Arquivos Mensais:outubro 2014
Clínica Trail Run Challenge.
Talvez num futuro distante seja possível juntar feras do trail running numa clínica/workshop para falar do assunto, mas hoje, com atletas renomados aqui e no exterior, a oportunidade é única.
Recentemente fui a uma corrida onde o Marcelo Sinoca estava presente, e num dos postos de abastecimento me ofereceram macarrão, peguei meu prato, sentei e comi rápido, mas mesmo assim perdi uns minutos para isso, no dia seguinte perguntei pra ele se havia comido o macarrão, pois como era um dos favoritos, fiquei curioso para saber se perdia tempo com isso ou só comia o que levava consigo. Ele respondeu que comeu sim, colocou o macarrão num copo e saiu correndo sem precisar parar…simples e fácil assim, vivendo e aprendendo!
Já comecei a anotar as perguntas que quero fazer para eles e elas…como comer macarrão eu já sei, o que mais comem, como treinam para as ultras, de onde tiram forças durante provas de mais de 160km numa tacada só…???
Tantas curiosidades, que certamente vão agradar a quem está se aventurando nas corridas pelas trilhas desse mundo.
Programação:
- 8:00 – 8:30 hs – Recepção / Coffee
- 8:40 – 11:30hs – Parte Teórica com atletas The North Face – Fernanda Maciel, Marcelo Sinoca, Manu Vilaseca, Carlos Magno, Rosalia Camargo
- 12:00 – 13:30hs- Parte prática em trilha
- 13:30 – 14:30hs – Almoço
- 15:00hs – Interação com os atletas The North Face
Local: Espaço Buona Fortuna http:/www.espacobuonafortuna.
Rua dos Agrimensores, 770
KIT exclusivo do evento.
Mizuno Uphill Marathon 2014
A maratona mais desejada do Brasil.
Me senti o sapo na fábula do sapo na panela, fui sendo consumido pela inclinação da Serra do rio do rastro aos poucos, minha rotina de treinos e provas de trilha em 2014 me transformaram num trator, posso subir qualquer inclinação, mas não consigo ir rápido como um dia já fui no asfalto, apliquei minha estratégia com sabedoria, mas ela não servia pra mim naquele momento.
A 30min da largada uma nuvem escura não deixava o dia clarear, chuva na horizontal e vento forte faziam as árvores balançar freneticamente na pequena cidade de Treviso no sul de SC. O pórtico de largada estava vazio e os 300 corredores abrigavam-se, parte na igreja parte no posto de combustível da praça, de repente tudo virou uma garoa fina e a largada dos 42km de asfalto mais insanos que já fiz se deu pontualmente as 7hs.
Saímos da cidade passamos por um trecho de estrada de terra sempre acompanhados da garoa, do silêncio de um domingo de manhã em cidade pequena, dos poucos carros, do ar puro e cheiro de campo molhado, os primeiros 10km foram predominantemente uma subida leve e constante e os próximos 10km o inverso, sempre correndo no canto da estrada, mas com trânsito controlado pela polícia rodoviária estadual, já na cidade de Lauro Müller passamos pelo tapete do km 24, pois além do tempo geral teríamos também a contagem do tempo de subida da serra, estávamos a 350m.s.n.m. e subiríamos para 1418m acumulando 2425m de ascensão nos 42km, até aí estava dentro da minha estratégia, os batimentos ficaram controlados entre 155 e 165, o que é abaixo do meu L2 e a intenção era continuar assim, claro que a inclinação do percurso determina a velocidade se o parâmetro é o batimento, subi um bom trecho dentro da faixa de batimentos, passei alguns corredores, mas não tantos quanto eu havia imaginado quando tracei a estratégia, enfim, cada maratona conta uma história, até quando o atleta é o mesmo, aproveitava a vista a cada instante, pois ano passado uma forte neblina não dava visibilidade, um vento forte começou a incomodar, depois veio a chuva seguida do frio e de lâminas d’água em cada curva, na mais forte delas os pés molharam completamente e congelaram, o jeito era seguir, a cada uma das 256 curvas a meta ficava mais próxima, o visual mais lindo, a corrida mais difícil, e o sapo fervia sem se dar conta. Corri muito, as vezes na mesma velocidade que outros atletas caminhavam, não por orgulho, mas sabia que minha caminhada era mais devagar ainda.
Cheguei com 4h53 a duras penas, molhado, com frio, mas com sorriso no rosto, e nem tive tempo de pensar que nunca mais faria isso de novo, quero desafiar a serra outra vez!
O visual da prova é espetacular, mesmo correndo na estrada a segurança aos atletas foi ótima, a polícia rodoviária soube conduzir os comboios e em nenhum momento fiquei apreensivo, postos de abastecimento bem distribuídos e minha única reclamação foi pela quantidade de copinhos jogados no percurso, apesar de facilitar para os corredores isso custa caro para a mãe natureza, espero que seja corrigido ano que vem. Apesar disso, a organização da X3M foi excelente, desde a entrega de kits, com buffet, (almocei na faixa lá mesmo) massoterapia, test drive do Mizuno Wave Sayonara, sorteio de 15 pares, palestras super legais com Carol Barcellos e Clayton Conservani, passei a tarde lá e nem vi o tempo passar. Valeu pelo passeio, por ter conhecido a serra e pelo desafio!
O que usei: (e o que devia ter usado)
Fui de bermuda e camiseta, tinha um corta vento, que o Leandro me emprestou para emergências, mas devia ter largado também com uma camiseta térmica por baixo e/ou manguitos, enfim, manter o corpo um pouco mais coberto para proteger do frio da serra que castigou em 2014.
Treinos interessantes:
Estar bem treinado para uma maratona de asfalto, digo isso porque meus treinos de trilha para as ultras me deixaram forte, porém lento e sem ritmo. Incluir na rotina treinos de subida, não necessariamente fortes, mas longos e continuar na musculação, é isso que pretendo fazer para a próxima.
Assista ao vídeo que fiz durante a corrida, sem dúvida vai impressionar e te fazer decidir, ou vai ou não vai!
Enzo Amato
Dicas Maratona de SP 2014
Calor no asfalto da maior cidade da América Latina.
A previsão é de muito calor e clima seco para a edição de 2014 da maratona de SP, já corri essa prova 6x e considero o clima um fator determinante e não as poucas subidas ou túneis como muita gente diz, o difícil mesmo é chegar neles desidratado e com calor. Para provas longas e com muito calor, sugiro algumas dicas que considero importantes.
Cuidados com os pés:
- Não tome banho na manhã da prova, isso vai deixar a pele dos pés mais sensível e por mais que o clima esteja seco durante a prova, dentro do seu tênis não estará, e bolhas podem limitar sua corrida. Tome banho na noite anterior;
- Talco ajuda muito a manter os pés secos por mais tempo;
- Vaselina nos pontos de mais atrito nos seus pés, mamilos e/ou coxas também;
- Não tome banho com copos d’água, além de deixar faltar para a turma do fundão a água que escorre pela pele e cai no chão é água perdida, basta o vento bater na pele úmida para baixar sua temperatura, virar o copinho na cabeça pode parecer bonito pra foto, mas só vai molhar seus pés e aumentar o risco de bolhas, além de aumentar o atrito da roupa com o corpo, mamilos e coxas podem sofrer bastante com isso, quem corre há muito tempo sabe. Molhe a mão e passe na cabeça, no pescoço e braços, isso já resolve.
- Curvas fechadas, pise com cuidado, sem inclinar o corpo para fazer uma curva veloz, isso vai aumentar o atrito do pé com o tênis. Pé úmido e pele sensível na curva fechada, parabéns, você acabou de adotar uma bolha.
Fique esperto:
- Uma linha reta é a menor distância entre dois pontos, só abra mão disso se for pra correr na sombra, caso contrário seus 42.195m viram qualquer coisa mais que isso;
- Hidrate-se com regularidade desde o dia anterior, você só sente a desidratação quando ela já te pegou e é impossível reverter durante a corrida, numa maratona em dia quente se gasta mais líquido do que o corpo é capaz de repor, ou seja, faça tudo bem feito para ainda assim chegar ao final com tanque na reserva, se bobear a coisa desanda;
- Protetor solar antes da largada, e se quiser, leve num saquinho para reaplicar caso sua prova seja para mais de 4hs;
- Boné e roupas claras (viseira não resolve muito para evitar insolação);
Se encarar sua corrida observando só pontos negativos da cidade, é provável que no meio da prova você já esteja com depressão e não foi pra isso que você se inscreveu. Observe São Paulo e a enorme diversidade da selva de pedra, enquanto milhares de corredores estiverem nas ruas, será possível observar, pessoas que acabaram de sair da balada, moradores de rua, gente trabalhando, diversas tribos urbanas, um rio sem vida, prédios de milionários, shoppings, casas humildes, mansões e claro, trânsito parado e motoristas com cara de poucos amigos. Se por acaso você resolvesse parar no percurso para tomar um cafezinho, poderia pagar desde R$1 até R$4,50 dependendo do lugar, São Paulo é assim, se encontra de tudo!
Boa corrida!
Enzo Amato
1º vídeo Ultra Trail Torres del Paine 2014.
Frio, vento constante e lindas paisagens, na patagônia chilena o clima pode mudar a todo instante e isso é aventura na certa para quem gosta de corrida.
Em breve o vídeo com mais detalhes. Leia o texto de como foi a prova. Clique aqui.
Enzo Amato.
Ultra Trail Torres del Paine, minha corrida!
67km de muito vento gelado.
A impressão mais marcante foi essa, o vento, nem os 5000 metros de desnível acumulado ou as 11hs que levei para concluir o percurso impressionaram tanto quanto o vento, que por algumas vezes quase me jogou no chão. A paisagem com montanhas nevadas de 3mil metros e picos escarpados me deixavam em transe em alguns momentos, mas ora uma rajada mais forte me pegava desprevenido ora era anunciada pelo barulho das árvores que balançavam freneticamente e me deixavam alerta outra vez.
A primeira edição da Ultra Trail Torres del Paine limitou em 100 pessoas distribuídas nas 3 distâncias, 109, 67 e 42km e eu estava entre os 34 atletas que largaram nos 67km em frente ao hotel Rio Serrano, assim que o dia clareou as 7:30. Os primeiros km ainda em estrada de cascalho me colocaram a par da realidade, uma lebre correndo pra todos os lados e mais adiante um condor voando baixo. Sabia que em breve estaria nas trilhas do parque fazendo parte da natureza e era isso o que eu queria.
Cheguei a marca de 10km e só peguei uma banana no posto de abastecimento, ainda não precisava reabastecer a mochila, a trilha era em campo aberto e o vento muito gelado, meus batimentos estavam no limite que eu queria, mas por aquele frio eu não esperava. Arriscava abrir um pouco o zíper do corta vento para que o suor evaporasse, mas tinha que administrar o abre e fecha para não ficar com mais frio ainda. Cheguei ao refúgio no km 26 que era um dos pontos de abastecimento com quase 3h de prova. Peguei um café e uma barra de chocolate, pois os torrones que tinha levado pareciam pedras por causa do frio, havia largado com -3°C e àquela altura não estava muito mais que isso. A máxima do dia era de 7°C, saí do refúgio e comecei a subir um vale com mais vento encanado vindo de frente, levei mais de 1h só para esses 5km, mas o ponto de retorno me mostrou mais da natureza selvagem, estava no mirador Grey, de lá podia ver o glaciar Grey do alto, uma enorme massa de gelo com vários km de extensão, fiz pose pra foto e ao mesmo tempo admirado ao ver um fotógrafo e outros 2 caras marcando os atletas, a mercê do vento e do frio, tentava imaginar que roupa eles precisavam vestir para conseguir ficar ali por horas. Desci fácil, com vento a favor, e cheguei novamente ao refúgio, desta vez km 36. Me ofereceram macarrão, e para quem estava tentando comer torrone duro, aquilo parecia um banquete, peguei meu prato sem molho. Peguei mais barras de chocolate e água, pois sabia que dali em diante só encontraria água nos rios. A trilha me guiava a circundar a montanha, vez ou outra encontrava com turistas fazendo trekking e só via as marcações do próprio parque e nenhuma da prova, como foi dito, isso chegou a atrapalhar alguns atletas, a edição inaugural serve de teste, passei por mais alguns refúgios, mas estes eram só para emergências, estava bem abastecido e podia me virar com o que carregava comigo. Apesar de não poder entrar no país com o que costumo comer em provas, que é damasco seco, amêndoa e castanha do Pará, me virei com os torrones/pedra e chocolates. Quando me acercava mais da montanha, uma leve chuva começava a cair, isso por causa do microclima das montanhas que muda com muita frequência.
Num momento da prova consegui tirar o corta vento e as luvas porque o sol aparecia com mais regularidade, enchi meu reservatório de água quando passei por um rio já por volta do km 50 com quase 8hs de prova, quando um dos joelhos começou a incomodar bastante e me fez reduzir o ritmo. Alguns corredores que estavam comigo no início da corrida se aproximaram e a chegada deles me motivou a acompanhá-los mesmo com muita dor. Se estivesse sozinho certamente estaria caminhando e foi assim até chegar ao ponto mais difícil, uma subida íngreme de quase 400m de desnível, nesse momento comecei a me sentir estranho, não sabia se estava com frio ou calor e a 3ª colocada feminino que estava comigo, abriu uma distância considerável. Parei por um momento e resolvi vestir o corta vento novamente, comi e me hidratei, imagino que se demorasse mais para reagir teria tido uma hipotermia. Não quis pagar pra ver, logo estava correndo novamente em direção ao ponto mais alto do percurso no km 62, depois daquilo era só descida e quase todo meu peso na perna esquerda para aliviar a outra, completei os 67km em 11h08 depois de ter curtido toda minha prova e lidado com todas as dificuldades que apareceram, foi pra isso que eu fui. Adorei!
Essa prova exige que você tenha, experiência em provas de trilha, e leve todo o equipamento que achar necessário, pois a falta dele pode custar caro.
O que usei:
- Tênis: Asics Gel Fuji Racer 3
- Camiseta térmica manga curta: Nike
- Manguito: OG
- 2 bandanas, uma no pescoço e outra na cabeça
- Calça Legging: Adidas running
- Luvas: Quechua
- Óculos de sol: Briko
- Câmera: GoPro Hero 2
- Bastão de trekking: Boomerang
- Mochila: Quechua Diosaz Raid 10
- Corta vento: Montagne
- Relógio: Polar RS100
Leia o que achei da UTTP e da PIM, suas diferenças e pontos a corrigir. Clique aqui. Se esteve lá deixe sua opinião.
Enzo Amato
Ultra Trail Torres del Paine e Patagonian International Marathon 2014
Foi um fim de semana de tirar o fôlego e tremer o esqueleto.
Encontrei muitos brasileiros, de Goiânia, BH, Recife, Porto Alegre, RJ, SP, Sorocaba, a turma da Ericsson, enfim dos quatro cantos do país e estrangeiros também, argentinos e alemães, que disseram estar lá por causa do vídeo que fiz ano passado. Perguntei a muitos deles depois da corrida o que eles tinham achado da prova, e aqui deixo algumas impressões minhas e deles.
Foram dois eventos diferentes, a UTTP na sexta com as distâncias de 109, 67 e 42km por trilhas e apenas 100 corredores de 15 países, que era o limite técnico para essa primeira edição. E no sábado a PIM com 4 distâncias 63, 42, 21 e 10km, essa com mais de 1000 corredores de 33 países (35% estrangeiros) sendo que 173 eram brasileiros e representavam 16% do total, ou aproximadamente metade dos estrangeiros, a sensação era de que o sul do Chile falava português naquele fim de semana.
- A UTTP é simplesmente selvagem, natureza 100% do tempo, sem cruzar com carro e encontrar apenas alguns turistas pela frente. A trilha não é lamacenta nem escorregadia, tem desnível considerável, poucos pontos de abastecimento e rios de degelo potáveis, é uma prova relativamente de auto suficiência.
- A PIM é toda por estrada de cascalho com paisagens lindas e incontáveis momentos para fotos panorâmicas de cartão postal. Treinos de subida devem fazer parte da preparação, conta com alguns pontos de abastecimento, mas é melhor se garantir e largar com o que gosta de comer e com certa quantidade de água para recarregar apenas uma ou duas vezes. Não passa por rios de degelo, por isso água só nos postos mesmo.
O vento foi fator determinante nas duas provas, coisa que em 2013 passou despercebida, a escolha do equipamento certo fez diferença, bem como da alimentação, o torrone que eu tinha parecia pedra e me custou muito comê-lo. Até abrir a embalagem era difícil, pois o vento forte e frio limitavam os movimentos das mãos, as duas provas necessitam de pequenas correções como marcação do percurso ou presença de staff na UTTP, pois algumas pessoas se perderam e outras ficaram na dúvida acarretando alguns equívocos na ordem de chegada, camiseta do evento como do ano anterior, enfim, pequenos detalhes facilmente corrigíveis. Tem que se levar em consideração que tudo rola dentro de um parque nacional onde a proteção à natureza é o mais importante e o que parece fácil e básico numa corrida na cidade pode não ser tão simples num lugar assim.
Para 2015 a intenção é separar as duas provas, uma no fim de setembro e outra no início de outubro, já que uma não precisará mais da publicidade da outra. A PIM atingiu o limite de inscritos e a UTTP tinha mais de 10mil curtidas antes mesmo da largada.
Ano que vem a NIGSA, organizadora das provas, deve inaugurar a distância de 160km também dentro do parque para entrar de vez no cenário mundial de ultras distâncias.
Em breve assista ao vídeo das duas provas, deixe seu comentário e se quiser contar como foi essa experiência para você, entre em contato comigo, seu texto pode ficar aqui no blog para futuros corredores e admiradores.
Espero poder voltar em 2015 e encontrar muita gente animada como encontrei esse ano, foi um prazer conhecê-los e espero que possam comentar o texto para que mantenhamos contato.
Enzo Amato