Correr no frio extremo!

Nossa leitora Christine pediu informações sobre que tipo de roupa usar numa maratona, que participará com seu marido, no Ártico. Na hora lembrei do Davi e Luciana que se mudaram para o Canadá em 2010 e tem experimentado algumas corridinhas no frio de Montreal. Naquele primeiro momento eles escreveram um texto com as primeiras dicas do que fazer, e as impressões até então, agora o texto abaixo já trás novas dicas, e as antigas também, mas com mais detalhes. Abaixo deixo o texto, bem informal, que ele me enviou pedindo para que encaminhasse para nossa leitora, mas sem saber que de tão bom, resolvi publicar e dividir com os outros leitores também.

Por Davi Garcia.

Então vai encarar uma corrida abaixo de zero? Parabéns! Para pessoas acostumadas com temperaturas tropicais onde no inverno ficamos na dúvida se vamos correr quando faz 10ºC, correr com -20ºC é uma situação bem atípica. Mas vou começar te tranquilizando. Estou morando no Canadá e corri durante todo o inverno no ano passado, e agora neste ano também. Minha namorada (que é super friorenta) também corre, e não temos problemas, adotando algumas mudanças no vestuário, é claro!

Quanto ao fato de ter neve, no se preocupe, normalmente não escorrega, a menos que ela esteja bem “amassada”. Neste caso ela vira uma pedra de gelo e pode escorregar, mas leva tempo para a neve ficar bem compactada assim. Tem gente que coloca grampos no tênis, mas eu pessoalmente nunca usei aqui e nunca caí também. Caso seja neve apenas, se a acumulação for grande será como correr na areia. Demanda esforço e você perde um pouco do seu impulso, mas isso é tudo. (Estou falando de acumulações normais na rua, caso seu caso seja diferente, com muuuuuita acumulação mesmo, aí a coisa muda). Verifique as condições meteorológicas para saber se você não terá gelo na corrida (em ingles black ice e em francês verglas). É uma condição onde não esta tão frio durante a noite, então chove (ou neva e depois derrete) e no outro dia faz muito frio, congelando a água da rua, fazendo uma camada de gelo. Nesta última sim você terá problemas, e muito, para se manter de pé. Diria que neste caso, pela sua segurança e para evitar lesões e tombos desnecessários, o melhor seria nem correr. O bom é que isso não é tão frequente. São raros os dias em que você tem mais frio de dia do que de noite.

Quanto ao tênis de corrida, uso os meus normais mesmo, e nem meias eu uso especiais. Como o pé tem bastante impacto normalmente, a circulação sanguínea nele é alta, e isso o mantém quente enquanto corre. O problema é se você tiver que parar ou andar durante muito tempo, ai você pode sentir o pé ficar gelado, pois normalmente os tênis de corrida tem muita ventilação no seu tecido deixando passar o frio. Uma dica caso você sinta frio nos pés é pisar forte, como se desse umas palmadas no chão com o seu pé, isso estimula a circulação local.

A gente não associa dia bonito a frio, mas por incrível que pareça, os dias mais bonitos e ensolarados no inverno são também os mais frios. Um dia meio nublado tem temperaturas mais altas que os dias abertos. Então se você quiser pode levar um óculos de sol, pois sol e neve significa uma boa claridade refletida. (eu não costumo usar, vai de você).

A respiração não costuma ficar prejudicada. Nunca senti problema para respirar, e olha que já corri em dias com -25º C (e sensação térmica de -30ºC). Não conheço a altimetria da prova que você fará, talvez possa ter algum problema com a altitude, que torna o ar mais rarefeito, mas em termos de temperatura do ar, isso não costuma me prejudicar, e nem tenho reparado problema no grupo que corre comigo. Tem gente que coloca máscara ou balaclava, assim respira um ar menos gelado, mas depois de um tempo ela vai ficando molhada com a umidade de nossa respiração, eu pessoalmente não gosto. Você pode levar uma especie de cachecol ou bandana para o pescoço que te permite subir cobrindo o rosto ou descer novamente caso não queira usar, sem que tenha que ficar segurando depois, caso opte por não usar (veja o link).

Leve gel, o seu corpo vai gastar mais energia para correr em um lugar frio, além de energia para correr, você gasta energia para se manter aquecida, isso da um vazio no estômago, rs! Se programe com uma pequena reserva a mais do que costuma usar em corridas normais.

Roupas, este item sim é importante! O primeiro cuidado são as extremidades do corpo, áreas de menor circulação e sujeitas a sofrer com o frio. Proteja mãos e orelhas! Luva e touca são essenciais! É interessante saber que perdemos ate 50% do nosso calor corporal pela cabeça.

A calça que uso é uma de ciclista colada ao corpo, permite guardar seu calor e é de tecido respirável, principalmente na parte de trás das pernas. Na frente ela parece ser um pouco mais densa para cortar o vento. Me dou muito bem com esta calça, mas a minha namorada usa calcas normais de ginástica (justas ao corpo) e também não tem problemas.

Região do tórax: Vc sentira mais frio nesta região do que nas pernas então a dica é se vestir em camadas. Para dias de ate -10º C, três camadas são suficientes, abaixo desta temperatura uso 4 camadas. A primeira é uma “segunda pele”, camisa de manga longa bem fina e colada ao corpo, de tecido sintético, que vai te permitir expulsar a transpirção do corpo. Segunda camada é um tecido mais grosso aveludado, chamado de fleece ou soft (nada de algodão ou moletom que retêm água!). esta camada vai te manter quente. E a terceira camada é um casaco corta vento/chuva. As vezes com aparência meio plastificada por fora e forrado por dentro, este casaco deve ser fino e também permitir que seu corpo respire. Grande parte deles tem aberturas de baixo dos braços (permanentes ou com zíper) para permitir circulação de ar. Mesmo com estas 3 camadas você não deve ficar parecida com um urso polar. Estas roupas, que devem ser compradas em casas esportivas, são especializadas e vão te dar flexibilidade para correr, e te proteger do frio sem grandes volumes ou peso. É importante também que não retenham umidade, é horrível ficar com o corpo molhado no frio!

Quem olha não diz que você esta preparada para -10ºC, e talvez até você mesma duvide no inicio da corrida, mas tenha em mente que você vai sentir um pouco de frio ate o 1º ou 2º Km, isso é normal, depois o corpo esquenta e você vai estar bem. Se você não sentir frio no inicio, se prepare para cozinhar durante a corrida!

Quanto ao tempo de exposição ao frio, não se preocupe, enquanto você estiver correndo vai estar tudo bem. Já corri 25Km com -25º C, os cílios, sobrancelhas e barba ficam cheios de gelo por causa da umidade da respiração que congela no rosto, mas isso não faz mal, ele derrete em 5 segundos quando você entra em algum lugar quente. Para as mulheres os cabelos longos ficam brancos por onde passa o ar úmido expelido pela boca, a imagem tanto dos homens quanto das mulheres parece de alguém a ponto de sucumbir ao frio, mas é só impressão!

Tudo isso são conselhos pessoais, talvez valha a pena, chegando uns dias antes, experimentar dar uma corridinha para ver como será sua adaptação.

Estes acessórios que citei talvez sejam meio difíceis de serem encontrados no Brasil, mas uma dica seria procurar na Decathlon.

Fiz um post parecido no meu blog se você quiser dar uma lida.

Bom, é isso, espero ter ajudado. Mas se tiver mais alguma dúvida ou pergunta pode mandar um e-mail que terei o maior prazer em ajudar!

Boa corrida e mande o relato depois ao Enzo!

Davi


Minha maratona de SP 2012

3h37 sem quebrar, 3 semanas depois de ter feito um Ironman. Ótimo!

Por um ponto de vista foi um risco, mas resolvi encarar a maratona de SP apenas 3 semanas depois de ter completado meu 7º Ironman. Não estava nos planos, depois do dia 27 de maio fiquei na vagabundagem, férias dos treinos por tempo indeterminado, para o corpo recuperar, esperar até bater aquela saudade, sentir aquele vazio na agenda e enfim poder voltar com força total, mas nem deu tempo, no início de Junho resolvi pagar pra ver, não subestimei a maratona de forma alguma, mas também não segui uma dieta muito rigorosa, afinal estava até mais magro do que o normal e podia dar umas escapadas e incluí apenas alguns treinos curtos entre 30min e 1hora nesse intervalo.

Comentei sobre minha intenção de correr a maratona de SP com o grupo que também havia feito o Ironman, e muitos se empolgaram em correr também. Minha preocupação era saber como o corpo responderia a 2 eventos físicos extremos num curto espaço de tempo entre eles, levando em conta que nosso foco era apenas para o Ironman. Estávamos muito bem com relação ao volume de treino, e 3 semanas não são suficientes para destreinar alguém que estivesse naquele nível de condicionamento que estávamos, mas a interrogação vinha não com relação ao volume ou condicionamento, e sim saber como o corpo estaria depois da marca dos 25km, se alguma dorzinha nova aparecesse, indicando princípio de lesão pelo acúmulo das provas, podendo se tornar algo mais grave, e no meu caso atestar uma falha na preparação já que a maratona nos levaria ao limite novamente. Não podíamos chegar na linha de largada nos sentindo 80%, precisávamos dos 100% e por isso programei a seguinte estratégia:

Fazer os 3 primeiros quilômetros bem leve, dos 3 aos 10km confortavelmente, e dali pra frente manter um ritmo de prova longa, sempre dentro do limiar e com folga, ou seja, tendo o limiar a 80%, seguiria entre 65 e 70%. Assista ao vídeo.

Cada atleta do grupo tem seu ritmo confortável e por isso acabamos nos dispersando logo depois da largada. O Otavio e eu temos o ritmo bem parecido, por isso fizemos a prova juntos e a estratégia, bem interessante por sinal, em números foi a seguinte:

Média dos 3km iniciais = 6′ por km

Média do 3º ao 10º km = 5’35” por km

Média do 10º ao 42º km = 4’55” por km

Média final dos 42km = 5’10” por km

Gravando sobre as sensações da prova enquanto ela acontecia.

Repare na variação da intensidade, correr a 4’55 é confortável para nós dois e mesmo assim começamos a prova muito mais devagar, dosando o ritmo como um aquecimento, deixando a manada passar, o corpo aquecer, os batimentos subirem aos poucos, se estabilizarem, e ainda assim durante toda a prova só ultrapassamos corredores, mesmo tendo largado no primeiro pelotão. É importante, para a maioria dos amadores encarar a maratona como uma corrida diferente, sabendo que mesmo se sentindo bem, a tática de ir devagar no início faz diferença lá na frente, quando a maratona mostra realmente seu peso.

 

É lógico que essa estratégia não serve para todos os corredores, pois cada um tem seu objetivo, e o nosso não era o recorde pessoal, era completar a prova sem quebrar, e sem carregar o cansaço de ter feito um Ironman alguns dias atrás. Parece que conseguimos, e atribuo parte disso ao descanso adequado nas 3 semanas, que por causa dos treinos anteriores, nos manteve condicionado, e o ritmo confortável  com que encaramos a maratona. Para um recorde pessoal o ritmo médio estaria bem próximo do limiar suportável para uma prova longa. Enfim, essa estratégia deu certo para este dia e nas condições em que estávamos, tenho certeza que se encaixaria na prova de muitos amadores, mas isso é história pra outra maratona.

Compartilhe conosco como foi a sua estratégia de prova e deixe um comentário.

Enzo Amato.

As fotos da prova já estão no midiasport, confira a sua! (clique aqui)


Pós maratona de SP 2012

A maratona de SP passou,  se durante o percurso você quebrou ou chegou inteiro não importa, indubitavelmente você superou um desafio físico extremo, que desgasta demais o corpo, e por isso um bom período de recuperação e descanso pode fazer você voltar aos treinos sem o risco de se lesionar.

Seu corpo não é feito só de músculos, por isso eles não podem ser o único parâmetro na hora de retornar aos treinos, tendões, ligamentos, ossos, cada estrutura tem seu tempo de recuperação, e sem dúvida, para nós amadores, descanso demais após provas longas é melhor do que de menos.

Se você quebrou, fale com um profissional de Educação Física, sua estratégia de prova pode ter sido equivocada, a alimentação e hidratação numa prova longa também tem papel determinante no resultado final, principalmente se a umidade estiver alta.

Avalie os prós e contras da sua prova, reveja conceitos, planeje novos objetivos e continue correndo.

Otavio e Enzo pra fechar em 3h37 os 42,2km

Parabéns a todos os 2138 homens e 204 mulheres que concluíram a Maratona de SP 2012.

Leia meu relato de como foi correr a Maratona de SP 3 semana depois de completar meu 7º Ironman!

Enzo Amato.


Maratona de SP 2012

É uma pena a maratona de SP fazer a largada só as 8:30. O trânsito fica caótico a partir de um certo horário e temos que dividir a pista com um congestionamento monstruoso, motoristas nos odiando e xingando, ao invés de torcer e incentivar, poluição, calor e umidade do ar muito alta, pois mesmo estando no outono a previsão para este fim de semana é de tempo bom, para não corredores.

Enfim, deixo algumas recomendações para os heróis do próximo domingo que superarão os 42km só depois do meio dia.

Se é sua primeira maratona, não se deixe levar pelo efeito manada da largada, comece a prova bem mais devagar que seu ritmo médio, para que os batimentos subam aos poucos e se estabilizem bem abaixo do limite, equilibrando o trabalho muscular com o respiratório, depois de uns 2km continue em ritmo bem confortável até passar pela marca de 10km, a partir daí entre no seu ritmo de prova, que no caso de maratona, deve ser bem conservador, e siga nesse ritmo até o fim. Escrevendo parece fácil, mas na primeira maratona você terá sensações muito diferentes das que qualquer outra corrida mais curta pôde proporcionar até hoje, é uma prova de resistência física e mental onde a estratégia da prova conta muito, e errar no começo pode custar muito caro na segunda metade, por isso sugiro cautela nos primeiros 10km, passando por essa marca achando que ainda nem começou a correr. É claro que essa estratégia não vai funcionar para todos, mas cautela é algo que não pode faltar, por isso, se você não vai para buscar um lugar no pódio, use o bom senso.

A maratona mostra sua cara só depois dos 25km, antes disso parece uma corrida qualquer.

É bem provável que a temperatura esteja alta, para uma maratona, e com a umidade relativa do ar também alta, suamos mais que o normal, por isso comece sua maratona já no sábado com bastante ingestão de líquidos, até que sua urina esteja bem clara. Durante a corrida lá pelo km 30, depois que sairmos da USP, que é um lugar arborizado, começaremos a dividir o espaço com o trânsito parado, fumaça dos carros, asfalto, prédios e sol, ou seja, a sensação térmica vai mudar bastante a partir desse ponto, e em hipótese alguma você pode chegar aí desidratado, por isso meio copinho d’água em cada ponto de hidratação, além dos repositores (gel) a cada tanto, são primordiais.

Depois da prova beba muita água e isotônico, e comece a comer assim que possível.

Boa corrida e apesar de tudo, aproveite, afinal de contas você participará de uma maratona!

Enzo Amato.


Brazil Running Adventure Race, por Leonardo Freitas

Conheci o Leonardo momentos antes de largarmos para uma corrida de 80km no Chile em 2010. Até então não sabia que estava conversando com o futuro 11º colocado geral daquela prova duríssima que vivi na cordilheira.

Recentemente soube que ele estava treinando duro em BH, onde mora, para uma prova de 160km no Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses. Deixo o relato completo dessa prova, escrito pelo próprio Leonardo, para o deleite dos que gostam de uma boa leitura de superação física e mental com uma alta dose de aventura. Naquela ocasião, no Chile, também não imaginava que estava falando com o futuro vencedor de uma prova internacional de 160km.

Por Leonardo Freitas

http:/mountaindesert.blogspot.com.br/2012/06/brasil-running-adventure-race.html

 


O que se aprende no 7º Ironman?

Quando se vai para uma prova pela 7ª vez seguida, as pessoas acham que você não fica ansioso conforme os dias vão passando e a prova vai chegando, ou que não sente aquele frio na barriga antes da largada. Sem dúvida se sente! A Fernanda Keller que é um ícone do triathlon, com mais de 50 participações na distância Ironman disse que sente o frio na barriga, e quanto a ansiedade, nosso psicólogo Rafa Dutra sempre diz que – se a auto confiança com relação aos treinos realizados e parte psicológica estiver maior que a ansiedade, essa só tem a ajudar.

Comparo meu 7º Ironman com o aprendizado que tive no último fim de ano quando pude fazer uma linda viagem de trekking nas montanhas, a 70km de Mendoza, na Argentina.

A montanha decide, e o Ironman não deixa barato.

Era um passeio de 3 dias de caminhada onde nos preparávamos para, no último dia, alcançar os 4500m, mas a partir de uma certa altitude o mau tempo era constante e uma forte neblina, frio e chuva encobria o objetivo final. Quem dava a palavra final era o guia, que amparado pela experiência e atualizações climáticas, nos fez abrir mão dos 4500m para chegar a outro pico de 3800m. Em situações como essa, você respeita a mãe natureza, os limites que ela impõe e não arrisca sua vida. Era simplesmente um risco desnecessário, por mais que a vontade de aventura e superação nos alimente, estávamos lá para viver, apreciar e aprender. A montanha estará lá no próximo ano, e no seguinte, e no seguinte. Desta vez ela não nos deixou apreciar a paisagem a partir de um ponto e nos impôs suas condições. Eu pensava que era só chegar lá, superar meus limites físicos e pronto, bater uma foto e voltar, mas nessas condições aprendemos que por mais vontade que uma pessoa possa ter, estamos sujeitos a outros fatores, e simplesmente temos que respeitá-los, tentar superar e aprender ao máximo com essa experiência, que seguramente em qualquer outro dia seria diferente, tanto para melhor, quanto para pior, mas nunca igual. Pude aprender o que aquele dia me ensinou, seguramente cada um dos outros dias ensinou algo diferente para uma pessoa diferente, com outras vivências e experiências de vida.

É essa relação que faço com meu 7º Ironman, aprendi o que aquele 27 de maio de 2012 pôde me ensinar, alcancei meu objetivo de terminar esse desafio extremo e enquanto tinha aproximadamente 9 horas de prova, 210km concluídos dos 226km totais e ainda seguia para meu melhor tempo, comecei a sofrer e aprender as duras lições que um desafio extremo pode te ensinar. Não tinha a sensação da altitude e mau tempo limitantes e visíveis que tinha na montanha, mas o sol havia minado imperceptivelmente nossas energias durante todo o dia. Não é porque você está bem treinado que a distância da prova não vai te cansar, não é porque você quer, que o planejado vai acontecer, não é porque você planejou que o imponderável não vai surgir, não é a toa que essa prova é chamada de homem de ferro, e que muita gente após concluí-la, marca o próprio corpo com o símbolo do Ironman, reconhecido em qualquer lugar. Não é a toa que chegar com o dobro do tempo do vencedor ainda nos achamos, e somos considerados vencedores, mesmo num país onde consideramos o 2º colocado o primeiro perdedor.

Indescritível

Fiz meu 7º Ironman com a mesma determinação, garra, coragem, superação, vontade e apoio familiar que os outros dos 2mil atletas que largaram naquele 27 de maio de 2012 tiveram, mas tenho certeza que se perguntasse para todos, teria 2mil histórias diferentes, e todas incluiriam os adjetivos citados acima, que fazem parte da rotina de um Ironman.

Respeito todos que se aventuram a se dedicar por meses, encarar as lições e transferi-las para a vida profissional, social e familiar, o que um desafio físico extremo pode ensinar. Nos tornamos pessoas melhores, e todo o esforço valeu a pena.

Da esq. Otavio, Witney, Edu, Enzo, Marchi, Léo, Silvio, Rafael, Gustavo. Clodoaldo nos acompanhando à distância.

A leitura sobre os detalhes da prova são muito mais ricos e intensos nos textos dos homens de ferro que treinei desde o início do ano, e que aos poucos coloco no blog. Dentro de cada história temos realmente experiências de vida, que sempre foi meu principal objetivo dentro da preparação da turma. Parabéns!

A eletrizante história do Otavio já pode ser lida.

Leiam e aguardem as próximas!

Enzo Amato.


“O” Ironman do Otavio

Olá galera… Gostaria de compartilhar com vocês, um pouco de como foi o Ironman Brasil 2012. Através dos vídeos (treino 1 / treino 2) do MidiaSport puderam acompanhar um pouquinho da preparação. Agora vou fazer um relato sobre minha prova:

Cheguei a Floripa na quinta feira de manhã, Jurerê já estava bombando.  Era gente nadando, pedalando e correndo o dia todo… Vi gente pedalando perto do aeroporto, para se ter ideia… rsrs… Dei uma corridinha até a feira e voltei, foram 5km de trotinho e mais nada até a prova. Só cuidando da logística, dieta e hidratação.

Chegado o grande dia!!! Despertador toca as 4-00 da manhã… como já é tradição, um beijo na Carol sem acordar. Tomo meu café e espero o Enzo passar para irmos para a Iron City. As 5hs vão chegando um a um, fomos direto para a marcação dos números no corpo.

Hora de fazer o último check up na magrela, colocar a alimentação na camisa de ciclismo e na sacola de corrida. Dentro dos vestiários é possível sentir a vibração da galera, encontrar os amigos e tomar o primeiro gel do dia. Na saída um mundo de flashes pra cima do Enzo Amato Team rsrsrs. Parecia que tinha algum famoso ali rsrs. 6-20 começamos a ir pra praia, procurar as famílias. Ainda bem que deu tempo de achar a minha, pegar as últimas energias positivas da galera e ficar olhando mais um nascer do Sol SENSACIONAL.

Torcida reunida momentos antes da largada.

Já dentro do curral de largada os últimos abraços e lágrimas da galera e é só esperar a buzina pra começar a festa. 7horas em ponto todos os mais de 2 mil atletas se jogam no mar. Minha primeira metade da natação não foi muito boa, muito encaixotado na ida e na volta, ou eu nadei torto ou tinha corrente para a esquerda (de quem volta pra praia), pois estava nadando quase na linha da largada, já na segunda volta mudei a estratégia e sai mais fechado, o que foi bom. Sai da água com 1h-06m, +- o que queria, se bem que, em razão do mar flat, esperava um pouquinho mais, mas tudo dentro do meu plano. Feliz por sair do lado da Fernanda Keller, um mito do esporte.

Achei que havia feito uma transição relâmpago, mas como os minutos ali dentro passam rápido, acabei demorando quase 9 minutos, mais lenta que no ano passado. Mas tudo ok, sai pra pedalar super bem, sempre controlando o ritmo, pois não poderia deixar todas as energias ali na bike. Queria fazer algo em torno de 5h-40m (conservador, mas me daria a chance de buscar meu alvo – sub11). Primeira volta feita, sem vento e calor aumentando no final, mantive a pegada até o início da volta para Jurere, +-  no km125, quando comecei a administrar a média, quando no km130 veio o único momento de medo da prova, o meu apoio do clipe esquerdo quebrou ao passar em um desnível. Não podia deixar aquilo me abalar e terminei o ciclismo meio torto, mas deu pra chegar.

O ciclismo foi bacana, teve uma pequena alteração no percurso, que foi boa em minha opinião. A parte nova, apesar de ter algumas subidas leves e vento na ida, o mesmo vento te empurra na volta e o asfalto é perfeito. Pude fazer uma parte da prova vendo o Enzo e o Edu Coimbra. E torcer pelos nossos me enche de energia, eu adoro cruzar os amigos e a família durante a prova. Faz mais efeito que um gel.

Um detalhe se mostrou decisivo nesta etapa da prova. Na sexta feira que antecedeu o evento, choveu torrencialmente por horas e horas, sem parar. No sábado, fez um dia lindo, com céu azul e temperatura chegando a 27 graus. Para domingo eu já tinha colocado na cabeça que tinha que prestar muita atenção no clima, pois poderíamos ter mais sol, e como choveu na sexta o esperado para 20 dias do mês na região, com certeza teríamos uma alta umidade relativa do ar, dificultando a troca de calor e resfriamento do corpo, aumento de sudorese e conseqüentemente uma desidratação mais rápida e severa. Isso se confirmou logo no início do pedal. Exigindo dos atletas mais atenção quanto à reposição de líquidos e sais, além da nutrição em si.

E mais uma vez, terminei a etapa de ciclismo dentro do planejado, com cerca de 5h35m.

A T2 foi um pouco mais rápida, mas lá se foram mais 5 minutos e meio.  Diferente do ano passado, não tive dores ao final do ciclismo. Saindo pra correr com as pernas ainda leves. A etapa de corrida é muito legal, você tem uma interatividade com o público da prova muito maior, e o melhor pode receber o apoio de todos, principalmente dos que foram até lá por sua causa.

Nos três primeiros kms, procurei me ambientar com a corrida, temperatura, mantendo um pace mais tranquilo, a partir daí, me sentindo bem, entrei em velocidade de cruzeiro e segui assim até o km 22 ou 23. Os tempos da corrida estão meio confusos ainda na minha cabeça, pois logo na saída da T2, meu GPS travou, nem desligar ele desligava.

10km de corrida e parecia novo.

Ainda bem que encontrei o Renzo assistindo a prova, e peguei o cronometro dele. Acredito que passei os 21 entre 1h45 e 1-50, até ai, dentro do programado, para fechar a prova no tempo alvo. Mas a segunda volta e primeira de 10,5 foi muito ruim pra mim. No km 18, por ai, acho que exagerei,  havia tomado um gel, pouco antes, em um posto de hidratação comi meia banana, tomei água e gatorade. Não cheguei a ficar enjoado, mas me sentia pesado e com mal estar. Sabia que o tempo se encarregaria de me fazer voltar ao normal, nada de desespero, mas meu pace caiu consideravelmente. Ao abrir a última volta perguntei pra menina que dava as pulseiras que horas eram, resposta: 5h-06m, ou seja eu tinha 54 minutos para cumprir 10,5km. Ao passar pela família falei pra Carol que estava sentindo câimbras, ela ergueu a mão e disse VAI!

Juro que depois de saber o tempo de prova, por uns 300 metros, pensei  vou trotar e chegar, mesmo assim vou baixar meu tempo, e ficarei feliz. Pouco depois passo pelo Rafa Dutra, nosso psicólogo. Lembrei-me de um treino, na meia maratona de São Paulo, onde havíamos pedalado 120 no sábado, um dia antes. Nesse treino, saí junto com o Enzo e o Jéferson e logo no começo falei pro Enzo: no km 12 eu paro e vocês vão. Pronto, cheguei no 12, meu corpo pedia pra parar, e o Enzo disse: “Claro… você está falando, faz meia hora que no 12 você para, está perdendo pra sua cabeça”. E falei vou até o 15, chegado lá a mesma coisa, depois no 16, 17, 18… até chegarmos ao 21, com meu melhor tempo em uma meia maratona 1h29m. Esse treino foi objeto de uma conversa, no nosso grupo em um dos encontros com o Rafa. Onde, mais uma vez, pude aprender que posso perder pra minha cabeça também. Há que ter força mental, e não só nos braços e pernas.

Passada essa besteira de só terminar a prova, pois não estava ali pra isso, tinha um objetivo. Lembrei de mais uma coisa dos nossos encontros com o Rafa, pensar nas pessoas que amamos… Vieram-me na cabeça as pessoas que estavam ali me dando força durante a prova toda (Carol, minha mãe, minha vó, primo, prima, amigos…) e veio meu pai. Meu maior incentivador em tudo e no esporte, desde que me conheço por gente, nas trocentas modalidades esportivas que já pratiquei e que infelizmente não está mais fisicamente entre nós. Iniciei a última volta como se fosse abraçar ele na linha de chegada. Doía, mas fiz força, ia olhando o pace de quem estava correndo bem, e tentava alcançar, quando passava já procurava outro mais a frente e chegava, não olhava mais os kms , não conseguia fazer contas com o cronometro, sempre esquecia o minuto que havia passado no km anterior, pois estava focado em correr e correr.

Ao chegar na Av. Búzios, a última reta antes da chegada, perguntei a um policial as horas, e veio a resposta: 05h-42m. Não podia acreditar… Vai dar, vai dar… Já não bebia e não comia mais nada… Entro no funil de chegada já meio tonto, e muito, mas muito adrenado, procurava a Carol, estávamos combinados de entrar juntos, e não a achava. Pensava que estaria mais à frente, e mais à frente e nada, acabou o funil… Cadê?  Até que escuto um grito atrás de mim, olho e é ela correndo. Peguei na mão dela e gritava sei lá o que e a abracei e beijei todo sujo, suado e já não tão cheiroso. Carol, obrigado por ter me proporcionado essa chegada louca que ficará na minha memória pra sempre. E quando olho pra trás minha mãe esta ali… foi demais… 10horas e 57 minutos.

Chegada emocionante e espontânea

A chegada deste ano foi totalmente diferente da do ano passado. Em 2011 eu estava muito inteiro no fim da prova, se é que é possível, com o raciocínio perfeito, esperando os atletas passarem pra sair na foto e ao cruzar a linha fiquei meio abobado, não sabia o que fazer, se ria, se chorava, fiquei meio atônito, muito feliz, mas foi até um pouco estranho rsrs.  Já esse ano não, cheguei perto do meu limite, já não estava com o raciocínio 100%, meio tonto, com formigamento nas mãos e boca, gritando como um maluco, exausto, chegando ao lado de outros atletas. Em resumo a adrenalina tomou conta desta chegada e foi DEMAIS!!! Não me lembro de uma palavra do que falei para a Mariana do MidiaSport que me esperava logo após a chegada para um depoimento, tomara que nada de “feio” rsrsrs.

Obrigado a todos que me apoiaram e torceram nessa jornada. Especiais para Enzo Amato: mais uma vez você acreditou e acertou na preparação e concretização desse meu sonho, Rafa Dutra: também fundamental para que eu pudesse alcançar o objetivo, Vanessa Pimentel: minha nutrição foi perfeita, li muitos relatos de gente passando muito mal nessa prova, com coisas que nunca haviam acontecido antes para elas, Paulo Paszko: no inicio da preparação eu estava lesionado e pessimista até, mas cheguei tinindo na prova e Pessoal do MidiaSport: guerreiros nas coberturas da subida da Serra de Campos e na Estrada Velha, ainda bem que na prova o tempo ajudou. O trabalho de vocês vai ficar pra sempre guardado.

Muito obrigado à minha família e amigos, pela compreensão, apoio, torcida, amor, etc… Carol, obrigado por me aguentar esses meses todos, por me dar apoio, me incentivar, torcer, ser companheira. Sem você não teria conseguido!!! Mãe, mais uma vez, também obrigado por tudo, te amo. Obrigado ainda ao meu Pai, pois sem ele, também jamais estaria aqui hoje curtindo essa alegria.

Obrigado

Tatá Ironman!