Era pra ser o treino mais legal da preparação para o Ironman Brasil 2012, mas como todo esporte praticado ao ar livre, dependemos da mãe natureza, e desta vez ela resolveu cobrar caro pelo treino.
Me encontraria com o pessoal as 4:45, aqui em frente de casa, mas nem precisei de despertador, uma tempestade caiu forte e os raios logo me fizeram levantar. Era desanimador, a frente fria se adiantou e já de madrugada trouxe a chuva. Segui a rotina normal, tudo já estava pronto, só precisava tirar as comidas e bebidas da geladeira e passar para o isopor, tomar café e esperar a galera.

Madrugada, era só o início.
4:45 a chuva deu uma trégua, o Diogo começou a arrumar as bikes na carreta enquanto o pessoal jogava conversa fora. A arrumação das bikes leva um certo tempo, pois a carreta balança muito durante o trajeto e por isso, uma deve ficar bem protegida da outra para que nada rasgue ou risque. Saímos às 6 e logo a chuva voltou, paramos num posto na Ayrton Senna para encontrar com o pessoal do Midiasport que faria nosso vídeo e algumas imagens durante o treino. Pesei os atletas para poder avaliar, junto com nossa nutricionista, quanto eles se desidratam durante um treino longo. O plano era começar a pedalar a partir de Mogi das Cruzes e chegar até Campos do Jordão totalizando 115km. Tivemos que mudar os planos logo no início. A chuva era muito forte e a neblina reduzia muito a visibilidade dos carros e caminhões, ficaríamos muito vulneráveis na estrada, comprometendo a segurança de todos, por isso a ideia foi prolongar um pouco mais o trecho dentro da van até o próximo posto.

Na esq. Edu, Enzo, Silvio, Gustavo, Witney, Otavio, Clodoaldo, Léo, Rafael, Marchi e Diogo
Ao chegar, estávamos dispostos a começar, pois já passava das 9, quando de repente a chuva diminuiu até cessar. Nessa altura o treino fora passado de 115, para 75km, mas isso não me preocupava, a parte principal eram os 18,6km finais da serra de Campos, lá o pessoal faria muita força, independente do que tivesse pedalado antes.

Ainda sem saber o que vinha pela frente
Céu escuro em alguns momentos, pista molhada, mas sem problemas, seguimos animados até o pé da serra para reunir o grupo novamente e começarmos juntos a subida.
Nesse momento a mãe natureza resolveu trazer a chuva de volta e deixar uma lição que seria aprendida só no final. Começamos a subir enquanto muita água descia pela pista, em alguns trechos virava enxurrada e nem a dor constante da subida nos deixava esquecer ou vacilar com o percurso traiçoeiro e liso. Subimos com muita garra e energia para vencer a longa subida. Ser um Ironman exige determinação e por mais que o treino parecesse curto na distância, ele era muito desafiador e exigiu, dos mais rápidos, exatamente 1h18 só para subir os 18,6km, outros precisaram de mais de 2 horas e era nítida a vontade de chegar de cada um.
O Clodoaldo, Diogo e eu fomos os primeiros a chegar ao topo, paramos com a intenção de esperar os outros, mas 5 minutos parados debaixo da chuva, que não parou desde o início da subida, foram suficientes para começarmos a tremer de frio. Comemorávamos a subida conquistada, mas não parávamos de tremer. O combinado era descer parte da serra para nos reunirmos num mirante, mas só de pensar em descer, tomando vento na cara e sem poder aquecer o corpo, nos dava medo. O Diogo nos emprestou a jaqueta, uma camiseta longa e demos meia volta, na descida cautelosa tivemos força para incentivar os outros que ainda subiam e não sabiam o que os esperava. Ao chegar no mirante fomos obrigados a entrar num dos trailers para nos aquecermos ao lado do fogão, enquanto o chocolate quente era preparado, não parávamos de tremer e por mais que me preocupasse com a turma, não tinha condições de ajudar, naquela hora eu que precisava de ajuda. Vi que todos chegavam ao ponto de encontro, muitos usavam as roupas que pretendem usar no dia da prova, nada para o frio, logo em seguida a van chegou e rapidamente todos buscaram por roupas secas e agasalhos, depois de alguns minutos, com os pensamentos no lugar, fizemos a segunda mudança de planos, resolvemos encerrar o treino. Nos faltava chegar a Sto. Antônio do Pinhal para correr 15km onde 9 eram de forte subida até o pico agudo por estrada de terra, provavelmente a van não conseguiria subir e ficaríamos mais expostos ao frio e a chuva, arriscando mais a saúde. Uma semana atrás havíamos feito 30km de corrida enquanto outros fizeram meio Ironman, portanto os 15km não nos ajudariam muito, pelo contrário, naquelas condições só atrapalharia, era um treino para curtir a paisagem e fazer força. Se optássemos por correr, a paisagem ficaria na imaginação, pois com aquela chuva o céu estava completamente fechado, e força podemos fazer durante os treinos da semana.

Bikes na carreta e pessoal almoçando.
Em consenso decidimos ir até a pousada com a van, tomar um banho quente e almoçar. Por mais que um Ironman seja duro na queda, não podemos lutar contra a natureza, pois somos parte dela, tenho certeza que tomamos a decisão mais acertada, e hoje temos mais uma história de superação pra contar, um aprendizado, e estamos todos bem.
Falta mais um longão antes do Ironman!
Enzo Amato.