Pelo nosso psicólogo Rafa Dutra.
Nunca nadei 3,8km, nem pedalei 180km, muito menos corri uma maratona. No entanto, esse foi o meu terceiro IRON! O que faz com que, mesmo com as minhas provinhas de apenas de 10k, eu me sinta a vontade para falar sobre uma prova da grandeza de um IRONMAN com seus 226km de distância!
Desde 2010 faço a preparação psicológica de atletas amadores que se desafiam nessa que é uma das provas de maior respeito no mundo esportivo! Em 2012, pela primeira vez, estávamos em uma equipe com 10 atletas que precisaram ser divididos em dois grupos e que mais uma vez deram um show de disciplina, dedicação, foco e amor ao esporte (ingredientes que com certeza faltarão em muitos atletas que estarão em Londres 2012).
Dez atletas se colocaram nesse desafio desde 2011 quando conseguiram fazer a inscrição para o IRONMAN BRASIL 2012, o que por si só já gera muita adrenalina, pois em questão de minutos as inscrições acabam.
Em janeiro fizemos nosso primeiro encontro para apresentar a proposta da preparação com a equipe multidisciplinar e os treinos começaram! Sempre digo e não canso de repetir que para mim a melhor frase que fala sobre o IRON é aquela que diz que “mais difícil que chegar na linha de chegada, é chegar na linha de largada”, e em janeiro começou a etapa mais difícil dessa brincadeira de gente grande com “mania de grandeza” (rs).
Tive o prazer de reencontrar atletas que acompanho desde 2010 e de conhecer novos ironmans que estavam debutando na prova ou fazendo o acompanhamento pela primeira vez com nossa equipe, e foi um trabalho que mais uma vez valeu a pena.
Dos dez que iniciaram o desafio, nove chegaram na linha de largada (e de chegada), um infelizmente ficou no caminho, por problemas de saúde de sua filhona, o Clodoaldo optou por abandonar a prova há um mês da competição, mesmo com todos dizendo que ele estava preparado para voar na prova e que precisaria apenas manter com alguns treininhos. Essa decisão fez meu respeito ser ainda maior por ele, e faz dele muito mais IRON que muitos “irons” que cruzaram o pórtico no dia 27 de maio de 2012.

Em turma grande sempre tem um que se perde na hora da foto, nessa faltou o Witney. Na esq. Otavio, Gustavo, Marchi, Rafa Durta de branco, Edu, Rafael, Léo, Silvio e Enzo.
Dos velhos da casa, Enzo foi para o seu sétimo IRON, prometendo a sua despedida tupiniquim e tendo que lidar com o fantasma dos problemas estomacais em suas últimas duas provas, buscando novas motivações na única prova que fez repetidas vezes até hoje. Edu Coimbra, ou simplesmente o Du, que mais uma vez deu um show de dedicação e organização e chegou com uma preparação física impecável para receber o beijo surpresa do pai momentos antes do sol nascer e cair nas águas de Jurerê Internacional.

Witney, Edu, Otavio e Marchi
Witney, que continua sendo o herói do Hiro, na Winnie e da Heidi, foi um herói se disponibilizando a fazer toda nossa preparação acompanhando os encontros apenas no viva-voz do telefone e mais uma vez mostrando o quanto ser metódico e disciplinado pode fazer diferença numa prova em que os detalhes são a grande diferença, e o Otávio, o grande e calmo Tatá, que do seu jeito “tranquilão” mais uma vez pôde aprender a superar seus limites com a cabeça e com a força de uma receita mágica que é a mistura de amor e saudade, o que fez com que com seu jeito despretensioso cravasse a melhor marca da Equipe do Amato no IM 2012.
Os estreantes também fizeram valer o título de IRONMAN! Silvio, estreando na nossa equipe, mas indo para o seu segundo IRON, pôde sentir a diferença de fazer dessa prova uma experiência de vida maior que o autodesafio, e aos poucos foi se revelando em nossos encontros mostrando um lado que a primeira impressão não demonstrava! Gustavo, ou apenas Gus, com seu jeito quieto e aparentemente mais sério foi o corajoso que deu o pontapé inicial no sentido de confiar no grupo e mostrar suas fragilidades, tendo umas das chegadas mais emocionantes com sua torcida organizada de familiares e amigos que com certeza ficará marcada para sempre.
Marchi, que ninguém sabe quem seria o Edson, trouxe todo seu espírito de menino aventureiro para nossa equipe, sem desrespeitar o IRON pode nos ensinar que a vida está aí para ser vivida, e que o IRON precisa ser divertido também. Nessa também embarcou o Rafa, marinheiro de primeira viagem no mundo do triathlon, saindo das primeiras passadas com tênis de skatista para fazer uma prova emocionante, nadando com sua roupa de surfista e pedalando sem velocímetro, nos ensinou que a medalha do IRON pode servir de “calço para a mesa”, mas que a experiência do IRON é algo do qual ele jamais vai se esquecer.
E por fim o Léo, um dos nossos maiores exemplos de superação e de lição de vida no sentido de que a transformação é possível, um dos atletas mais focados da equipe que estava respirando IRONMAN desde 2011 quando se encantou ao assistir a prova. Foi mais um ano em que pudemos aprender muito uns com os outros, e com essa prova, que a cada ano ganha novos adeptos.
Como já não era novidade para muitos de nós, esse ano a questão do tempo se fez muito presente em nossos encontros, e mais uma vez pudemos aprender com esse desafio que, embora com o passar dos anos possa ficar menor, jamais será pequeno!
Os treinos estavam feitos, a alimentação estava ok, a preparação psicológica foi muito boa, e todos estavam muito bem para colocar as estimativas no papel e ir lá para viver mais uma vez (ou pela primeira vez) a experiência de superar um IRON e bater suas metas.
No entanto essa prova teima em mostrar sua grandeza que escapa das nossas planilhas e das nossas expectativas, sejam os detalhes que saem do script, seja o calor e o solzão de rachar, seja o vento, seja alguma reação física adversa, seja lá o que for, quando foi dada a largada às 7 horas da manhã, ninguém sabia o que vinha pela frente pelas próximas 10,11, 12, 13 ou 14 horas de prova.
Mas no final o saldo sempre é positivo, o sorriso no rosto, talvez um pouco frustrado pela expectativa que se tinha, mas o sorriso de “eu consegui” e os olhos brilhando diante do desafio vencido é algo que não se pode perder em uma prova como essa.
Todos falam do quanto o IM está se comercializando e aos poucos perdendo um pouco de sua grandeza, alguns podem reduzi-lo a uma marca que querem colocar no corpo ou no currículo, outros a uma passagem para o Havaí, mas espero que nossa equipe continue vendo essa prova como uma grande experiência de vida e de superação, a prova viva de que podemos ir muito mais longe depois de achar que não aguentaríamos mais.
Parabéns aos 10 IRONS de 2012, cada um tem sua história para contar, embora sejam histórias “anônimas” no meio de outras 2.000 histórias, são histórias que mais uma vez tive a honra e o prazer de acompanhar dos bastidores!
Que venha o IRON 2013, ou que venham outras provas que mantenham acesa essa chama que tanto encanta aqueles que participam ou acompanham essa grande prova!
Forte Abraço!
Rafa Dutra