova para armar sua estratégia, para ser dono dela e ir com vontade, saber o que colocar nas sacolas que estarão no caminho, com que roupa começar e qual usar na montanha. Tudo isso completa sua agenda que ficou meio vazia com a falta de treinos de antes.

Os descansos dão tempo para o corpo se recuperar totalmente dos treinos, que na fase final podem mais atrapalhar do que ajudar. Não adianta estar bem na largada, precisa continuar bem lá na frente também e largar com menos de 100% é burrice. Meu último treino longo de 4 horas foi há 4 semanas antes da prova, a musculação foi reduzida para 2 séries ao invés de 3, faltando 2 semanas fiz pouco menos de 2 horas e os treinos da semana não passaram de 7km. É tudo muito individual, mas o objetivo é não estar cansado até o meio da prova, coisa que o excesso de treino na fase final pode causar.

Amanhã embarco para o sul do Chile para correr a Ultra Fiord, o desafio físico e mental mais difícil que me propus a fazer até hoje e não vejo a hora de poder dividir essa experiência com todos.

Até a volta!

Enzo Amato


Como escolher seu tênis de corrida! (1)

Existem características importantes na hora de escolher um tênis.

São elas, preço, drop, peso, altura, conforto, beleza, uso e tamanho.

Vou citar o que cada uma tem isoladamente, sempre lembrando que elas se inter-relacionam. Quando uma é demais, provavelmente as outras são de menos, mas é você que vai ponderar e fazer a escolha.

Preço: No Brasil é caríssimo principalmente os lançamentos e os que tem propaganda nos meios de comunicação, mas não são necessariamente os melhores. Tendem a ser mais generalistas, servindo bem para fazer um pouco de tudo, desde passeios até musculação e corrida.

Drop: É a diferença de altura do calcanhar para o ante pé, vai de zero a 14mm, quanto menor o drop, mais paralelo ao solo seu pé está, o que favorece muito quem corre com boa técnica aterrizando com o ante pé. Quem está acostumado a aterrizar com o calcanhar, que ainda é a maioria dos corredores, não sentirá diferença significativa nessa característica, porém passar de um alto para um baixo ou vice versa vai causar desconforto, mudar a técnica exige o cuidado e orientação de um professor.

Peso: Se você costuma usar sapatos, até o tênis mais pesado vai parecer leve, mas comparando tênis com tênis, tamanho 40, entre 240 e 350gr. são aqueles mais generalistas e caros, que servem bem pra fazer tudo, já os que tem menos de 220gr considero bom para desempenho, porém tem vida útil mais curta. Essa é a característica que sozinha não diz muita coisa, mas quando associada com as outras, pode fazer toda diferença na hora da escolha.

Altura: Por acharem que não nos importamos, as marcas não divulgam esse item importante para quem corre sério. Já imaginou quanto se perde de estabilidade no tornozelo correndo de plataforma? Quanto mais alto seu pé estiver do solo, menos estabilidade terá, provavelmente agregue mais em conforto, mas nada que justifique alguns modelos altíssimos, dá pra encontrar tênis mais baixos e confortáveis. Para correr numa esteira o risco de torção é menor, mas correr em superfície irregular é um dado a se considerar. Desempenho também está relacionado a pé próximo ao solo, pois toda força aplicada no solo tem que ser revertida em impulso e quanto mais borracha no meio do caminho, mais a força será dissipada (não acredite quando as marcas dizem que seus tênis ajudam no amortecimento e na impulsão) nem o marketing dribla as leis da física.

Conforto: Geralmente tem solado grosso, é macio, o drop é alto, o que o afasta da linha desempenho e trás para a linha de generalista servindo para fazer tudo, mas não sendo “o melhor” em nenhuma delas, já que para musculação deve ser duro e para corrida leve, mas é característica importante quando o foco é o público em geral.

Beleza: É subjetivo, é legal ter um tênis que você goste de usar e que combine com seu estilo. Pode até fazer você treinar com mais frequência por causa disso.

Uso: Novamente os generalistas, são mais caros, mais confortáveis e tem maior vida útil com relação aos de desempenho, acabam servindo para várias atividades, desde passeios a corridas mais longas. Se você usa tênis para passear, escolha aquele que também vai combinar com seu estilo de vestir.

Tamanho: Ao calçar na loja o seu número fica bom, mas se for para correr pegue um maior. Meus sapatos são 39, mas algumas marcas de tênis uso 40 e outras 41. Nunca compre o número exato se a intenção é correr.

Imagem: Shutterstock

Pessoalmente: a primeira característica que busco é o drop baixo, pois com a técnica de aterrizar com o ante pé, ter o drop muito alto faz as panturrilhas ficarem contraídas (como se estivesse de salto alto) essa sutil diferença faz cansar mais rápido. Incomoda como qualquer mudança. Quem aterriza com o calcanhar vale ter como característica principal a leveza aliada ao conforto.

A grosso modo você vai encontrar 2 tipos de tênis com características bem marcadas, basta escolher o que te agrada dentro das duas. (É bem provável que escute os termos, 1. tênis de prova / 2. Tênis de treino, mas o nome pouco importa)

  1. Tênis de desempenho, é levíssimo (- de 220gr.) seu pé fica bem próximo ao solo, ou seja a sola não é tão macia, o drop é baixo, eu acho 4mm ideal, mas de zero a 8mm tá valendo, o valor é mais acessível, vai encontrar em lojas mais especializadas e deve ser usado só para correr porque a vida útil é um pouco menor.
  2. Tênis confortável, os citei acima como generalistas, são os que aparecem nas propagandas, os mais caros de cada marca, aqueles que vão de R$450 a R$1000. Trazem muita tecnologia e pelo tamanhão deles até que são bem leves, mas quase impossível ter menos de 240gr ficando em torno de 260gr. ou mais, seu pé fica um pouco mais alto com relação ao solo porque a sola é mais grossa, o drop é mais alto, de 8mm a 14mm, é encontrado em grandes lojas de esporte, (o vendedor não vai saber o que é drop) tem vida útil mais longa, podendo ser usado para mais atividades, ou permanecer no pé o dia inteiro com bastante conforto.
Em breve a continuação.

Enzo Amato


Teste do tênis Under Armour Speedform Gemini

No lançamento do Speedform Gemini fiquei contente ao conhecer o NAR (núcleo de alto rendimento) onde cerca de 1500 atletas de várias modalidades treinam e passam por pesquisas e estudos científicos com uma equipe de profissionais liderada por Irineu Loturco.

No dia seguinte calcei o Gemini para um treino de 2hs, escolhi um número maior do que costumo usar, pois meu número ficaria apertado. Por precaução usei duas meias, não queria ficar pelo caminho caso aparecesse uma bolha de calçado novo, deu certo, não apareceu.

O que achei de interessante nesse modelo:

  • A palmilha e o cabedal são uma coisa só, tem suporte no calcanhar, mas parte dele é ultrafino, maleável e sem costuras, que o deixa super leve e fácil de calçar;
  • Peso leve, pois pela aparência e conforto parece mais pesado;
  • Amarração fácil, com poucos furos, a língua é assimétrica e não cai para o lado.

Speedform Gemini (março 2015)

Sendo técnico:

Considero desempenho só os modelos muuuito leves, abaixo das 200gr o que resulta em pouco conforto e que tenha drop de zero a 4mm. O Speedform Gemini tem 242gr. e 10mm de drop, mas se contarmos que os concorrentes tem mais de 300gr e 12mm posso considerá-lo mais perto do desempenho que os outros, mas ainda com uma carta na manga. Normalmente muito conforto significa muito peso, e é aqui que o Gemini ganha de lavada da concorrência, é muito confortável para o pouco peso que tem. Essa é a característica que o torna mais abrangente conseguindo atender aos vários tipos de corredores, a excelente relação peso x conforto, faz com que os quilômetros passem mais facilmente em treinos ou provas mais demoradas onde a força das pernas vai acabando e o calçado mais leve começa realmente a fazer diferença. Drop de 10mm ainda atende melhor quem aterriza com o calcanhar do que os que usam o ante pé.

  • Usaria na academia e treinos de corrida na rua ou na esteira em qualquer distância e intensidade, também poderia passar o dia com ele no pé pelo conforto, servindo para várias atividades diárias.

Prova importante? Encontre o meio termo que se adéqua a você dentre as características que citei, se tirar peso vai tirar conforto. Seus pés aguentam, a prova vai durar pouco ou horas…? Como disse, achei o Gemini bem “multiuso” vai resistir bem a treinos e provas.

Assista ao vídeo com toda tecnologia que o modelo trás.

Preço sugerido R$499

Enzo Amato