El Cruce Columbia

Ter participado do El Cruce Columbia 2010 foi uma das melhores e mais bonitas experiências em provas de corrida que já tive, e não podia deixar de registrar e recomendar!

A prova é para pessoas resistentes, cujo corpo já esteja adaptado a corridas longas. São 3 dias de prova, com percursos definidos, que totalizam aproximadamente 100km. A cada ano a organização modifica o percurso e isso faz com que ela sempre seja uma novidade.

Contêiner de cada dupla no chão e local da entrega de kits. O charme da montanha vai de brinde.

Em 2010 a cidade sede era Bariloche, no dia anterior pegamos o kit e passamos por todas as mesas de checagem, distribuição de brindes etc… Com tudo na mão era hora de  voltar para o hotel e separar o que ia no contêiner da dupla, que seria usado nos 3 dias de corrida, e o que ficaria nos esperando no hotel até que retornássemos a Bariloche. O equipamento e roupas do primeiro dia fica com você, claro.

Itens como toalha, roupas de corrida para o 2º e 3º dias, roupas de frio para depois da corrida e as noites na barraca. Garfo, faca e prato estavam no kit da prova, incluí no contêiner suplementos e géis para os 3 dias… Aquele foi o primeiro ano que choveu e fez frio, mas uma calça de moletom, uma segunda pele e uma jaqueta são suficientes, papete para arejar os pés, gorro e luvas também me ajudariam muito após cada etapa. Entregamos o contêiner no caminhão, que por sua vez, levaria-o para o 1º acampamento, e assim em cada etapa até nosso regresso. Ouvimos as orientações dos organizadores, tiramos dúvidas e esperamos pelo jantar de massas e a corrida no dia seguinte.

Começamos o primeiro dia de corrida com vários ônibus levando os atletas para o ponto de largada, corri na categoria duplas com o Magno, que tem várias corridas de aventura nas costas, iniciamos em ritmos diferentes, ele mais afoito para ultrapassar outras duplas e eu mais tranquilo sabendo que correr 3 dias consecutivos seria duro. Logo consegui convencê-lo de ir mais devagar e rapidamente a euforia da largada passou e começamos a curtir a prova, nós dois levávamos uma câmera de foto no bolso rápido da mochila e não perdíamos oportunidades de nos auto-filmar e comentar o que sentíamos, por onde estávamos passando e tentar mostrar o esplendor do visual selvagem da patagônia argentina.

Barracas dos atletas, tenda de comidas à direita e visual

Naquele ano o 1º dia foi de 30km e levamos pouco mais de 4h para completá-lo, estávamos muito bem, mas ainda tínhamos que montar nossa barraca, atualmente a organização monta todas as barracas, que eles mesmos fornecem, e isso sem dúvida facilitou muito a vida dos corredores, que tem mais tempo para interagir e não precisam mais montar ao terminar de correr, e nem acordar cedo para desmontar antes de começar a próxima etapa. O acampamento daquele dia era a casa de campo, de alguém muito rico, as 200 barracas ficaram num gramado cercado de montanhas e um rio de água cristalina, a tenda de comidas era bem servida e o churrasco argentino nem se fala, minha dieta aquele dia contrariou os bons costumes de atleta e serviu mais de 400 pessoas famintas.

Churrasco para corredor

Uma daquelas montanhas era o percurso do próximo dia que, após uma longa noite de chuva, amanheceu chovendo, começamos o dia molhados e enfrentando lama e garoa, metade do percurso de 23km era de subida forte e a outra metade descida. Ao completar a etapa os contêineres não haviam chegado ao 2º acampamento porque os caminhões não conseguiam passar pelas estradas de terra, enquanto nós atletas esperávamos ansiosos e com frio, ao lado de uma fogueira, por nosso material, só um caminhão conseguiu chegar, e depois de muito tempo. Montamos nosso acampamento só no fim da tarde e logo fui tomar um banho da gato no rio. Enquanto esperávamos não faltou comida na tenda e os churrasqueiros nos preparavam a carne na chuva. A organização fez o possível e montou um outro acampamento improvisado levando alguns atletas até lá junto dos seus contêineres.

Mesmo tentando de tudo, nesse dia muitos atletas resolveram abandonar a prova, cansaço acumulado aliado à essa situação, onde a mãe natureza nos colocou a prova, deixou alguns corredores desanimados e exaustos mentalmente. Acordamos no terceiro dia, desmontamos tudo e nos juntamos com os outros corredores no acampamento improvisado há 3 km de onde dormimos, de lá começamos a 3ª etapa de 33km basicamente plano, se comparado ao dia anterior. Mais algumas horas de prova dura, trilhas, fazendas, paisagens e as placas avisando que nos aproximávamos da fronteira com o Chile e que a mais bela prova que havia feito chegava ao fim. Completamos cansados e emocionados de tanto correr, mas não de apreciar as paisagens de uma prova inesquecível.

Chegada do 2º dia

Curiosidades:

Usei o mesmo par de tênis nos 3 dias, já começava o dia com eles molhados, e mesmo que os trocasse, sempre havia um rio para cruzar, por isso de qualquer forma, ter cuidado com os pés é fundamental.

Banho, só se for de rio, e com água bem fria. De forma alguma use sabonete ou xampú, para não contaminar a água. É banho de gato mesmo, use uma fralda de pano para se esfregar, ou esqueça o rio e use lenços umedecidos na barraca (apenas alguns atletas tomam banho)

Comida era a vontade, refrigerante, isotônico, água, salada, carne de vaca, frango, linguiça e empanadas. Nunca comi tanto e tão bem numa corrida.

Leve seus equipamentos de corrida em trilha, sem novidades!

Lanterna de cabeça, de led, com pilhas novas.

Os bastões de trekking são indispensáveis em provas desse tipo, quando fui levei um só e me ajudou muito, pensei que os dois pudessem me atrapalhar por não estar acostumado, mas acho que teria me adaptado da mesma forma. No 1º dia você talvez não note diferença ao usá-lo, mas daí pra frente eles aliviam muito a carga nos joelhos e nas costas. Sugiro que utilize desde o início. Isolante térmico, além do saco de dormir é essencial. O tamanho da minha mochila era de 20L com a bolsa de hidratação de 2L, mas uma mochila de 10 ou 15L teria resolvido e seria mais leve. Ela só será usada para o corta vento, os equipamentos obrigatórios, a água, garrafinhas e barrinhas. Além do reservatório, é importante ter uma garrafinha ou caramanhola para ter mais fácil acesso, já que em várias oportunidades você passará por rios, de água potável, e a garrafinha é muito mais fácil, rápida e prática para encher. Vale perguntar aos organizadores no dia anterior se tem rios no percurso.

O gel eu tinha 3 sachês numa garrafinha pequena, aquelas de 50 ou 100ml, para não carregar lixo e nem perdê-lo na trilha, assim ele fica mais fácil de tomar sem precisar desviar sua atenção da trilha para rasgar sachês. Acredite, é perigoso torcer o pé numa bobeada dessa! Tinha algumas barrinhas também, basicamente de carboidratos, porque proteína você vai comer bastante após cada etapa no churrasco.

Para a “Recuperação” pós etapa, alguns atletas entravam no rio, que era água de degelo, imagine a temperatura, e ficavam com a água até acima dos joelhos por alguns minutos, eu não fiz isso e me sentia muito bem, apesar de cansado.

Vá num ritmo confortável no 1º dia, pois ao iniciar a 2ª e 3ª etapas você estará com dor muscular, mas logo ela passa e a corrida volta ao normal. Se existir alguma lesão você terá que lidar com ela como for possível. Com dor muscular não se faz alongamento!! Começar a correr bem devagar é o melhor aquecimento.

No acampamento pude recarregar meu relógio, conversar com corredores de outros países, basicamente América do sul e alguns europeus.

Mesmo com o acontecido no segundo dia, considero a organização ótima. Quando corremos na natureza, somos parte dela, e naquele ano ela quis nos testar um pouco mais, e a organização fez o possível para nos atender, era visível o esforço e dedicação deles. Um dia quero voltar!!!

Enzo Amato.


Livros esportivos e aventureiros.

Adquirir o hábito da leitura era algo que eu buscava, mas tinha dificuldade em deixar virar rotina, mas finalmente consegui, hoje não tenho TV no quarto e ao deitar consigo ler por alguns minutos, todos os dias, antes de dormir.

Os que mais me atraem são livros de aventuras esportivas e de preferência os que já foram vividos de verdade, as biografias. Dentre os poucos que já li até agora, entram na lista livros que envolvem e prendem a atenção, seja pelo planejamento ou pela imprevisibilidade com que podemos chegar a uma situação e ter que lutar pela própria sobrevivência, passando pelo imponderável e a superação, que é o tempero de qualquer aventura.

  • Milagre nos Andes – Nando Parrado. A história real vivida pelos passageiros de um voo que chegaria no Chile, mas caiu na Cordilheira dos Andes. Apesar de já saber o final e ter assistido ao filme, o livro trás tantos detalhes surpreendentes desses 72 dias, que  simplesmente não dá tempo de contar num filme. É um dos meus preferidos!
  • No ar rarefeito – Jon Krakauer. Jornalista americano que na temporada mais mortal no Everest, a de 1996, era cliente de uma das expedições e relatou tudo o que viu e viveu.
  • 100 dias entre céu e mar – Amyr Klink. Na minha opinião, o maior aventureiro brasileiro, dentre suas inúmeras aventuras solitárias por lugares inóspitos do planeta. Esse livro trata da sua viagem solo num barco a remo da África ao Brasil.
  • Mar sem fim – Amyr Klink. Esse livro trata da sua viagem, também solo, em 1998, ao redor da antártica.
  • A incrível viagem de Shackleton – Alfred Lansing. Em 1914 na tentativa de chegar ao polo sul o navio foi destruído e Shackleton, seu capitão, liderou a maior aventura para tentar salvar a própria pele e a de seus homens.
  • O mundo ao lado – Arthur Simões. O autor passou 3 anos viajando pelo mundo de bicicleta, passou por cada situação que isoladamente daria um livro, descreveu alguns dos lugares e culturas que eu já conheço de forma fidedigna e me convenceu de que alguns, dos muitos outros lugares pelos quais ele passou, não preciso chegar a conhecer profundamente. Realmente uma experiência de vida, e quase morte.
  • Nascido para correr – Christopher McDougall. Para quem gosta de correr, esse livro quebra paradigmas e te faz querer sair do sofá para dar uma corridinha.
  • Existem crocodilos no mar – Fabio Geda. A aventura real de um menino que, depois de ser abandonado pela mãe, levou 5 anos para cruzar a Ásia, sem dinheiro, e chegar a Itália.
  • Marco Polo – De Veneza a Xanadu – Laurence Bergreen. Um comerciante, que considero desbravador e aventureiro, passou 24 anos viajando pelo oriente médio até a China, serviu ao imperador Kublai Khan, neto de Gengis Khan, e regressou a Veneza.
  • 50 maratonas em 50 dias – Dean Karnazes. Como o título diz, ele correu 50 maratonas em 50 dias seguidos, uma em cada estado americano.

Vale a pena pesquisar e ler a resenha de cada livro citado acima porque minha breve opinião é particular e pode não coincidir com a sua.

Boa leitura não vai faltar, aproveite!

Se você leu um bom livro de aventura, deixe a dica para outros leitores.

Enzo Amato


Correr no calor, extremo!

Sempre que quero comparar algo, tento pensar nos opostos extremos e a partir daí estabelecer o que me importa de verdade, o que tem mais peso dentro do que vou enfrentar e o que é mito.

O Davi já explicou, lá do Canadá, com grande riqueza de detalhes a corrida no frio extremo, agora explico o oposto, correr no calor, escrevi enquanto estava lá na Argentina, numa cidade chamada San Juan, perto da cordilheira, com temperaturas que diariamente beiram os 40° no verão, aridez, sol a pino e umidade relativa baixíssima. E acreditem, a maioria das pessoas sai para praticar esportes na hora da siesta, às 14 horas. Então também fui, e reparei no seguinte.

Céu parcialmente nublado, rsrsrs, chuva é raridade por lá.

O primeiro ponto é entender como o corpo reage ao calor.

Em pouquíssimas e singelas palavras, nosso corpo produz calor para manter-se vivo, e mais ainda para executar movimentos, como a corrida. Quando a temperatura interna se eleva o corpo sua, o suor molha nossa pele e a brisa faz com que essa combinação baixe a temperatura corporal, até que o ritmo do exercício, temperatura interna e externa entrem em equilíbrio aceitável, e permitam que você corra sem problema.

Normalmente no Brasil não passamos por temperaturas extremas, ou grande amplitude térmica, mas é impossível escrever de forma geral para pessoas que moram em Belém, Brasília ou Porto Alegre, por isso cada um deve adaptar o texto a sua realidade, seu tom de pele e resistência ao calor.

Ao iniciar a correr é importante começar bem devagar para que o corpo possa regular a temperatura corporal de acordo com o ambiente, e aos poucos, equilibrar com a intensidade do exercício. Outro detalhe importante que percebi, que de tão importante deixa de ser apenas detalhe é que durante a corrida foi impossível chegar a minha velocidade normal de treino que costumo fazer em SP, ou seja, por mais bem treinado que eu estivesse o ambiente é que determinava em que ritmo eu poderia correr naquele dia. Lutar contra isso seguramente acabaria com minha corrida antes da hora.

Claro que tudo depende de quanto tempo se vai correr, num trote de meia hora é provável que eu só sentisse calor, mas para algo mais longo ou uma maratona todo cuidado é pouco, pois os descuidos do início são cobrados com juros no final, a ponto de comprometer a saúde.

Os pés ferviam, fiz questão de colocar as mãos no asfalto, na linha branca e na terra, suportei só por alguns segundos, mas a terra era bem menos quente que os outros dois. É importante que se use boas meias e proteção embaixo dos pés, como esparadrapo ou vaselina para evitar bolhas, pois a pele fica muito sensível e frágil, principalmente com subidas, descidas e mudanças de direção, comuns em corridas em trilha, por ter mais atrito do pé com o tênis. Tênis que ventilem e de preferência de cor clara, os impermeáveis esquentam mais os pés.

Protetor solar próprio para esporte, ideal passar também em todo tronco, pois a maioria das camisetas não protege contra o sol. Quem tem pele muito clara e sensível sabe disso.

Protetor labial, pois a boca é mais sensível que a pele, e herpes labial é frequente no calor.

Camiseta de cor clara e de tecido próprio para corrida, que facilite a eliminação do suor, material ideal é a poliamida, basta ver na etiqueta.

Óculos de sol e que protejam as laterais também, pois da mesma forma que sua pele queima com o sol, a retina também queima e precisa da proteção de um bom óculos de sol.

Boné, também de cor clara, ideal se for do tipo legionário, que protege as orelhas e nuca.

Água, em lugares muito secos como esse que eu estava, além de beber você pode usar para molhar as narinas para o ar chegar um pouco mais úmido para os pulmões.

Ter documento e dinheiro num plástico para não molhar, poder comprar água se preciso, ou mesmo te identificar em caso de acidente.

Pude perceber que quanto mais protegido você estiver, menos chances terá de sofrer com insolação, queimaduras, bolhas, assaduras desidratação etc… Por isso estar preparado pode fazer a diferença.

Se ficou alguma dúvida ou se me esqueci de algum item importante, escreva e compartilhe com os leitores.

O ser humano se adapta a tudo, calor ou frio basta ir prevenido e aproveitar seu hobby.

Enzo Amato.