Trekking na Argentina para fechar 2011.

Desde que conheci a Paula, em 2007 e fui pela primeira vez para onde ela morava, em San Juan, na Argentina, descobri que Mendoza é a porta de entrada para o Aconcágua, a maior montanha das Américas e que o preço de uma expedição é muito menor do que ir para o Everest. Sempre me interessei por histórias de grandes escaladores no Everest, mas nunca foi um sonho por dois motivos, o primeiro é que não considero as pessoas que querem chegar ao topo do mundo através de excursões grandes atletas hábeis e conhecedores do que estão fazendo, simplesmente são pessoas que tem muito dinheiro e o desejo de ter o título de chegar ao cume. O segundo é que para subir o Everest pode sair mais de 60mil dólares.

Porém este ano resolvi colocar em prática o desejo de fazer um trekking em altitude com intenção de apreciar paisagens, a natureza, e claro, uma pequena dose de esforço físico. Poderia ir ao Aconcágua logo de cara, seria só pagar uma das inúmeras agências em Mendoza, fazer tudo o que eles me orientassem e dizer que cheguei ao cume ou ao menos tentei, mas o Aconcágua me ofereceria sensações que só escaladores experientes poderiam me explicar e necessitaria de muita força mental para suportar 20 dias na montanha com temperaturas e ambientes inóspitos, sem contar com a reação do meu organismo a altitude, afinal são 6962m. Da mesma forma que oriento meus clientes a não pular etapas no triathlon, a vencer cada distância, comemorar cada uma delas, adquirir experiência física e mental, pois sei da importância que isso tem, para só depois encarar um Ironman, resolvi fazer o mesmo com relação a altitude, perguntei sobre os diferentes destinos disponíveis e encontrei um de 5 dias, passando por 4 cumes chamados Cordón del Plata, entre 3300 e 3900m para depois subirmos ao Cerro San Bernardo a 4500m num percurso para se apreciar a natureza, bater muitas fotos, respirar ar puro, perceber como o corpo reage a altitude e saber se esse esporte é o que espero dele.

Portanto se você lembrar de mim entre a semana do Natal e ano novo, estarei pelas montanhas, nos Andes, perto do Aconcágua curtindo a natureza. Por mais que as pessoas por aí digam que 2011 já acabou, ainda dá tempo de fazer algo diferente e descobrir que a vida é uma só. Seja lá em que fase você esteja da sua, sempre dá tempo para aproveitá-la.

Assim que voltar deixarei algumas fotos e minhas impressões sobre algo que nunca fiz. E quem sabe volto com o sonho concreto de subir o Aconcágua um dia.

Enzo Amato


A terrível experiência de passar pelos EUA para chegar em Cozumel.

A viagem até Cozumel seria longa pelas vias normais. Saímos, a Paula e eu de SP com American Airlines, antes pagamos 150 dólares para embarcar a bicicleta, o voo saiu no início da madrugada e depois de 8 horas sentados, em locais separados e na fileira do meio, chegarmos em Miami para nossa conexão ao México, ao passar no guichê com a policial, tudo certo com a Paula, na minha vez, a policial pergunta – quando foi a última vez que esteve nos EUA e por quanto tempo? Respondi, em 97 por 1 mês (lembrem do ano) Ela saiu do guichê e me levou para uma sala onde umas 1o pessoas já aguardavam para serem chamados por outros policiais que iriam fazer novas e velhas perguntas e decidir se eu passaria pelos EUA ou não, a Paula me acompanhou. Enquanto esperávamos, até então sem saber o que iria acontecer e sem entender porque estávamos ali, nosso voo de conexão para o México decolava. Uma atendente da American, que de vez em quando passava por lá, e cuidava das bagagens das pessoas que perdiam as conexões, nos disse que teria outro voo em duas horas, até esse momento mal sabíamos que perderíamos esse voo também, pois é, as 10 pessoas da sala foram atendidas após responderem uma ou duas perguntas, muitas outras entraram depois da gente e também foram atendidas. Quem atendia? 2 policiais sem muita pressa, que conversavam um pouco entre um atendimento e outro e nos fizeram tomar um chá de cadeira de quase 4 horas. Chegou minha vez, e diferente dos outros, 2 policiais me faziam perguntas, a mesma, para a mesma resposta, em 1997 por 1 mês, o que realmente eles queriam que eu respondesse era quando havia sido minha penúltima vez nos EUA. Em 96 ultrapassei o período de permanência como turista que era de 3 meses, estava estudando e acabei ficando na casa do meu tio, que vive lá há mais de 40 anos, por quase 6 meses. Quer um bom motivo para eu ter desrespeitado essa norma? Não tenho! Juventude, ingenuidade aliada a comodidade de ficar na casa do meu tio, o fato de eu estar aprendendo inglês na escola, acabei ficando mais do que podia. Como tenho passaporte italiano, não preciso de visto, por isso não passei por nenhuma triagem pessoalmente no Brasil, apenas preenchi um formulário pela internet e consegui a autorização para “entrar”.

Naquele dia, 24/11/11, mais de 15 anos depois, 2 policiais me faziam perguntas para tentar encontrar falhas nas minhas respostas, tentar me fazer cair em contradição, mas eles não conseguiram porque simplesmente eu falava a verdade. Não sei se eles pensavam que eu tinha a intenção de imigrar, provavelmente eles não sabem muito sobre a situação econômica do país deles. País deles entre aspas, eram todos policiais descendentes de imigrantes latinos, que hoje tratam pessoas de outros países  como inferiores e como se o objetivo de vida fosse entrar nos EUA.

De repente uma policial encerrou a sequência de perguntas porque eu já estava exaltado respondendo a verdade enquanto o outro policial tentava provar que eu era mentiroso e mal intencionado. Voltei para a cadeira junto da Paula, e ela me disse que em determinado momento haviam 5 policiais me escutando, nem percebi isso, estava cansado, vinha de um voo de 8 horas, outras quatro de espera sem saber o que ia acontecer e ainda por cima me tratavam como se fosse um terrorista e não acreditavam no que eu dizia.

A Paula e eu tínhamos intenção de passar uma semana na Flórida, depois do Ironman em Cozumel, para visitar meus tios, primos e fazer compras, mas estávamos passando por tudo aquilo estando em trânsito, naquela hora só estava lá em Miami porque nosso voo para o México saía de lá. Nos perguntávamos se teríamos que passar por tudo isso novamente na semana seguinte.

Me chamaram novamente, dessa vez outro policial, pediu para que eu contasse com detalhes porque fiquei mais tempo em 96, porque viajava hoje… E eu continuava querendo entender porque me deixaram entrar em 97 sem problemas, na época com 21 anos e mais vulnerável a fazer a vida fora do país, e agora, com 35 anos, querendo ir para para o México, me pintavam de mau elemento ou possível imigrante clandestino. Na minha cabeça aquele já era um bom motivo para terem bom senso e me deixar seguir viagem, mas além disso, contei toda minha história, e como esse é o trabalho deles, acredito que já havia dado sinais ou motivos suficientes para terem percebido que minha intenção era fazer um Ironman.

Talvez tenha conseguido algo, me perguntou se eu tinha US$585 para pagar por um “perdão” ou visto no passaporte brasileiro, além disso ele disse que podia seguir viagem para o México, mas que depois da viagem teria que voltar para o Brasil sem passar pelos EUA e que se quisesse regressar um dia pra lá, teria que fazer os trâmites através do passaporte brasileiro. Que também não é garantia de entrada. Nessa hora tive uma mistura de sensações, feliz por poder fazer o que realmente era o propósito da minha viagem, o Ironman em Cozumel, chateado por não poder rever minha família e aliviado por não precisar passar por tudo aquilo outra vez e sair logo daquele país com complexo de perseguição e superioridade.

Pegamos o voo para Cancún 6 horas depois daquela primeira conexão que havíamos perdido, ao chegarmos no aeroporto a Paula começou a busca por uma nova passagem pra mim, e após algumas chamadas telefônicas, encontramos um voo por 1260 dólares. Também tínhamos que remarcar a passagem dela para chegar em SP mais ou menos no mesmo horário que eu. Chegamos no nosso destino, o hotel em Cozumel, 26 horas depois de ter saído de casa em São Caetano do Sul, esgotados mentalmente.

Na manhã seguinte já havíamos reprogramado toda nossa viagem e isso me fez começar a pensar, entrar e viver o Ironman Cozumel 2011.

Gastamos 2 mil dólares além do programado, com nova passagem, multa e remarcação da passagem da Paula, teríamos pago o que fosse preciso para sair daquele país, e nunca mais ver aquelas pessoas prepotentes que acreditam que os EUA são um alvo ou objetivo de vida.

Por conta disso acabamos prolongando nossa estadia no México e pudemos conhecer lugares que só estariam na nossa imaginação, como a cidade de Tulum a 2h30 de ônibus ao sul de Cancún, com seus hotéis/cabanas lindos, aconchegantes e muito mais baratos que qualquer hotel velho de Miami.

Praia tranquila em Tulum, com seus pequenos hotéis ao longo da orla e água cristalina. Paisagem digna de cartão postal e preços acessíveis.

Muitos europeus já descobriram esse paraíso e montaram suas pousadas para clientes preocupados com a saúde, nas primeiras horas do dia o que mais se via eram pessoas correndo e caminhando na areia e entre a paria e a cidade havia uma grande área verde protegida, além de muita tranquilidade.

Ruínas Mayas em Tulum

Visitávamos os lugares de bicicleta, que alugamos por 9 dólares ao dia.

Snorkel num dos inúmeros Cenotes daquela região do México. Água doce cristalina na caverna inundada.

 

Praia em Cancún

Fiz as compras que queria em Cancún e no Panamá, que é zona franca. Voltei para o Brasil com mais certeza de que o mundo é muito grande e mesmo que eu passe a vida viajando não conseguirei passar por todos os lugares que pretendo ir antes de ter vontade de passar pelos EUA novamente.

Enzo Amato.


A São Silvestre não tem 7 cabeças.

Já ouvi muita gente dizer que está preocupado com o novo percurso da SS, a descida no início é muito ingrime e a do final é muito longa, e por causa disso o risco de ter uma lesão é grande.

Concordo em parte com isso. Se o corredor nunca correu mais do que 5km e vai encarar a São Silvestre, realmente ele pode vir a ter problemas.

Se um corredor inexperiente for devagar o percurso todo, e na descida final resolver dar o máximo, com passadas amplas, saltos e ultrapassagens audaciosas, realmente ele e outros a seu redor poderão ter problemas.

Um percurso de 15km com descidas e subidas nunca será mais difícil e desgastante que uma maratona (42km), portanto se você fez um treinamento adequado, conseguiu percorrer aproximadamente o tempo que pretende concluir a prova, e incluiu nos seus treinos algumas subidas e descidas, não se preocupe porque não terá problema algum. Ao contrário de muitos que se aventuram numa maratona sem que o corpo esteja adaptado para suportar aquela distância e que mesmo assim não vai garantir uma lesão.

Tome algumas precauções na São Silvestre, fique atento para não exagerar na velocidade durante a descida e também não fazer movimentos bruscos para os lados, pois atrás de você pode vir um corredor que se acha o velocista, te desequilibrar ou até causar uma queda.

Se uma prova de 15km é um desafio para você, faça sua corrida moderadamente, comemore o resultado, e depois fique alguns dias sem correr para o corpo se recuperar, é mais provável que você tenha uma lesão por dar pouco tempo de descanso entre um grande desafio e o reinício dos treinos do que durante a prova para qual você treinou.

Ainda faltam vários dias para a São Silvestre, inclua nos treinos subidas e descidas que vai se sair bem e aproveitar a prova que sempre é uma grande festa. A chuva de fim de tarde pode vir forte e bolhas podem te fazer sofrer, uma opção é passar vaselina nos pés antes de sair de casa. Deixar um agasalho no guarda volume para depois da prova também é interessante, mesmo que esteja calor antes de sair. Ficar encharcado, a noite, depois de correr não é boa ideia e pode estragar seu 1º dia de 2012.

Boa corrida e se ficou alguma dúvida me escreva.

Enzo Amato.


Corra bem no verão!

O verão é a época do ano que mais gosto, sol, calor e pancadas de chuva para refrescar, mas o verão trás consigo algumas características que para nós corredores são importantíssimas ter em mente.

Aquela corrida na avenida da praia desidrata muito, e se você pretende correr um pouco todos os dias, ou até mesmo dia sim outro não, corre o risco de começar o treino cada vez com o tanque mais vazio, e músculos desidratados aumentam o risco de lesão, faz o coração trabalhar mais e sua corrida ficar cada vez mais difícil e lenta.

Se você vai correr mais de meia hora considere levar uma garrafinha d’água, ou dinheiro para comprar uma no caminho. Mas seu treino não acaba por aí, depois você deve ficar atento em beber muita água durante o dia todo para que sua corrida de amanhã seja tão bem feita quanto a de hoje. Se você pretende correr por volta de 1 hora ou mais, além da água, ter um isotônico te esperando na geladeira de casa é uma ótima ideia.

No verão os pés sofrem mais também, e pela umidade bolhas podem aparecer mais facilmente, por isso passe vaselina nas partes onde você sabe que o tênis pode te incomodar. (vende em qualquer farmácia e pode ser sólida ou líquida) Usar meias ou tênis pretos vão esquentar mais seus pés e aumentar o risco de bolhas. Nessa época do ano, principalmente nos finais de tarde, é fácil você sair pra correr com sol, pegar uma chuva forte no caminho e voltar pra casa com sol outra vez, nesse caso as bolhas não vão perdoar e farão você desviar sua atenção da paisagem, do terreno, do trânsito e até da paquera mantendo sua atenção na dor que ela causa, por isso seja precavido. Isso vai garantir uma boa corrida no dia seguinte também!

Passe protetor solar antes do treino e não esqueça de nenhuma parte que vai ficar exposta, orelha é fácil de esquecer. Mesmo que vá de boné passe no rosto e use protetor labial também. Óculos escuros são bem vindos, pois os olhos recebem tanta claridade e raios de sol quanto sua pele.

Se você nunca corre descalço e hoje resolveu correr na areia da praia, faça um treino curto para ver como seus pés e músculos vão reagir no dia seguinte, correr na areia esfolia os pés e você provavelmente vai mudar sua pisada habitual e ainda não sabe como o corpo vai reagir a tudo isso. Passe protetor na parte de cima dos pés porque eles também queimam e depois vão arder bastante seja para usar chinelo ou tênis.

Seu ritmo de corrida, ou pace, como muitos chamam, deve ser mais lento em dias quentes, não tente fazer suas melhores corridas nesses dias porque você pode acabar bem desidratado em poucos minutos, dependendo do horário do treino, ter maus subitos, desmaio, insolação, enfim, quanto mais quente o dia, mais devagar você deve ir. Digo isso porque vejo muita gente correndo perto do meio dia, não sei se para fugir do movimento, para se bronzear ou porque perdeu a hora… o importante é que vá mais devagar que seu ritmo normal. Se você já corre devagar e diminuir o ritmo significa caminhar, então você deve caminhar ou escolher outro horário para fazer sua corrida. Ver o sol nascer costuma ser mais fresco do que no fim de tarde, além de mais tranquilo.

Espero que aproveite seu verão como eu costumo fazer, sem bolhas, sem queimaduras, bem hidratado e bronzeado.

Qualquer dúvida me escreva e se tiver outra dica ela será muito bem vinda.

Enzo Amato


Ironman Cozumel, a prova!

Depois de toda a terrível experiência psicológica de passar pelos EUA antes de chegar no México, as coisas foram entrando nos eixos ao longo dos dias, sábado bem cedo fiz um reconhecimento do local da natação.

Natação depois do deck, 1 volta de 3,8km

Um parque a 7km do hotel, onde os turistas agendam um nado com os golfinhos, não era nosso caso, os atletas estavam lá para sentir a correnteza, localizar as boias, fixar pontos de referência, fui de bike para testá-la, deixei tudo na transição, e quando entrei na água, me espantei, aquela sensação foi a primeira certeza de que o Ironman Cozumel ficaria na minha memória para sempre, o mar era cristalino como no vídeo da prova, visibilidade de muitos metros, era possível enxergar o fundo com detalhes a mais de 10 metros pra baixo, nadei por menos de 10min, só queria me ambientar, voltei para o hotel.

Dos hotéis para a transição, bikes e atletas no ônibus.

As 11:30 eu teria que levar a bike com as sacolas para a transição nesse mesmo local, tudo feito com tranquilidade, algumas filas, mas nada demorado, voltei para o hotel com o ônibus para almoçar,descansar e a noite seguir para o jantar de massas.

Dormi muito bem e não tive problemas para despertar às 4:45 com ruído dos outros atletas perambulando pelo hotel. Lá pelas 5 o restaurante estava lotado de atletas, prontos para viver ao máximo aquele 27/11. A partir das 5:30 os primeiros ônibus deixavam os hotéis sede e seguiam para o Park Chankanaab onde seria a largada e local da T1, 15 minutos depois já tínhamos acesso à transição, e como usar roupa de borracha era proibido, só fui dar uma última olhada na bicicleta, e faltando mais de uma hora para a largada, com o dia ainda escuro, eu já estava pronto, fiquei olhando o movimento, a fila de atletas com as bikes esperando para calibrar os pneus, muitos mecânicos, mas que não davam conta de tantos atletas, alguns preocupados, nervosos, concentrados, outros tranquilos, rindo, conversando, acho que me encaixo no grupo dos tranquilos, afinal estava tudo certo e estava confiante com toda minha preparação audaciosa de poucos treinos, só esperei mais tempo para passar o protetor solar, entreguei a sacola de roupas, a temperatura era agradável. Diferentemente do Ironman de Floripa, não tínhamos acesso a sacola da transição, o que foi deixado no sábado era o que seria usado no Domingo. 6:30, já com protetor solar, fui para a área de largada. Homens e mulheres largam juntos e elas fazem número.

Largada espetacular, mais de 2300 atletas dentro de um mar tranquilo de água cristalina onde se podia enxergar claramente os mergulhadores que nos filmavam do fundo. Temperatura da água 27.3° muito boa para nadar. As 7 horas pontualmente o mar se transforma em branco com as braçadas dos atletas, estava lá para curtir minha prova e saber como Cozumel ia me encher os olhos com suas belezas naturais, e apesar do tumulto na superfície, desviava minha atenção para o fundo, nos peixes que nadavam tranquilamente, ao contrário de nós. Era uma volta de 3,8km, fui sem relógio e nem percebi pra que lado a correnteza levava, queria fazer meu melhor, mas não deixar de aproveitar toda a prova. Esse tumulto inicial não foi diferente de qualquer outra prova de largada única com mais de 2mil pessoas, portanto já sabia o que vinha pela frente, aliás, nem precisei olhar pra frente, o sol nascia exatamente à nossa direita, era só mantê-lo ali e seguir adiante, lembro-me que ao perceber que a parte da natação estava por acabar, ao mesmo tempo que aprendi a comemorar cada modalidade conquistada, também me lamentava por ter que abrir mão daquele mar e da sensação de estar fazendo um Ironman ali.

Depois de nadar, era só pegar a sacola, ir para o vestiário e se arrumar para pedalar 180km

Ao sair da água, feliz da vida, um atleta me diz que havíamos feito 1h02, comemorei mais ainda porque nem pensava em fazer um tempo tão bom, passei pelo chuveiro para tirar um pouco a água salgada do corpo, fiz a transição com calma e depois de deixarmos o Park Chankanaab, não voltaríamos mais pra lá, pois a transição 2 era em outro local, mais perto do centro.

 

Percurso da bike, plano, sem carros, só natureza e atletas.

Comecei o ciclismo muito bem, o percurso me impressionou desde o início, daríamos 3 voltas de 60km pela ilha, não haviam carros, a pista era toda nossa, mais da metade da ilha é só de vegetação, árvores de 3 a 5 metros e isso era tudo o que eu via no início da volta, linha reta de asfalto com árvores dos dois lados até onde a vista alcançava, calor e sol, a outra parte do percurso era a beira mar, com ventos laterais e paisagem de tirar o fôlego, a parte visualmente menos atrativa do percurso era onde o vento ajudava mais, então nem me importei em ficar alguns kms por aí, para fechar a volta passávamos pelo centro e onde o público mais se concentrava e gritava, ao fim da primeira volta minha média estava em 33km/h, muito mais forte que meu objetivo de 31km/h, mas sabia que o vento havia ajudado bastante e que o dia ainda não estava tão quente, dois fatores que mudariam em breve, ainda no ciclismo.

Dia seguinte passeamos pelo percurso da bike, parando nas praias tranquilas.

Na segunda volta o vento já não ajudou tanto, mas também não atrapalhou, o calor já pegava forte, mas a brisa amenizava a sensação, a média da bike já estava em 32km/h, me sentia bem, ao passar pelo centro abria mão da posição aerodinâmica para acenar e agradecer ao público que aplaudia a todos nós, receber esse carinho valia mais do que ganhar alguns segundos, foi na terceira volta que as coisas começaram a se complicar, até então estava comendo regularmente e aos poucos, mas só o cheiro doce dos repositores que havia levado e dos que a organização ofereciam me deixavam enjoado, em provas longas as decisões tem que ser tomadas rapidamente, dançando conforme a música e levando em conta experiências passadas, resolvi parar de comer por algum tempo para ver se o mal estar passava. Tentava desviar minha atenção, curtindo o visual do percurso, lembrando que estava em Cozumel fazendo uma das provas que mais gosto de fazer, mas também lembrei de que não estava lá para sofrer, lembrava de um senhor chamado Peter de 58 anos que conheci a caminho da transição, e já havia feito 63 vezes o Ironman, não deve ser o sofrimento que atrai uma pessoa a fazer um triathlon por tantas vezes, mas sim o prazer e mérito de ser um concluinte passando pelas adversidades que aparecem, então resolvi diminuir o ritmo para ver se me sentiria melhor, nada feito, o vento segurava, o calor castigava e vez ou outra uma chuva tropical nos pegava pelo caminho. Em determinado momento um grupo de ciclistas encostou e tentei segui-los, má ideia, o fiscal na moto me deu uma punição e teria que parar mais afrente num dos vários postos de penalização espalhados pelo percurso, não me lamentava por isso, parei por 4 minutos na tenda, fiquei na sombra, estiquei o corpo e aproveitei para tomar um sal de fruta para ver se meu estômago melhorava, comi um biscoito salgado que levava comigo, mas acho que nada disso me ajudou muito porque segui com a mesma sensação. Terminei a bike com média de 30,5km/h ou 5h54min, ainda uma média boa.

Muita gente assistindo dos dois lados da rua, e a noite mais gente ainda.

Ao chegar na transição 2 deixei a bike com o staff, peguei minha sacola e fui me trocar, o vestiário era pequeno e tive que me arrumar em pé mesmo, tudo com calma, protetor solar, vaselina nos pés, boné, relógio e fui correr, a estratégia era sair devagar até o corpo se acostumar com o calor sem vento, sentia que corria tranquilamente e para minha surpresa o primeiro km fiz em 5:30, muito bom para uma maratona em Ironman, logo no segundo km uma chuva muito forte caiu em Cozumel e mesmo assim o público estava nas ruas, a maioria em locais cobertos e vários debaixo da chuva junto aos atletas dando a maior força, era fantástico ver a vibração do público, eles nos viam como super homens e o único que eu podia fazer era sorrir, acenar e agradecer, e gracias foi o que eu mais falei durante a prova. A corrida eram 3 voltas de 14km, ida e volta, metade perto do público no centro e outra metade um pouco mais afastado com alguns hotéis pelo caminho, também com torcida, em vários momentos cheguei a pensar que concluiria a prova com meu melhor tempo, pois a primeira volta fiz muito bem passando os 14km com 1h15 consistente e ritmado, me hidratava com isotônico, mas continuava sem comer, mais adiante comecei a caminhar nos postos de hidratação, o ritmo começou a cair, sabia que estava sem energia e o que tentava comer não me caia bem, lembrei que não estava lá para sofrer e caminhar não me fazia sofrer, por isso optei por caminhar, foram mais de 10km de caminhada comendo uma coisinha aqui outra ali, tentando correr de vez em quando, mas nada fazia o mal estar ir embora, para minha surpresa, quanto mais a noite avançava, 17:30 já estava escuro, mais as ruas se enchiam de gente para torcer, um atleta americano passou por mim e me perguntou se eu conseguiria correr 100 passos com ele, tentei, mas deixei a contagem por conta dele, ao final dos 100 ele perguntou se conseguiria mais 100, e assim fomos por mais algumas centenas de passos, bem lentamente e perto do público, outra vez lembrei que não estava lá para sofrer, agradeci o incentivo e o incentivei a continuar sem mim, durante minha longa caminhada, em determinado momento, tentei outra técnica de respiração, inspirar rapidamente e profundamente pela boca e expirar devagar, isso avisou meu cérebro que eu estava um pouco melhor e a partir do km 34 minha mente começou a fazer uma contagem regressiva de que faltavam poucos kms, arrisquei várias corridinhas leves, e a cada uma delas percebi que precisava de menos passos para caminhar, fazia os kms a 9:30 e conforme faltavam menos kms consegui apertar o passo, para quem estava caminhando cada km a 11:15, fazer a 9:30 era rápido, e do km 35 em diante a cabeça tomou conta, e meu ritmo por km ia aumentando, 8:21, 8:08, 7:48, 7:09, 6:48, 6:09, fiz o último km em 5:24. Terminei feliz da vida, não pelo tempo final da prova, 12h33, mas pelo significado que ela teve, lógico que ela foi difícil, mas não sofri, cheguei com dignidade e em vários momentos do percurso lembrei dos amigos, que sem dúvida estavam torcendo por mim.

Sem dúvida quero voltar para Cozumel e fazer essa prova novamente, sentir a vibração e admiração do público para com os atletas e depois ainda curtir muita praia de água cristalina, sol e comida mexicana com a Paula.

Depois do café na pousada em Tulum, bom e barato, mas será que é bonito? É o lugar para estender a viagem, fica a 2h30 de ônibus de Cancún.

Daqui 6 meses tem o Ironman aqui no Brasil, galera reunida novamente e muita história pra contar.

Enzo Amato


Curiosidades e números do Ironman Cozumel 2011.

1778 homens 76,1% / 557 mulheres 23,9% / Total 2335 atletas.

42 homens profissionais / 20 mulheres profissionais.

Sábado, no ônibus, enquanto levava a bike para a transição, conheci um senhor de 58 anos, australiano chamado Peter que faria seu 63º Ironman, 8º do ano e o segundo em duas semanas seguidas. Incrível como o corpo se adapta e se recupera cada vez mais rápido. Incrível também pensar o quanto ele desembolsou para fazer tantas provas num ano.

No meu hotel também estava um canadense chamado John, muito requisitado para fotos que ia para seu 130º Ironman. É engraçado como nos impressionamos com a quantidade de vezes que ele submeteu o corpo a um esforço extremo, que pra ele nem deve ser mais tão extremo assim, e nem passa pela cabeça perguntar se ele ganha na categoria ou se melhorou seu tempo. Em 6 participações sinto que cada vez foi um aprendizado de vida sobre o corpo, a mente, superação, valorizar o que realmente importa etc… posso tentar imaginar, e me intrigar, com o que passa pela cabeça de alguém que tenha passado 130 vezes por isso.

Homens e mulheres, apesar de largarem juntos, usavam toucas de cores diferentes e me chamou atenção a quantidade de mulheres que fazem Ironman, enquanto aqui no Brasil elas chegam a 10%, lá eram quase 24%, parece pouco, mas é mais que o dobro e elas mandam muito bem, muitas eram americanas. Me perguntava, onde estão as brasileiras atletas, será que ainda em provas menores galgando seu caminho para as grandes distâncias? Espero que sim!

As transições são em lugares diferentes, as sacolas com equipamentos de bike e corrida são deixadas no sábado junto com a bike e só reencontradas no momento de usá-las. O staff levam as sacolas de corrida para a transição 2. Somos numerados no sábado ao deixarmos as bikes e sacolas para agilizar o processo no domingo, mas muitos se apagam ao longo do dia e os atletas fazem fila no domingo para numerar novamente, aqui no Brasil isso é feito só no Domingo, muito rapidamente e não interfere na fluidez do processo.

No México vi algumas pessoas com uma camiseta , que traduzido significava torcida Iron, o que estava escrito? Iron Porra!!

Si se puede, andale, duro, venga, ânimo, foram as palavras de incentivo que os mexicanos e outros torcedores mais gritaram, ou ao menos as que mais ouvi, até o fim da noite para os atletas.

Abaixo percurso da corrida que estaria lotado de espectadores no dia da prova.

Agora é inverno no hemisfério norte e não precisei usar mais que um agasalho leve durante a noite. Dias nublados e ventos fortes por 2 ou 3 dias seguidos são um sinal de que é inverno no caribe, por sorte isso aconteceu na segunda feira logo depois da prova.

Muitos mexicanos estão acima do peso, a comida é bem pesada, e com frituras, desde o café da manhã até o jantar. Claro que os hotéis são redes internacionais e atendem turistas do mundo todo, por isso é fácil manter sua dieta, seja lá como ela for, omelete com bacon, fajitas fritas ou um simples iogurte com torrada.

Assisti a vários episódios do Chaves (El Chavo) e Chapolin (Chapulin Colorado) com as vozes originais dos atores, muito legal. Seu Madruga originalmente é Don Ramón.

A prova em detalhes em breve no próximo texto.

Enzo Amato.


Último dia do ano ainda tem corrida.

Alguns já terminaram o ano de provas e só estão pensando nas confraternizações de fim de ano, happy hours etc… mas pra muita gente o calendário de 2011 ainda não acabou e para 25mil só vai acabar no final do dia 31/12 com a São Silvestre. Até lá o foco nos treinos continua.

Muitos consideram a corrida de 15km Sargento Gonzaguinha um treino para a São Silvestre, mas se você nunca correu essa distância e a São Silvestre é seu objetivo, não faça as duas. Elas estão há duas semanas uma da outra e o resultado bem provável é fazer bem a primeira e sofrer demais na segunda por não ter dado tempo suficiente para o corpo se recuperar e se preparar para outro estímulo tão exigente quanto. Sem contar em aumentar o risco de lesão.

Se você já está calejado na distância, não há problema algum em fazer as duas. Neste ano a São Silvestre, com percurso bem modificado, causou polêmica, mas vai continuar atraindo muita gente para as ruas de São Paulo, a largada ainda na Avenida Paulista, sabe-se lá até quando, e a chegada no obelisco em frente ao parque ibirapuera com uma descida ingrime no início e uma longa no final do percurso. Aos que vão para seus 15km pela primeira vez, aos que estão acima do peso ou já tiveram lesões no joelho, encare as descidas com moderação, com a mesma passada de sempre e sem grandes saltos ou atropelos. Continue com o mesmo pensamento que deve te acompanhar a prova toda, hoje é dia de celebração e estou aqui para curtir e dar rizada fazendo o que gosto, cruzar a linha de chegada na colocação 16549 ou 19563 não fará a menor diferença. Se você não está acostumado a correr na descida, ou só corre em esteira, é interessante que o faça desde já, mas com moderação, para o corpo não sentir tanto a mudança brusca. Nada como o bom e velho princípio da especificidade, por isso se você ouviu por aí que a musculação é a melhor saída e você nunca puxou ferro, não se preocupe, não vale a pena começar agora por causa dessa corrida. Simplesmente treine variando o percurso e encarando tanto subidas quanto descidas.

É muito provável que você não consiga seu recorde pessoal em 15km numa São Silvestre devido a multidão, por isso não esqueça de se divertir.

Bom final de preparação e boa corrida!!

Enzo Amato