Veja como foi, aos olhos do Otavio, seu primeiro Ironman.
ME TORNEI UM IRONMAN!
Por Otavio Lazzuri O. Bonicio
Dia 29 de maio de 2011. Para chegar nesse dia, muitos outros se passaram dias bons e dias ruins.
Há pouco mais de um ano, depois de assistir os amigos, resolvi que iria encarar o desafio e fazer o Ironman Brasil de 2011. Conversei com a família, namorada, amigos e todos me deram apoio, mesmo eu sabendo direitinho o que passava na cabeça de cada um deles: “pra que vai fazer isso? Deve estar louco!”. Confesso que até para mim pareceu mesmo ser uma loucura!
Tudo começou com um grande sonho, que aos poucos foi se tornando realidade. Fiz uma boa base para isso. Como disse: vi de perto e participei de muitos treinos da turma que fez em 2010 e fui assistir a prova, o que me ensinou muito. Cerquei-me de pessoas competentes (técnico, psicólogo e nutricionista). Procurei adquirir os melhores materiais que estavam ao meu alcance. Fazer os exames médicos necessários, para que nenhum imprevisto desastroso me atrapalhasse.
Feito isso, os treinos efetivos tiveram início em janeiro. Eram treinos de mais velocidade e menos volume, que foram aumentando o volume até abril, quando chegamos aos treinos de 200km de bike + 35km de corrida, onde o objetivo era ganhar bagagem de tempo, independente da velocidade, sempre divididos no sábado e domingo.
Pode parecer muito, mas tenham certeza, quando se está diante de um desafio como IRONMAN, sempre achamos que estamos treinando pouco. Os treinos eram sempre divertidos e bem humorados, apesar de às vezes muito duros. Só não consegui completar a subida da Serra de Campos, parei em Sto. Antonio do Pinhal. A equipe do Enzo, e o próprio, me acolheram muito bem, como um novato, passando todo o conhecimento e apoio necessário.
Pré prova: Os dias que antecederam a prova foram de ansiedade, porém devidamente controlada com os trabalhos do Rafa Dutra (nosso psicólogo). A dieta não foi nada agradável, a Vanessa judiou, tínhamos que consumir ou gastar todo o glicogênio muscular, para isso dieta com 90% de proteína e treinos sem comida, só na água. De quinta pra frente o contrário muito carbo!!! Mas deu tudo super certo.
Fui para Floripa na quinta feira, fim de tarde. Fui sozinho, mas estava muito bem acompanhado (meu PAI). Meus tios e minha avó já me esperavam com uma bela surpresa que minha namorada mandou fazer.

Desembalei a bike, tudo regulado!!!
Sexta feira foi dia de encontrar os amigos: Enzo, Witney, Evandro, Edu Virtual… Dar uma passada na Expo, dar um rolê com a magrela, jogar conversa fora com os colegas que só encontramos nas provas… E de noite o bom jantar de massas, como foi meu primeiro, não tinha parâmetros, mas tirando o frio, foi ótimo.
Sábado de manhã, um belo café e rumo ao aeroporto pegar Carol, Mãe, Rafa e Gustavo, todos muito bem acomodados no super Celta sem direção.
Almoço em casa, e os preparativos de verdade começam: tudo arrumado nas sacolas de Run e Bike, bora para o Bike Check-in e entrega das sacolas. Deixamos as coisas lá, sai com um sentimento de estar pelado sem a bike do lado. A ansiedade aumentava… Última reunião com o Rafa, foi sensacional escutei coisas sobre mim que me deixaram ainda mais forte. Sabia que além do meu esforço pessoal, teria uma proteção mais que divina, que faria com que eu não parasse nunca. A reunião durou mais do que o previsto, cerca de duas horas. A Vanessa estava lá para fazer a última medição do percentual de gordura.
De noite um jantar com direito a festival de massas com a família reunida, Evandro e sua mãe. Já em casa os últimos preparativos – batatas com sal e bisnaguinhas com geléia, tudo embalado em papel alumínio, duas caramanholas com endurox + destrose + hipercalórico, separados 15 saches de gel GU para bike e corrida + cápsulas de sal e potássio.
Milagrosamente, encostei na cama e desmaiei.
Dia D: Acordei as 4-15 em ponto, dei um beijo na Carol sem acordar (eu acho), saltei da cama, tomei meu café reforçado, me vesti e fui esperar o Enzo que passaria em casa. Ainda pegamos o Edu e fomos para a Iron City.
Rostos transformados, alegria e ansiedade misturadas com adrenalina. Encontramos com o pessoal, que estava reforçado do Liminha, Douglas e Givaldo.
Fomos para a pintura, estava frio, mas a tremedeira era outra coisa rsrsrs, emoção pura.

Entramos na transição, fui colocar a caramanhola e os géis na bike, dar a última calibrada nos pneus, checar mais uma vez as sacolas. Faltando mais de 45 minutos, todos nos reunimos no “vestiário” para colocar a roupa de borracha. Fiquei impressionado com a vibração daquele lugar. Era pouco mais de 6hs da manhã, fazia muito frio, todos que estavam ali iriam encarar um Ironman (3.8km de natação, 180km de ciclismo e 42,2km de corrida) e todos estavam absurdamente felizes, pilhados, adrenados, sei lá, não consigo achar o termo correto que descreva aquilo.
Saímos da transição rumo à praia, faltando 30 minutos. Procurava por todos os cantos o “meu pessoal” e nada. Caracas, cadê eles? Queria pelo menos um olhar antes da largada. 15 minutos… já na praia, indo para o gate de largada que se fecha faltando 10 minutos, eis que me deparo com faixas enormes com o meu nome e mensagens de incentivo. A emoção extrapola e se manifesta através de lágrimas de felicidade.
Pronto, tudo devidamente feito. Agora é curtir essa voltinha por Floripa. Primeiro vamos conhecer o mar…
NATAÇÃO:
Como nada é fácil para um Ironman, o mar parecia mais complicado do que nos dias anteriores, mas ao som do tiro de largada parece que tudo ficou mais fácil, a água não estava tão gelada, as águas vivas não queimavam, a corrente ajudava. Achei que seria um verdadeiro combate do UFC durante a primeira metade, mas consegui me encaixar bem.
Perto da primeira bóia, o mar estava bem ondulado, mas não senti corrente contra. Já na segunda metade o mar estava puxando bastante para a direita e as ondas deixavam tudo muito mexido. O ato de nadar já não fluía mais normalmente, tinha que prestar atenção pra não fugir da rota e não beber água. Nos vídeos pude acompanhar muita gente se deixando levar pela corrente e indo parar nas pedras. Gafe dos surfistas e caiaqueiros!
Sai da água e vi que meu relógio estava travado, deve ter batido em alguém. Mas o relógio do pórtico marcava 1-09. Dentro do meu planejado entre 1-10 e 1-20.
Fiz uma transição bem calma, pois ficaria mais de 6hs até voltar ali.
BIKE:
Sai muito bem para pedalar. O dia estava realmente lindo, clima perfeito. Sai mais fraco para meu corpo se adaptar, respeitei 15 mim sem ingerir nada e procurei me aquecer, pois minhas pernas estavam frias.

Antes que pudesse me aquecer, no km 07 tive um furo. Que legal!! Primeiro Iron e primeira vez que vou trocar um pneu tubular. Foi difícil soltar a cola, o árbitro não podia me ajudar. Até com os dentes tentei descolar o desgraçado. Achei um pedaço de pau e consegui… troca feita chega o mecânico, que só deu a última calibrada e disse: “espero não te ver mais!”. Achei estranho, mas seria bom mesmo!
Pensei: ok! Estou na prova de novo. Mas o fato de ter que deixar um objetivo pra trás não ia me fazer bem. E fugindo ao que tinha aprendido com o Rafa, fui atrás do meu tempo, sem me reprogramar. Queria passar os 90km em 3hs, nada ousado, totalmente possível e lá fui. Fiz força e cheguei nos 90km com 3-01, incluindo os 14` perdidos na troca do pneu. Fiquei feliz demais. Vi o pessoal em um trevo na estrada, recarreguei as energias. Era muito fácil de eu achar eles… as faixas eram muito bonitas, chamou atenção da prova toda!
Quando achei que seria possível manter o mesmo ritmo e fechar pra 5-45, fiz o retorno e tomei um “soco” no peito. Era o vento, mas não um vento qualquer… ele vinha de todos os lados e com força. Decidi baixar a cabeça, ficar aero e pedalar com eficiência, pois do contrário poderia comprometer minha corrida.
Foi assim até o fim, fui procurando os amigos que iam à frente, e com isso meu tempo passava.
Alimentei-me muito bem durante a bike: foram 4 batatas médias com sal, dividias ao meio (8 porções), mais 8 bisnaguinhas com geléia, dois doces de abóbora e 5 géis GU + 01 caramanhola com shake de hipercalóricos. Comia a cada meia hora e a cada 15 minutos me hidratava.
Cheguei à transição, mais uma vez fiz tudo com calma e sai pra correr.
CORRIDA:
Quando coloquei os pés no chão, disse pra mim mesmo: agora eu não paro nunca mais! Na natação não podemos contra as intempéries do mar, na bike estamos sujeitos a quebras mecânicas, tombos, etc… Mas na corrida sou eu comigo mesmo. EU sou a máquina e não vou quebrar!
Sai pra correr bem. Levei 04 saches de Gu, 01 doce de abóbora e cápsulas de sal + potássio. Ritmo bom no início e foi assim até o fim. Andei somente na subida de Canasvieiras.
Na bike perdi muitas posições, pelo pneu e pelo pedal mesmo, mas na corrida passei muita, mais muita gente mesmo. Isso me fazia sentir que estava bem e dava força pra continuar correndo. Quando passava perto da Iron City, via o pessoal com as faixas, pára pra dar um beijinho e continuava firme.
A meia maratona saiu boa, me sentia leve, pernas soltas, dentro do ritmo de treino. Na segunda volta peguei um argentino que já iria finalizar a prova e fiz quase os 10,5km inteiros com ele, tinha um bom pace. Nos últimos 10,5km foi só alegria já escurecia e eu só pensava na chegada. Olhei para o relógio pra ver que horas eram, pois até então eu estava só com as parciais, não tinha feito as contas. Vi que a maratona sairia sub 4h e que chegaria antes das 11hs e 30m de prova, se mantivesse o pace.
Foi o que aconteceu, 11h 25minutos e 21 segundos depois de largar, cheguei no funil onde tinha muita, mais muita gente mesmo!!! Achei a Carol e minha mãe e fomos os três de mãos dadas até a chegada. Eu juro que não acreditava que estava ali, que tinha chegado até a linha final tão bem. Foi uma explosão de emoção e sentimento de dever cumprido que me deixou pasmo, meio bobo, sem saber o que fazer, mas com direito a cruzar a linha com a Carol no colo!!! rsrsrs

O dia foi perfeito: acordei triatleta, vi o sol nascer à direita, passar por cima da cabeça, se por à esquerda, a noite chegou, a prova terminou e fui dormir um IRONMAN!
AGRADECIMENTOS:
Gostaria de agradecer muito a todos que me ajudaram nessa jornada, à família e amigos que apóiam e entendem a ausência, aos colegas de trabalho que sempre me ajudaram com os horários malucos. Aos meus amigos de treino, pela força que sempre me deram. Vanessa nutricionista. Rafa Dutra nosso mentor psicológico. Em especial ao Enzo, pois quando fiz a inscrição no ano passado eu disse: agora se vira pra me fazer chegar, e ele fez!
Quero agradecer muito à minha mãe e meu pai, que sempre me apoiaram em tudo!
Carol, minha Irongirlfriend, pois não é fácil agüentar os horários malucos, jantares estranhos para uma sexta ou um sábado. As longas horas de ausência, finais de semana sem praia ou chácara. Acompanhar nas provas, tomar chuva e frio no Rio, calor em Santos, ir pra Floripa e voltar às 6h da matina da segunda!
Muito obrigado a todos!
Para finalizar: VALE A PENA! NÃO SEI COMO EXPLICAR… É DIFÍCIL, MAS NÓS TORNAMOS FÁCIL! QUE VENHA 2012!